Nove pessoas – sendo oito policiais militares- foram presas nesta sexta-feira (13) em Londrina, durante desdobramento da Operação Força-Tarefa, realizada pelas polícias civil e militar, além da Corregedoria da PM. Os detidos são suspeitos de envolvimento na onda de assassinatos que assolou o município no fim de janeiro. Na ocasião, 12 morreram e pelos menos 16 ficaram feridos.
Sete dos presos estavam com os mandados de prisão em aberto. Entre eles estão quatro soldados e dois aspirantes a oficial que pertencem à 4.ª Companhia Independente da Polícia Militar, responsável pela zona norte de Londrina, onde ocorreu a maior parte das mortes na chacina de janeiro. O outro detido é um indivíduo que teria escondido as armas supostamente utilizadas nas mortes e colaborado na adulteração das cenas dos crimes.
Outros seis policiais militares – incluindo um capitão - foram conduzidos coercitivamente para prestar depoimento na delegacia. Dois deles acabaram detidos por porte de munição ilegal. Eles foram autuados, pagaram fiança e já foram liberados.
Os policias presos preventivamente foram levados para o 5.º Batalhão da Polícia Militar (BPM). Seus nomes não foram oficialmente divulgados pela Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp) porque as investigações ainda não foram encerradas.
Durante entrevista coletiva em Londrina, o secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita, afirmou que não houve demora na investigação. Para ele, os quase quatro meses de trabalho foram necessários para elucidar um caso complexo. “Tempo suficiente para ter uma prova concreta, objetiva, técnica, pericial e que dê respaldo para proceder uma atividade de condução coercitiva ou uma prisão preventiva”.
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Mesquita também disse que a pasta não tem a menor satisfação em prender policiais. “Cada prisão de policial gera uma cicatriz na segurança pública como um todo”, declarou. “É um dia para reafirmar a autoridade policial, que corta na própria carne quando necessário para reafirmar o seu compromisso com a ordem e a lei posta”.
Provas contundentes
A onda de assassinatos na região de Londrina começou na noite do dia 29 de janeiro, após a morte do policial militar Cristiano Luiz Bottino, que foi baleado no Conjunto Milton Gavetti, na zona norte da cidade. Ele não estava de serviço e não utilizava a farda. Depois desse crime, uma série de ataques foi registrada em vários bairros de Londrina e algumas cidades da região metropolitana, como Cambé, Ibiporã e Arapongas. Foram confirmadas as mortes de onze civis, sendo que cinco deles não tinham antecedentes criminais.
De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil no Paraná, Julio Reis, ainda não é possível afirmar que os crimes foram uma resposta ao assassinato de Bottino. A equipe de investigação também não conseguiu apontar a autoria dos disparos. No entanto, Reis destacou que foram recolhidas provas contundentes, como vídeos, áudios, depoimentos, além das perícias.
Reis afirmou que um dos pontos que chamou a atenção dos investigadores foi a ausência de indícios nos locais de crime, como as cápsulas das armas. Também houve o desaparecimento de um DVR – aparelho que grava imagens das câmeras de segurança - de uma residência.
Apesar disso, a Polícia Civil conseguiu uma imagem que ajudou a esclarecer os fatos. No vídeo, um policial militar chega em casa acompanhado de vários colegas. “Essa ‘equipe’ de amigos deixa o policial, sai da casa e logo em seguida encontra uma das vítimas daquela noite”, relatou o delegado.
A investigação apontou ainda fortes indícios de que policiais teriam “plantado” provas. “Em 12 de março, em um confronto ocorrido entre a Polícia Militar e o autor de furtos em chácaras, na zona norte, foi constatado que a arma que supostamente o indivíduo usou teria sido ‘plantada’ por aquela equipe policial que foi atender o local”, explicou Reis.
Posteriormente foi constatado que a mesma arma foi utilizada em uma morte ocorrida no dia 26 de janeiro, logo após uma tentativa de homicídio contra um policial militar “Esses detalhes nos levaram a crer na participação desses que foram presos hoje e de outros que tiveram condução coercitiva.”
Processo administrativo
Segundo o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Maurício Tortato, serão instaurados processos administrativos contra os profissionais envolvidos no caso. Se forem comprovadas irregularidades nas condutas, eles podem ser expulsos da corporação, além de receber outras sanções.
“Não existe nenhuma condescendência de qualquer forma. Que os militares estaduais que estão presenciando toda essa situação se pautem pela atuação legítima e que a imprensa e a sociedade não adote instrumentos de generalização que venham desrespeitar uma instituição que verdadeiramente tem um compromisso social muito relevante.”
Sete policiais também tiveram as funções públicas suspensas, uma media para que eles não atrapalhem as investigações. Afastados, eles deixam as atividades operacionais e se dedicam somente ao expediente administrativo.
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