A Polícia Civil concluiu nesta terça-feira (15) o inquérito criminal que investiga a participação de dois policiais militares em uma sessão de tortura contra 12 alunos, com idade entre 15 e 18 anos, dentro do Colégio Estadual Agrícola Mohamed Ali Hamzé, em Cambará, no Norte Pioneiro. As agressões foram denunciadas pelos pais dos adolescentes, assim como pelo Núcleo Regional de Educação, com sede em Jacarezinho. Conforme as denúncias, as agressões teriam surgido quando os policiais confundiram um trote solidário no interior do colégio com um tumulto entre estudantes. Quando os policiais chegaram à escola, foram informados pela monitora que pediu o atendimento que a confusão já havia acabado, mas mesmo assim a dupla exigiu a identificação de todos os envolvidos e um a um os adolescentes foram levados para uma sala dentro do colégio, onde teriam sido espancados com tapas, socos, pontapés e até ameaças de morte. Os policiais, segundo a denúncia, tiveram o cuidado de esconder as suas identificações. Os nomes e as patentes dos militares envolvidos são mantidos em sigilo. O que os acusados de agressão não esperavam é que a sessão de tortura fosse gravada por vários adolescentes. O áudio com os gritos de desespero dos estudantes e a truculência dos policiais foi anexado ao inquérito. Os adolescentes chegaram a fazer exame de corpo delito, mas 13 dias depois das agressões. Segundo a delegada designada para o caso, Caroline dos Santos Fernandes, como o exame foi feito muito tempo depois das agressões seria quase impossível encontrar lesões por espancamento nas vítimas. Mesmo assim há indícios de que as agressões foram cometidas. O inquérito deve ser enviado ao Ministério Público nesta quarta (16). Os dois policiais militares são suspeitos de abuso de autoridade, lesão corporal dolosa e exposição de adolescente ao vexame.
Indignação
A chefe do Núcleo de Educação, Silvia Regina de Souza, confirmou as agressões e disse que está revoltada com a truculência da PM na região. Conforme a professora, os alunos estavam em festa porque era a primeira semana do ano letivo. "Por costume, os alunos se confraternizam até mais tarde para se conhecer. Semana em que também ocorrem os trotes solidários", explicou. Silvia diz acreditar que a ação dos policiais foi desproporcional e equivocada. "Eles tiraram as identificações e entraram no colégio como se estivessem em um presídio ou num centro de reabilitação para controlar uma rebelião. Todos foram colocados em uma sala e espancados", revela. "A polícia tem que proteger o cidadão. Nossos filhos estão sendo tratados como se fossem bandidos. Isso é inadmissível", completa o desabafo. Terça (15), pelo menos duas das 12 vítimas confirmaram a sessão de tortura. Os adolescentes deram detalhes da ação truculenta dos policiais que teria durado cerca de 10 minutos. "Eles disseram que se voltassem aqui [no colégio] iam nos matar", disse um dos adolescentes. Outro jovem que estuda no estabelecimento contou que viu os policiais agredindo outros estudantes com tapas na nuca, socos nas costas e pontapés. "Só não fui agredido porque fiquei o tempo todo de cabeça baixa com medo de apanhar. Mesmo assim recebi ameaças", revelou. "Teve muito excesso, não precisava bater na gente."
Outro lado
O comandante do 2.º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Antônio Carlos de Morais, informou que o BPM já abriu uma sindicância interna para apurar a conduta dos policiais. O oficial disse que os policiais negam as acusações, mas mesmo com as denúncias não foram afastados de suas atividades. "Eles permanecem em atividade até o final da sindicância. Havendo a conclusão da investigação, as providências serão tomadas."
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