Proposta do governo baiano é de reajuste de 6,5%, retroativo a janeiro
O governador Jaques Wagner voltou a reforçar a proposta apresentada aos grevistas, em entrevista a uma emissora de televisão nesta manhã. A oferta é de reajuste de 6,5% retroativo a janeiro e o pagamento partilhado da GAP 4 e 5 entre 2012 e 2015, com a primeira parcela em novembro deste anos.
"Fizemos um esforço muito grande para garantir a GAP 4 a partir de novembro. Essa despesa (GAP 4 e 5) representa mais de R$ 170 milhões, é parte significativa do orçamento. Agora, eu só posso esperar que cada policial entenda que o estado tem um limite e não fruste a população da maior festa popular do mundo (o carnaval)", argumenta Wagner.
O presidente da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra), Marco Prisco, disse, também em entrevista a uma emissora de televisão, que "os 6,5% é um aumento linear para todo servidor público, então o soldo (salário dos militares) fica abaixo do mínimo".
Prisco reforçou que os grevistas só entram em acordo com o governo se for revogada a prisão dos PMs baianos. A Justiça emitiu 12 mandados de prisão, sendo que dois policiais já foram detidos. "Essa é uma questão que os policiais não querem nem sequer pensar em discutir. Quem pediu a prisão foi o governo, foi um ato político. Então, a Procuradoria do Estado pode pedir a revogação das prisões", disse.
Mais um PM deixou o acampamento nesta madrugada, totalizando oito desistências entre os manifestantes. Esse número não inclui as crianças que saíram do acampamento após determinação do Ministério Público.
Na saída, por volta de 2h50m, o policial militar baiano, que tinha uma pistola na cintura, foi identificado pelos militares do Exército e teve a mochila revistada. Tudo sob a supervisão de agentes da Polícia Federal. Ele não quis falar com imprensa e foi correndo até o próprio carro.
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Duas conversas entre os líderes dos PMs grevistas na Bahia foram gravadas e revelam que o comando da manifestação, que já se arrasta há nove dias e leva insegurança e pânico à população de Salvador, organizavam ações de vandalismo na cidade. As gravações mostram que os grevistas se articulam para que a paralisação chegue a outros estados como Rio de Janeiro e São Paulo. Os grevistas negam a participação em ações violentas.
As gravações exibidas no Jornal Nacional foram feitas com autorização da Justiça. Na primeira gravação, o lider do movimento, Marco Prisco, combina um ato de vandalismo com um de seus cúmplices, muito embora Prisco negue ter participado de atos de violência.
Confira um dos trechos de conversa:
Prisco: Alô, oi. Desce toda a tropa pra cá meu amigo. Caesg e você. Desce todo mundo para Salvador, meu irmão... Tou lhe pedindo pelo Amor de Deus, desce todo mundo para cá...
David Salomão: Agora? Prisco: Agora, agora. Embarque...
David Salomão: Eu vou queimar viatura... Eu vou queimar duas carretas agora na Rio/Bahia que não vai dar tempo...
Prisco: fecha a BR aí meu irmão. Fecha a BR.
Na outra gravação, o cabo bombeiro do Rio de Janeiro, Benevuto Daciolo, que já foi candidato a deputado estadual no Rio e um dos líderes do movimento grevista da corporação no ano passado, conversa com um homem a quem ele classifica de "importantíssimo" a respeito de uma possível votação da PEC 300. Na conversa fica claro que o objetivo é estender a greve de policiais e bombeiros a Rio de Janeiro, São Paulo e outros estados com o objetivo de prejudicar o carnaval.
Dacilolo: Pergunta ao senhor que é pessoa importantantissima a respeito da nossa PEC...pergunto: qual é a verdadeira possibilidade de nós conseguirmos passarmos em segundo turno na semana que vem? Não sei se o senhor sabe. Eu estou com uma assembleia Geral amanhã no Rio de Janeiro, com a abertura de uma greve geral no Rio também, com probabilidade de não ter carnaval nem na Bahia nem no Rio esse ano. E São Paulo acho que está para dar uma resposta agora e os outros estados também. Nós acreditamos que, se tivesse uma resposta do governo, assinalando numa possibilidade de votação no segundo turno da PEC, acalmaria muito, muito o que está acontecendo na Federação.
Em outro trecho, o cabo Daciolo, que estava em Salvador, é recomendado por uma mulher para que tente influenciar o movimento dos grevistas baianos a não fechar um acordo com o governo. Segundo a mulher, isto enfraqueceria uma possível greve no Rio.
Mulher: Daciolo, Daciolo, presta atenção. Está errado fechar a negociação antes da greve do Rio...
Daciolo: Tudo bem, tudo bem... sabe o que vou fazer agora??? Ligue para ele que eu vou embora daqui, não vou ficar mais aqui.
