A Polícia Militar do Rio de Janeiro (PM-RJ) estuda limitar a participação de jornalistas em suas operações após a morte do cinegrafista Gelson Domingos, da TV Bandeirantes, baleado durante um tiroteio na Favela de Antares, zona oeste da capital fluminense. A corporação pretende discutir com representantes da imprensa a criação de procedimentos para evitar que os profissionais fiquem expostos em situações de confronto.
"Vamos tentar reunir os sindicatos dos cinegrafistas e dos jornalistas para ter um critério de segurança. Quando um policial falar: `daqui vocês não podem passar', que eles entendam e, por segurança própria, obedeçam à orientação", afirmou o comandante-geral da PM, coronel Erir Ribeiro da Costa Filho. O coordenador de Comunicação Social da corporação, coronel Frederico Caldas, alertou que a PM não pretende controlar o trabalho da imprensa, mas defendeu que sejam estabelecidos limites para essa atividade.
"Sabemos que a palavra `limite' tem uma conotação preocupante para a mídia, mas nós temos que ter limites, sim", disse. "É um momento importante para que os profissionais de imprensa reflitam sobre o seu papel", acrescentou.
Limites
Para entidades que representam os profissionais de imprensa, o papel de estabelecer limites para a cobertura cabe aos próprios jornalistas e às empresas - não à polícia. O diretor do International News Safety Institute (INSI) na América Latina, Marcelo Moreira, afirma que os repórteres devem cumprir seu papel, desde que recebam treinamento específico e tenham equipamento adequado para garantir sua segurança.
"A imposição de limites deve ser uma norma do repórter. Nenhuma cobertura vale a vida de um jornalista, mas não é a polícia que vai determinar se a imprensa vai fazer aquele trabalho ou não. O trabalho do jornalista é informar", disse.
Para o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Fernando Rodrigues, "o jornalista deve ser municiado por informações para ter capacidade de conhecer o grau de risco de determinada situação. Mais importante que discutir a criação de uma área de exclusão para jornalistas é debater os procedimentos que devem ser adotados para garantir a integridade física do profissional".
O Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio, por outro lado, defende uma reavaliação da cobertura de situações de conflito. "Precisamos repensar o modo como essa cobertura é feita. O repórter não pode ficar em igualdade de condições com um policial, que está na linha de tiro", avaliou a presidente do sindicato, Suzana Blass.
O antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), avalia que o treinamento é fundamental para garantir a segurança dos repórteres, mas concorda com a criação de áreas de isolamento durante as incursões da polícia. "É cabível estabelecer um perímetro de segurança, dado o risco de uma situação como essas. No entanto, deve ser um padrão compartilhado entre a mídia e a polícia, para não parecer que o governo está impedindo o acesso da imprensa aos fatos", disse Storani.
Segundo a TV Bandeirantes, Gelson Domingos usava um colete à prova de balas com nível de proteção III-A quando foi atingido. Equipamentos desse tipo têm revestimento suficiente para proteger uma pessoa de tiros de pistolas e revólveres. Apenas coletes de nível III e IV, de uso restrito das Forças Armadas, são capazes de parar disparos feitos por fuzil.
Treinamento
"A Bandeirantes procurou sempre oferecer aos seus profissionais treinamento e os melhores equipamentos. Os coletes que oferecemos são de nível III-A, que é o máximo permitido para uso civil", afirmou Frederico Nogueira, vice-presidente do Grupo Bandeirantes.
Uma portaria de 2006 do Ministério da Defesa estabelece as restrições ao uso dos coletes de nível III e IV por civis. A TV Globo adquiriu para seus repórteres coletes do nível III, formados por placas de cerâmica que protegem contra tiros de fuzil. A empresa conseguiu permissão das Forças Armadas para usar esse equipamento para seu trabalho jornalístico.