O Festival de Teatro deste ano terminou no domingo (5) após duas semanas de polêmicas e de boas surpresas na mostra paralela Fringe. De acordo com o diretor do evento, Leandro Knopfholz, o público total ficou em 200 mil pessoas, um pouco abaixo do ano passado, devido à crise econômica. Ele garante a realização do jubileu de prata no ano que vem, quando a mostra comemora 25 anos.
Entre os fatos que repercutiram nesta edição esteve a própria festa de abertura, no dia 24 de março, quando muita gente achou estranho o fechamento da Praça Santos Andrade para um evento particular. A ação foi aprovada pela prefeitura de Curitiba. No dia seguinte, o espetáculo Spon Spoff Spend, que estreou na capital, simulava a vida de mendigos no palco, quando moradores de rua, trazidos por uma aluna da Faculdade de Artes do Paraná, passaram a se manifestar, falando alto. Teve gente que saiu de perto ou foi embora, enquanto outros louvaram a aproximação entre verdade e ficção.
Arte
A preferência do público esteve, como é tradicional, entre os atores conhecidos da televisão. A peça Selfie, com Mateus Solano, foi a primeira a lotar e ganhou até sessão extra no mega-auditório do Teatro Positivo. Espetáculos que inovam no formato, como as espanholas A House in Asia e Numax Fagor Plus e a cearense Diga Que Você Está de Acordo, chamaram a atenção da classe teatral.
Mas foi na mostra paralela Fringe que se apresentaram as principais unanimidades. Tchékhov, do grupo Ave Lola, esteve em cartaz no festival de 2014, mas neste ano chamou a atenção de críticos de fora devido à mostra especial de alto fôlego organizada pelo espaço, no bairro São Francisco.
A reunião de dez cantos da Ilíada, encenados por atores e atrizes locais, com direção do compositor Octávio Camargo, serviu para vitaminar o projeto “Iliadahomero Grécia 2016”, que vinha realizando estreias individuais há vários anos. Essa foi a surpresa para artistas como a iluminadora Nadja Naira e o diretor Marcos Damaceno, por exemplo.
A rua também foi o espaço para muitos artistas mostrarem uma pesquisa refinada e habilidade em conquistar plateia. Foi o caso do grupo de dança contemporânea Muovere, de Porto Alegre, que animou os primeiros dias do evento com o espetáculo Desvio, pelo qual quatro bailarinos partiam para cima dos carros nas faixas de pedestres, numa inversão de papeis extremamente bem arranjada.
De Belo Horizonte, a atriz Denise Lopes Leal surpreendeu com sua performance na pele de Lady MacAxeira, personagem de Se Essa Rua Fosse Minha, que literalmente atraía o público do Largo da Ordem para entrar na Casa Hoffmann. Interpretando uma moradora de rua, Denise usou referências, com extrema habilidade de improviso, à Lady Macbeth de Shakespeare. Um exemplo: ela mandava um “cachorro” da plateia ficar quieto: “Quieto, Shake! Você diz muita verdade.”
E como sempre ocorre, foram duas semanas de intenso trabalho para estudantes das artes cênicas, ainda que só espectadores das peças. Um grupo de alunos da escola Cena Hum substituiu uma aula de semiologia teatral por uma sessão seguida de bate-papo de Teatro de Bonecas, com as atrizes paulistas Jackeline Stefanski e Milena Filó. Nas últimas horas na cidade, ontem, antes de voltar a Florianópolis, duas estudantes foram ao recém-criado teatro Ittala Nandi para uma versão campineira de O Casamento do Pequeno Burguês, de Brecht.
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