Inquérito concluído pela Polícia Civil aponta um enfermeiro como responsável pela morte de Maria da Luz das Chagas dos Santos, de 38 anos, no fim de junho, em Curitiba. A mulher morreu do lado de fora da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Fazendinha, depois de esperar cerca de quatro horas por atendimento. Segundo a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a vítima não foi atendida de acordo com a gravidade do quadro clínico que apresentava e, por isso, o enfermeiro foi indiciado por homicídio culposo. Maria da Luz morreu por causa de um aneurisma cerebral.
O delegado que comandou as investigações, Francisco Caricati, afirmou que se a vítima tivesse sido imediatamente tranquilizada e medicada não teria morrido “naquele momento”. “Nós podemos afirmar, com plena convicção, que a vida dela foi abreviada”, enfatizou o delegado. “Se ela fosse colocada numa maca, fosse tranquilizada, fosse ministrado a ela um anti-hipertensivo, com certez a morte dela, se ocorresse, iria ser em outra época.”
Apesar de uma sindicância interna da Prefeitura de Curitiba ter afastado três funcionários supostamente envolvidos no caso, a DHPP indiciou apenas o enfermeiro que realizou o atendimento inicial à vítima. Conforme Caricati, o profissional teria sido a única pessoa a ter contato direto com Maria da Luz, que durante o procedimento de triagem teve o quadro clínico considerado de pouca urgência (cor verde).
Em depoimento à polícia, o enfermeiro teria argumentado que seguiu as normas do Protocolo de Manchester para classificar o problema da paciente. Este protocolo é o padrão das UPAs de Curitiba. No entendimento do delegado, apesar de a metodologia dar certo respaldo ao profissional, o enfermeiro deveria ter procedido de maneira mais prudente.
“Ela apresentava sintomas como pressão alta, e com o histórico que ela já tinha de problemas cardíacos o funcionário deveria ministrar um medicamento. Pelo protocolo, ele tinha uma certa razão, mas o fato é que um profissional de vinte e três anos de experiência, formado, deveria, necessariamente, ter uma outra iniciativa naquele momento”, constatou.
Suposta omissão não foi investigada
A falta de atendimento a Maria da Luz das Chagas dos Santos no momento em que ela passava mal fora da UPA do Fazendinha não será investigada pela DHPP. De acordo com Caricati, a investigação concluiu que, neste caso, por se tratar de morte fulminante, não haveria indícios para apontar culpados. No entanto, o delegado ressaltou que este é um procedimento que deve continuar sendo analisado administrativamente pela prefeitura de Curitiba.
Logo após a morte de Maria da Luz, a Secretaria Municipal de Saúde instituiu uma comissão para analisar o caso. Depois de um mês de trabalhos internos, três servidores da unidade de saúde foram afastados de suas funções. O processo administrativo instaurado pela secretaria continua sendo analisado pela Procuradoria Geral do Município (PGM).
O caso
Na ocasião, familiares de Maria da Luz relataram que a mulher chegou à unidade por volta das 19 horas, sentindo fortes dores na cabeça e no peito, e morreu por volta das 23 horas, na porta da UPA. Como o caso teria sido classificado como não urgente, ela foi orientada a aguardar atendimento médico. A situação foi no dia 23 de junho.
Para aliviar as dores crescentes, Maria e o marido teriam ido até a farmácia em frente à UPA para comprar remédio. Na calçada da farmácia a mulher passou mal e caiu no chão, o que fez o marido voltar à unidade para pedir socorro.
Como eles estavam fora da unidade, a orientação que teria sido dada era de que o homem buscasse ajuda com os Bombeiros ou com o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). Nenhum dos dois serviços se deslocou até lá sob alegação de que não havia necessidade de enviar uma viatura para socorrer alguém que se encontrava em frente a uma unidade de saúde.
Os funcionários da farmácia ainda ajudaram o marido a levar Maria até a UPA utilizando uma cadeira de rodas, mas ela não resistiu.