Policiais teriam acusado a mulher da vítima de fornecer droga a usuários da lan house do casal| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Nórdio não tinha passagem pela polícia

A Delegacia de Homicídios investiga a possível participação de dois policiais militares – cujos nomes não foram divulgados – na morte do comerciante Gean Nórdio, 21 anos. Nórdio foi assassinado na madrugada de domingo, quando dois homens encapuzados invadiram sua casa, no bairro Portão, em Curitiba, e dispararam 15 tiros no comerciante, que dormia junto com a esposa e a filha, de 17 e 2 anos de idade respectivamente. Cerca de dez dias antes, a vítima havia denunciado ao comando do 13º Batalhão da PM dois policiais que teriam extorquido dinheiro dele.

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Há cerca de 15 dias, dois menores teriam sido apreendidos com drogas na lan house que o casal administrava na frente do imóvel onde moravam. Acusando a mulher de Nórdio de ter fornecido a droga, os policiais a teriam mantido algemada no estabelecimento e pedido ao comerciante R$ 2 mil para libertá-la. No mesmo dia, o comerciante teria entregue R$ 1.050 aos PMs, que libertaram a moça, mas exigiram que o restante fosse pago nos próximos dias. Inconformado, Nórdio os denunciou ao Serviço de Inteligência da PM (P2). "Ele dizia que não queria pagar pelo que não devia. Então procurou o 11º Distrito Policial (CIC), onde foi orientado a denunciá-los diretamente no quartel", explica um amigo, que, temendo represálias, prefere não se identificar.

A PM confirma que os dois policiais foram afastados do serviço de rua assim que o Inquérito Policial Militar (IPM) foi aberto para averiguar o suposto desvio de conduta. No depoimento à P2, Nórdio já havia reconhecido por fotografias os dois acusados. Ontem, ele prestaria novo depoimento à P2.

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No depoimento na delegacia ontem à tarde, família e amigos confirmaram que ele andava temeroso desde que denunciou os policiais. "O que mais preocupava o Gean era o fato de que no dia em ele fez a denúncia os dois policiais acusados estavam no quartel e o viram", explica o amigo. Depois disso, afirma a mesma testemunha, Nórdio disse à família e amigos que se algo acontecesse com ele seria culpa desses policiais.

Ao fazer denúncia no 13º Batalhão, os policiais responsáveis pelo IPM deixaram o número do celular de um tenente caso Nórdio observasse movimentação estranha em volta de casa. Segundo o amigo que prestou depoimento à delegacia, ele chegou a ligar para o tenente uma vez. "Na hora eles mandaram várias viaturas. Só que domingo não deu tempo. O Gean estava ligando para esse tenente quando foi morto."

Investigação

O delegado-titular da Homicídios, Hamilton da Paz, vai entrar em contato com o comando do 13º Batalhão para buscar mais informações das denúncias feitas por Nórdio. Entretanto, o delegado não descarta outros motivos para o assassinato. "Estamos averiguando se ele realmente não tinha envolvimento com drogas", explica. O comerciante não tinha nenhuma passagem pela polícia.

A PM informa que vai aprofundar as investigações do IPM. O prazo para conclusão e entrega à Justiça é de 60 dias. Entretanto, afirma o major Evéron Puchetti, da Comunicação da PM, as informações do IPM estão à disposição da Polícia Civil para a investigação do homicídio.

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