Uma região conflagrada, onde tiroteios são diários e a própria Polícia Militar (PM) evita circular sem blindados. Assim é a rotina de Costa Barros, na zona norte carioca. No bairro, ficam os Morros da Pedreira e do Chapadão, dois dos mais violentos do estado, controlados por facções criminosas inimigas. Para resguardar a segurança dos policiais, o 41º Batalhão baixou uma regra: incursões nas comunidades não ocorrem com menos de 30 PMs, todos armados com fuzis.
Na terça-feira (14), houve intensa troca de tiros em operação da Polícia Civil. Baleada nas costas, Ana Cleide Ferreira Lima, de 41 anos, morreu em um ponto de ônibus. A professora Luciana Barbosa estava em uma creche quando levou um tiro na perna direita. Bandidos ostentavam fuzis no asfalto.
Há quatro meses, os traficantes passaram a ser mais precavidos. Para enfrentar os PMs, posicionam atiradores na parte alta das favelas. “De uns tempos para cá, os traficantes utilizam barricadas para frear os blindados. São táticas de guerrilha mesmo”, disse o major José de Mattos, subcomandante do 41º Batalhão.
O capoeirista Antonio Paulo Barbosa, de 40 anos, tenta há 20 anos afastar crianças e jovens do assédio do tráfico com um projeto social no Morro da Lagartixa, no Morro da Pedreira. “Já perdi vários alunos para o tráfico como também já tirei vários.” Conhecido como Mestre Chaminé, ele estima já ter atendido 20 mil alunos na entidade Engenho do Amanhã.
Em 140º lugar entre 160 bairros cariocas no ranking do Índice de Desenvolvimento Social de 2010, Costa Barros tem famílias pobres e desestruturadas, segundo ele. “Muitas vezes, sou como um pai para eles.”
Na terça-feira, Barbosa teve de mandar os “filhos” adotivos de volta para casa por causa dos tiros. “Já pensei em sair. Todo mundo tem amor à sua vida. Mas se eu sair, quem vai fazer o trabalho que eu faço?”
O Morro da Pedreira, vinculado à facção Amigos dos Amigos (ADA), é reduto de Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, criminoso mais procurado do Rio. A recompensa pela informação que leve a sua prisão vale R$ 50 mil. Lá, os traficantes são especialistas em roubos de carga. A área teve 456 roubos em 2015, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), maior índice do Estado no período.
Os rivais do Complexo do Chapadão, sob domínio do Comando Vermelho (CV), recebem ordens de Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, preso na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná.
Após a ocupação do Complexo do Alemão, o Chapadão virou reduto do CV e abriga foragidos, como Claudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, e Ricardo Chaves de Castro Lima, o Fu da Mineira.
O crime típico do Chapadão é o roubo de carros. Só neste ano, 128 foram achados na região, um a cada dois dias. Nos confrontos, sempre sobra para quem está passando por perto.
Em maio, bandidos da Pedreira dominaram o motorista de um caminhão de bebidas, levado para a favela com a carga. Na Estrada João Paulo II, traficantes do Chapadão começaram a atirar. Três pessoas morreram e duas ficaram feridas, todas motoristas e pedestres.
A realidade violenta provoca situações inusitadas. O motorista da carreta só conseguiu sobreviver porque correu para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e vestiu um avental, fingindo ser paciente. O medo era que bandidos entrassem no posto para matá-lo, pois o caminhão havia travado.
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