Quase dois anos após o desaparecimento do Edenilson Murillo Rodrigues, a Justiça ainda não ouviu os oito policiais responsáveis pela incursão na chácara onde o caseiro morava. Nesta semana, deverão ser ouvidas mais testemunhas de defesa dos PMs. O passo seguinte da acusação deverá incluir o pedido por novas análises em uma amostra de sangue coletada na viatura usada na noite do desaparecimento.
Não restam dúvidas de que eles [os policiais militares] estiveram na casa no dia do desaparecimento e também da presença do Edenilson no local.
Segundo Cleverson Greboggi, advogado que representa Marinelsa Rodrigues, mãe de Edenilson, a defesa dos policiais arrolou mais de 50 testemunhas de comarcas espalhadas pelo estado. Estão sendo ouvidas testemunhas, por exemplo, em São José dos Pinhais, Piraquara, Curitiba e até Londrina.
“Somente depois desses depoimentos é que os PM serão ouvidos”, diz Greboggi, que também comentou o teor da argumentação da defesa. “Eles estão falando mais da conduta dos policiais na corporação antes do caso. Não restam dúvidas de que eles estiveram na casa no dia do desaparecimento e também da presença do Edenilson no local”, argumenta.
outro lado
A Secretaria de Segurança Pública confirmou que o resultado do exame foi inconclusivo. A pasta informou que a amostra de DNA se ‘degradou’. De qualquer forma, diz a Sesp, o material está armazenado no IC para o caso de a Justiça determinar o envio dele para outros laboratórios. Já a PM disse que os policiais seguem na corporação, mas que estão trabalhando em atividades administrativas até que não caibam mais recursos no processo. Os advogados de defesa deles não foram localizados.
Os policiais das Rondas Ostensivas de Natureza Especial (Rone) foram ouvidos no inquérito policial que apurou o caso. Esse inquérito, concluído em outubro de 2013, apontou indícios de crime comum na abordagem. Para a PM, os policiais não poderiam ter entrado na chácara por que não havia um mandado e eles também não teriam seguido o rito formal da corporação para registro da ocorrência. A investigação policial sustenta, porém, que não há provas de que Edenilson estivesse no local.
Já a acusação sustenta que Edenilson foi morto pelos policiais. “A mãe dele ainda tem esperanças de encontra-lo vivo, mas infelizmente todas as evidências apontam para tortura seguida de morte”, afirma Greboggi, que adiantou os próximos passados da acusação.
“O Instituto de Criminalística informou que o sangue coletado na viatura é insuficiente para comprovar se o material genético pertence a Edenilson. Mas vamos pedir que essa prova seja remetida a um laboratório de fora do estado”, afirmou o advogado.
Denúncia de tráfico gerou ação
Segundo depoimentos de testemunhas, na noite do dia 21 de maio de 2013, oito policiais entraram na chácara, na Rua Paulo Filus, em Piraquara, para averiguar uma denúncia de tráfico de drogas. No local, moravam Edenilson, a mulher dele e a filha dela. A denúncia teria partido de um jovem mudo, que prestou esclarecimentos à Justiça com a ajuda de um intérprete. Ele era usuário de drogas e estaria transtornado naquele dia.
Com as informações, as viaturas da Rone teriam ido ao local. A mulher do caseiro relatou ter sido trancada em um quarto com a filha por três horas, tempo em que a televisão ficou em volume alto num canal sem sintonia. Mesmo nessas condições, a criança diz ter ouvido barulho de água e afogamento. Já a esposa de Edenilson diz ter encontrado as mangueiras da máquina de lavar roupas cortadas e a lavanderia molhada. A acusação diz que Edenilson passou por sessões de afogamento.
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