Justiça - Família da vítima pretende processar a Polícia Militar
Assim que começou o tiroteio, a manicure Janeth Lacerda de Lima correu em direção à casa vizinha para ver se nada havia acontecido com o pai. Era tarde. Antenor Nunes já estava estirado no chão, com um tiro no abdome. "Saí gritando da casa dele, pedindo pelo amor de Deus para os policiais pararem de atirar porque meu pai estava morto."
Com a foto do pai em mãos, Janeth lembra do esforço de toda a família para ajudar Nunes a vencer a leucemia que o atingiu há dois anos. O aposentado ia de 15 em 15 dias fazer quimioterapia no Hospital Evangélico. "A gente lutando contra o câncer e perco o meu pai em uma ação violenta dessas", diz Janeth.
Na segunda-feira (3), o dia foi de mais dor para a família. Além do enterro, às 10 horas no cemitério do Santa Cândida, o marido de Janeth, Lademir, saiu em busca de um advogado para representá-los. "Vamos processar a polícia. Não é possível que os policiais sejam tão irresponsáveis de atirar em direção de casas de pessoas de bem, onde havia crianças", ressalta. (MXV)
Inquérito
O chefe da comunicação social da PM, tenente-coronel Jorge Costa Filho, afirma que todas os possíveis abusos serão investigados pelo IPM. O prazo para conclusão é de 40 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 20. "Se forem comprovados abusos por parte dos policiais militares, o inquérito será entregue ao Ministério Público Estadual", afirma Costa. Até lá, os policiais envolvidos na ação ficam cumprindo serviços internos.
As armas dos policiais também foram recolhidas para análise. O exame de balística, junto com a autópsia do corpo de Nunes, apontará de qual arma partiu o disparo que o matou: se da polícia ou de um dos rapazes.
A morte do aposentado Antenor Nunes, 82 anos, não deve ser o único foco de investigação do Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado na segunda-feira (3) pela PM. Domingo (2), por volta das 8h30, Nunes foi atingido dentro da própria casa, no bairro Boa Vista, em Curitiba, por um disparo no abdome durante troca de tiros entre policiais militares e um grupo de quatro rapazes suspeitos de serem assaltantes de carros.
Moradores da região denunciam que, além da morte do aposentado, pode ter ocorrido a execução de um dos suspeitos Edvan Lopes de Oliveira, 20 anos, que morreu no local. Rafael Soares Meira (ferido no tiroteio), Diego Fernando Souza e Júlio César Souza Júnior foram presos. Junto com eles foi apreendido um revólver calibre 38.
De acordo com o relatório da PM, antes do tiroteio um homem ligou para a polícia dizendo que havia identificado o assaltante que teria levado seu carro, um Astra, placa CON-6199, no último sábado (1). Uma viatura foi encaminhada ao local. Ao perceber a aproximação da polícia, os rapazes teriam fugido em um Gol placa BTJ-6410.
Ao entrar em velocidade na Rua Luíza Lélia Gulin Geronasso, o Gol bateu no muro da casa de Nunes. Os quatro saíram correndo em direção ao quintal da casa ao lado, onde mora a filha do aposentado, Janeth Lacerda de Lima, 38 anos. Nesse momento, os policiais passaram a atirar.
O fato de os rapazes estarem no quintal da casa de Janeth e os policiais dispararem de frente para a casa de Nunes leva a suspeitar que o tiro que atingiu o aposentado tenha saído de uma das armas dos PMs. "Os policiais não tiveram cuidado algum. Chegaram atirando para todos os lados, sem saber que aqui na minha casa tinha crianças", afirma Janeth. Na tarde de segunda-feira, ela ainda limpava as manchas de sangue na calçada e nas paredes de casa.
No corre-corre, Edvan Oliveira foi atingido por disparos da PM. Mesmo ferido, ele conseguiu pular o muro lateral da casa de Janeth, caindo de uma altura próxima de 3,5 metros no telhado da casa vizinha. Com o rapaz já sem se mexer por conta dos ferimentos do tiro e da queda, um senhor chamou a polícia para acudi-lo. "Ele não tinha como reagir. Mesmo assim o policial, ao invés de socorrer o rapaz, deu três tiros nele. Eu fiquei apavorada", afirma uma moradora que prefere não ter o nome divulgado.
Janeth relata ainda outro possível abuso. Com a situação já controlada, um PM tirou um dos rapazes da viatura segurando-o pelos cabelos. O policial teria gritado com o rapaz, dizendo que ele era o responsável pela morte do aposentado.
"Ele estava com o rosto todo machucado. Os policiais bateram muito nele", afirma. Também depois da ação, a família de Nunes presenciou os PMs procurando projéteis no local. Para não prejudicar a investigação criminalística, o recomendável é não alterar o local do crime.
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