A decisão da CPI da Covid de quebrar o sigilo bancário e telefônico de meios de comunicação de direita não tem sido de todo negativa para esses veículos. Uma das afetadas, a produtora Brasil Paralelo, diz que sua base de assinantes cresceu desde que o assunto se tornou notícia.
> > NOVIDADE: faça parte do canal de Vida e Cidadania no Telegram
No dia 31 de julho, quando a decisão da quebra de sigilo foi anunciada, a empresa tinha 206 mil assinantes. No dia 11 de agosto, esse número já havia subido para 222 mil – um aumento de 16 mil assinaturas em menos de duas semanas.
Henrique Viana, CEO da empresa, diz, em entrevista à Gazeta do Povo, que eles ainda não sabem claramente o motivo de terem sido acusados de fake news. “A única coisa que a gente fez foi um documentário [“7 Denúncias: as Consequências do Caso Covid-19”, de junho de 2020], que é mais de ciência política e social, e não aborda nenhuma questão técnica da pandemia. Realmente não sei. Acho que foi por desinformação e por ignorância”, afirma.
Nos últimos dias, a Brasil Paralelo tentou reverter a quebra de sigilo indo ao Senado para dialogar com alguns parlamentares. Os argumentos da produtora foram bem acolhidos por senadores de direita, mas os de esquerda se mostraram, em geral, pouco receptivos, com exceção de Alessandro Vieira (PPS-RS).
“A gente se colocou à disposição, tentou o diálogo. Alguns nos receberam muito bem, e foi legal ter esse diálogo, porque é um modelo de negócio inovador, diferente. A própria internet como um todo é um ecossistema muito novo. Em geral, os senadores são pessoas mais velhas. Se até para jovens é difícil de entender, porque é tudo muito novo, imagine para uma pessoa mais velha. Mas, por alguns, a gente não foi muito bem recebido”, afirma Viana. Mesmo com as tentativas de diálogo, os senadores mantiveram o pedido de quebra de sigilo da Brasil Paralelo.
Na segunda-feira (9), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve a decisão da CPI, mas suavizou o seu impacto, determinando que ela não valerá para dados anteriores a março de 2020, quando a pandemia começou no Brasil. Além disso, Gilmar destacou que a responsabilidade pela privacidade das informações colhidas pela comissão será do presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM).
“O interessante é que o Gilmar Mendes nos dá uma lupa para a responsabilização do Omar Aziz, que facilita nossa atuação judicial caso ocorra algum vazamento”, diz o CEO da Brasil Paralelo.
Confira a entrevista na íntegra:
Por que você acha que a CPI acusou a Brasil Paralelo de publicar notícias falsas?
Henrique Viana: A gente realmente não sabe por quê. A gente lança vários documentários ao longo do ano e cursos para nossa plataforma de assinantes. Esse é o nosso trabalho. Até por isso, a gente não aborda temas que não sejam perenes, que é o caso das notícias sobre a pandemia, que a cada dia são atualizadas. Então, realmente, não temos ideia do motivo de termos sido incluído nesse processo.
A única coisa que a gente fez foi um documentário [“7 Denúncias: as Consequências do Caso Covid-19”, de junho de 2020], que é mais de ciência política e social, e não aborda nenhuma questão técnica da pandemia. Realmente não sei. Acho que foi por desinformação e por ignorância.
Eles citaram, na hora da votação, que a gente fez campanha contra máscara e contra vacinas, e isso é tudo mentira. Não sei de onde tiraram.
A CPI levanta a suspeita de que vocês receberam recursos de pessoas ligadas ao governo. De onde vêm o dinheiro para as produções da Brasil Paralelo?
Henrique Viana: 100% da receita da Brasil Paralelo vem da venda do nosso serviço de assinatura. Antes dessa polêmica, tinha 200 e poucos mil. Agora estamos com mais de 220 mil assinantes. Cresceu bastante a base. Eles pagam entre R$ 10 e R$ 50 por mês. O valor médio é entre R$ 24 e R$ 25, se não me engano, então é só fazer as contas. É daí que vem o dinheiro. A gente não recebe nenhum dinheiro público, zero. A gente inclusive abriu nossas finanças na internet para todo mundo.
A Brasil Paralelo tentou reverter a quebra de sigilo dialogando com senadores. O que vocês tentaram comunicar aos parlamentares?
Henrique Viana: Um dos valores da empresa é a diplomacia. A gente acredita que o diálogo é sempre o melhor caminho para iniciar a resolução de um conflito. Nesse caso, a gente se colocou à disposição dos assessores e dos senadores para esclarecer qualquer dúvida que por ventura eles tenham a nosso respeito, sobre nosso modelo de negócio, forma de atuação.
Partimos do pressuposto da boa-fé, mesmo que pessoalmente a gente possa não acreditar nos políticos. A diplomacia é um valor que está na parede da empresa, registrada como um dos valores. Como instituição, a gente precisa acreditar na boa-fé, valorizar as instituições. A instituição da CPI pode ter um bom uso.
A gente se colocou à disposição, tentou o diálogo. Alguns nos receberam muito bem, e foi legal ter esse diálogo, porque é um modelo de negócio inovador, diferente. A própria internet como um todo é um ecossistema muito novo. Em geral, os senadores são pessoas mais velhas. Se até para jovens é difícil de entender, porque é tudo muito novo, imagine para uma pessoa mais velha. Mas, por alguns, a gente não foi muito bem recebido.
Os parlamentares com quem vocês dialogaram eram mais de esquerda ou de direita?
Henrique Viana: A gente tentou com todos. Fez contato com absolutamente todos. Obviamente, os mais à direita receberam muito bem, e foi legal, porque a gente também ajudou eles a nos defenderem, porque eles queriam nos defender.