Mulher: Eles não querendo que você avalize um acordo antes da greve do Rio. Depois da greve do Rio, muda tudo. Sabe como você vai ajudar eles? Voltando para o Rio, garantindo aqui. O governo vai fazer uma propostinha rebaixada para vocês, vai melhorar um pouquinho esse negócio que eles colocaram. E acho...se vocês garantirem a greve aqui, a mobilização aqui, vocês vão ajudar eles a liberar o Prisco, a ter uma negociação...
Os manifestantes continuam amotinados na Assembleia Legislativa da Bahia, onde por volta das 20h30 da noite desta quarta-feira, houve mais uma confusão entre grevistas e soldados do exército.
Comando do Exército conta com reforço de 150 homens da PM
Mais cedo, o comando do Exército havia comunicado que aumentou de 1.300 para 1.400 homens o efeitivo no cordão de isolamento que fechar todos os acessos ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), onde fica a Assembleia Legislativa da Bahia - ocupada há uma semana por manifestantes do movimento. Segundo o porta-voz do comando, tenente coronel Márcio Cunha, o reforço conta com cerca de 150 agentes da Polícia Militar. Perguntado sobre o aumento de efetivo, o porta-voz disse apenas que foi "fruto de uma avaliação do Estado Maior", mas não deu detalhes sobre isso.
À tarde, uma tropa do Recife debelou um princípio de arrastão no bairro de Itapuã. Ainda segundo o porta-voz, foram restringidas as entradas de alimentos, remédios, água para os amotinados que permanencem no Legislativo, ao contrário de terça-feira, quando houve uma flexibilização do comandante da operação, o general Gonçalves Dias, que fez aniversário e se emocionou ao receber um bolo de presente dos grevistas. Segundo Cunha, os manifestantes não estão probidos de receberem atendimento - mas este deverá ser feito em uma ambulância do Exército, do lado de fora do prédio, sem possibilidade de retorno à Assembleia. O acesso de pessoal também está restrito: apenas agentes de segurança e jornalistas têm permissão para passar. Outras situações serão analisadas caso a caso - o objetivo, segundo o comando, seria facilitar o avanço das negociações.
O deputado federal Mendonça Prado (DEM-SE), presidente da Comissão de Segurança da Câmara, disse que foi impedido pelo Exército de entregar medicamentos para diabetes e de controle de pressão a dois grevistas que se encontram dentro da Assembleia Legislativa. Ele ameaçou acionar a comissão de Direitos Humanos da Câmara para garantir o acesso dos remédios e afirmou que nem em situação de guerra a força inimiga nega este direito ao adversário.
Ele disse ter sido comunicado por oficiais do Exército que manifestantes que querem receber atendimento médico terão de sair e se dirigir a uma das ambulâncias à disposição da operação e não poderão mais retornar ao prédio.
"Nenhum manifestante deixará de ser atendido ao precisar de cuidados médicos, alimentação e água. Mas os que saírem não voltam mais", assegura o tenente coronel Cunha, que até o momento contabilizou a saída de dez adultos e sete crianças da sede do Legislativo.
Os cerca de 500 policiais militares grevistas que estão nas proximidades da Assembleia ameaçam fechar a Avenida Paralela, via expressa que liga o aeroporto ao centro de Salvador. Nesta mesma via, aconteceu um buzinaço nesta madrugada, mas não há confirmação da participação de PMs neste protesto. A radicalização teria dois motivos: a falta de um acordo com o governo do estado para pôr fim à paralisação e o endurecimento do cerco do Exército à Assembleia.
Greve entra no nono dia sem acordo
Sem acordo entre o governo e os policiais militares, o clima começa a ficar tenso nesta quarta-feira (8), nono dia da greve. Depois de uma madrugada tranquila, manifestantes que estão do lado de fora da Assembleia Legislativa se desentenderam com homens do Exército, após eles mudarem a posição das cercas que estão ao redor do prédio.
A todo momento chegam mais viaturas com policiais militares em serviço para reforçar a segurança no Centro Administrativo da Bahia (CAB), o que cria animosidade com os familiares e PMs grevistas que estão no local.
Nesta madrugada, foi cortada a energia da Assembleia até as 0h30m. O número de homicídios registrados em Salvador e Região Metropolitana chegou a 123, na manhã desta quarta-feira. Segundo a Superintendência de Telecomunicações das Polícias Civil e Militar (Stelecom), uma jovem foi baleada na Avenida Barros Reis, por volta das 3h. Iris Patrícia dos Santos, de 19 anos, chegou a dar entrada no Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Mais cedo, um homem com identidade ignorada foi assassinado no bairro da Ribeira. O corpo foi encontrado na Travessa Capitão Eugênio, por volta da 1h, com perfurações de bala. Um balanço oficial deve ser divulgado com os resultados dos dias de greve pela Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA).
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