Brasília Com todas as facções em disputa por cargos no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PMDB se prepara para apresentar, nesta semana, a conta do casamento de papel passado com o governo: quer ocupar seis ministérios que, juntos, têm verba de R$ 74,7 bilhões para 2007 uma cifra correspondente a 16,9% do dinheiro previsto para o orçamento do Executivo. O problema é que a demora de Lula em delimitar o território dos parceiros está levando a base aliada ao ringue. O apetite do PMDB já provoca ciúme nos outros partidos chamados para integrar o governo de coalizão.
Abrigados sob o guarda-chuva do Conselho Político, oito partidos vão se reunir com Lula na próxima quarta-feira para discutir a relação, que já sofreu o primeiro revés com a derrota governista na eleição para a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), há quatro dias. Dirigentes do PMDB fizeram chegar aos ouvidos do presidente que a legenda não só deseja manter sob sua alçada os ministérios da Saúde, Minas e Energia e Comunicações como sonha em dobrar o número de assentos na Esplanada. Está de olho em Transportes, Cidades e Integração Nacional. Pede meia dúzia, mas sabe que, com um choro aqui e outro ali, pode levar quatro, dependendo do resultado da eleição para o comando da Câmara e do Senado, em fevereiro.
Lula disse a interlocutores que o governador eleito do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), deverá indicar o novo titular da Saúde. O médico José Gomes Temporão é cotado para a vaga. Apadrinhado pelo senador José Sarney (AP), o ministro Silas Rondeau, de Minas e Energia, tende a seguir no posto.
O destino de Hélio Costa (Comunicações) ainda está indefinido, mas é possível que ele seja mantido. A um passo de se filiar ao PMDB, a senadora Roseana Sarney (MA), sempre lembrada para a equipe, já falou com Lula que prefere ajudá-lo no Congresso.
Manobra
Informados de que o presidente também chamará o senador eleito Alfredo Nascimento (PR, sigla com que foi rebatizado o PL) para reassumir sua cadeira em Transportes, peemedebistas não perderam tempo. Há poucos dias, convidaram Nascimento para se filiar ao partido. Por enquanto, ele resiste: jura que permanecerá no PR.
A gulodice do PMDB irrita petistas, socialistas, comunistas e liberais. Motivo: ninguém quer perder seu quinhão para dar mais espaço ao novo parceiro. "O PMDB não pode ser o que o PT foi no primeiro mandato", reclama o senador eleito Renato Casagrande (PSB-ES), hoje deputado.
Dez dias depois de o ex-ministro e deputado eleito Ciro Gomes (PSB-CE) ter chamado o PMDB de "elefante branco" que só se impõe pelo tamanho, Casagrande também deu uma estocada, mas em estilo light. "Um programa de coalizão tem como pressuposto o equilíbrio das forças que compõem o governo", argumentou.
Prestes a comemorar 40 anos na terça-feira, já que os tempos do MDB velho de guerra recheiam sua história, o PMDB iniciará 2007 com um contingente que, além dos 89 deputados, também inclui 7 governadores e 18 senadores. O partido já foi visto como o mais infiel da base aliada, segundo levantamento produzido pelo governo Lula, tomando como parâmetro importantes votações do ano. Agora, no entanto, promete mudar. Desde que seja contemplado na partilha do poder.
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