Porque, na verdade, não existe crime. Mesmo que nós tivéssemos feito campanha contra vacina, contra máscara, não existe crime nisso. Existe liberdade de expressão no Brasil. Você pode dizer o que quiser, desde que não incorra em crimes contra honra, ameaça de morte ou coisas assim. Opinião não é crime no Brasil.
Tivemos uma atitude de diplomacia. Dos de esquerda, foi a equipe do Alessandro Vieira que nos recebeu, somente. Recebeu muito bem. Os assessores nos trataram muito bem. Tivemos um bom diálogo. Acho que foi um bom exemplo do que pode ser um diálogo entre adversários no campo de ideias. Eles não concordam com nossas ideias, não gostam dos nossos documentários, mas nos receberam bem, conversamos, e eles nos explicaram melhor qual é a desconfiança dos senadores. E a gente pôde esclarecer algumas coisas. Acho que serviu de alguma forma. Não sei se o senador se sensibilizou ou não, mas não fomos ali para convencer ninguém de nada, mas para abrir um diálogo.
Por que vocês acham que a CPI tratou a Brasil Paralelo de forma diferente da Jovem Pan, que foi poupada da quebra de sigilo?
Henrique Viana: Acho que tem duas respostas. Uma resposta, vamos dizer, mais razoável, é que a gente não sabe o motivo. Assim como a Jovem Pan, a gente atua no ramo de comunicação. Não tem nenhuma diferença entre nós e a Jovem Pan.
Agora, por que fizeram isso? Acho que, de novo, por certa ignorância de não entender o contexto. Acho que hoje a gente vive muito uma era do esteticismo. O importante são as aparências, as embalagens – que ora são apresentadas pela imprensa, ora pelos próprios políticos –, e pouco vale a realidade, aquilo que é.
Aí você tem uma rádio antiga, e alguns jornalistas, como o Merval Pereira, saindo em defesa da Jovem Pan. Mas, na própria fala dele sobre isso, ele coloca que os outros, os “blogs bolsonaristas”, têm que ser investigados. Ele chama as outras empresas de “blogs bolsonaristas”. A Brasil Paralelo não tem nada a ver com essa descrição. Absolutamente nenhuma conexão.
E, independente de ser um blog bolsonarista, não é diferente de uma empresa de mídia do ponto de vista constitucional, da liberdade de expressão. Não tem diferença nenhuma.
Que momento é esse que a gente vive no Brasil? Dependendo do tamanho e de há quanto tempo você existe, da sua relevância, de quanto dinheiro você tem, você tem alguns direitos e, se você não tem isso, você não tem esses direitos. É isso que a gente vive no Brasil hoje. Isso seria a parte dois da resposta, o que eu acho realmente que é o motivo.
O que vocês opinam sobre a quebra de sigilo bancário dos outros sites citados pela CPI, como Terça Livre, Conexão Política e Jornal da Cidade?
Henrique Viana: Não pode existir diferença. Se a empresa é mais agressiva ou menos agressiva, se ela é menor ou maior, se ela é mais profissional ou mais amadora, não importa. A liberdade de expressão no Brasil existe ou não existe? Qualquer pessoa que defenda que existe uma diferença entre a Jovem Pan e os outros sites é contra a liberdade de expressão no Brasil.
Como vocês receberam a decisão do ministro Gilmar Mendes?
Henrique Viana: A gente não concorda, a gente vai recorrer. Ele continua diferenciando a Brasil Paralelo da Jovem Pan, sendo que a Jovem Pan tem lá as opiniões de alguns de seus jornalistas contra máscara e contra vacina, e recebe dinheiro público. A Brasil Paralelo não tem opinião contra máscara e contra vacina e não recebe dinheiro público.
Claro que isso não é motivo de nada. Só acho que todas as instituições deveriam ser tratadas igualmente, com livre direito à expressão, sem serem incluídas nesse processo intimidatório de perseguição da CPI. Só faço esse comentário para deixar claro que não tem a ver com isso, não tem a ver com quanto a empresa é suspeita ou não de receber dinheiro ou de fazer campanhas. Simplesmente tem a ver com perseguição e com certa avaliação do tipo: “Quem que eu posso perseguir e quem eu não posso? Opa, pegou mal perseguir a Jovem Pan, então vamos parar. Sobre a Brasil Paralelo ninguém da imprensa falou nada, então pode continuar”. A gente discorda da decisão, vamos recorrer.
Por outro lado, ele colocou alguns elementos interessantes, que vão nos auxiliar no processo, principalmente ele ter destacado a responsabilização do presidente da CPI com relação à proteção dos dados. Já é histórico dessa CPI essa bagunça completa, com vazamentos irresponsáveis para a imprensa, assassinatos de reputação… Isso é ilegal. Com esse destaque do Gilmar Mendes, fica mais fácil a gente processar o presidente caso isso ocorra. A gente está atento. No primeiro deslize, nós vamos processar e responsabilizar o presidente da CPI.
Ele ressaltou a lei. A lei, de forma geral, já protege bastante a informação, e a responsabilidade do presidente da CPI é bem grande. Ele ressaltou isso, que o presidente da CPI é o guardião das informações, responsável pela integridade das informações que vão ser pegas da empresa, e que ele só pode disponibilizar essas informações em reunião secreta e somente no caso de informações que tenham diretamente a ver com a investigação. Não vai ter nenhuma informação desse tipo. Então, o correto é não mostrar nada.
O interessante é que o Gilmar Mendes nos dá uma lupa para a responsabilização do Omar Aziz, que facilita nossa atuação judicial caso ocorra algum vazamento.
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora