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Polícia do Paraná investiga ação do MST em caso de jornalistas feitos reféns

A Polícia Civil do Paraná abriu inquérito para investigar uma ação de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) que teriam feito reféns dois jornalistas da TV Tarobá, afiliada da Band no Paraná, na quarta-feira (9). O episódio ocorreu na zona rural de Quedas do Iguaçu, município no Oeste do estado, onde centenas de famílias ocupam fazendas desde o início da semana.

Policiais civis realizaram uma operação na cidade nessa quarta-feira. “Cárcere é um crime grave, sem falar a liberdade de imprensa. Além desses, apuramos outros crimes que possam estar acontecendo na região. Se identificados os autores, vamos pedir suas prisões preventivas”, esclareceu o delegado-chefe da 15ª SDP, Adriano Chohsi.

Os jornalistas faziam uma reportagem sobre invasões realizadas nas propriedades Dona Hilda e Santa Rita, vizinhas à fazenda da madeireira Araupel, alvo de depredações esta semana. Na ocasião, milhares de mudas de pinus e eucalipto foram destruídas por trabalhadoras sem-terra. “Estávamos fazendo imagens do acampamento de longe, quando eles cercaram nosso carro com pedras, facões e foices nas mãos”, relatou a jornalista Patrícia Soncin. “Foram momentos de pavor”, afirmou o repórter cinematográfico Davi Ferreira.

Áudio divulgado pela empresa revela ameaças dos sem-terra. “Eles riscavam facões no chão e falavam em quebrar nossos equipamentos”, relembrou.

Os jornalistas foram encaminhados para um acampamento, onde permaneceram por mais de 20 minutos. “Fisicamente não (fomos agredidos), mas ameaçavam. Alguns diziam: Se fizer graça, a gente tomba.”

Os depoimentos foram formalizados na 15ª Subdivisão Policial (SDP) de Cascavel, cidade onde está sediada a emissora. Passado o susto, ambos voltaram a trabalhar. “Entendemos que esta é uma forma da imprensa ganhar força e de não baixar a cabeça”, ressaltou a editora-chefe da TV Tarobá, Sirlei Benetti.

O MST negou, por meio de nota, que integrantes do movimento apreenderam jornalistas da TV Tarobá. Sobre a ação na Araupel, o MST informou que a destruição de mudas ocorreu “para denunciar o modelo destrutivo do agronegócio e seus impactos para o meio ambiente, como por exemplo, a expansão da monocultura de pinus e eucalipto, que transforma as terras em um deserto verde improdutivo do ponto de vista da soberania alimentar.”

Entidades de classe se posicionaram sobre o ato contra os jornalistas da emissora. O Sindicato dos Jornalistas do Paraná (Sindijor) informou, por meio de nota publicada em seu site, que é “inaceitável qualquer tipo de intimidação e ameaça a jornalistas que impeça o livre exercício profissional”. A entidade informou ainda que “mesmo que o MST não concorde com as posições da TV Tarobá, e tenha decidido não conceder gravações à emissora, é esperado que ao menos os trabalhadores sejam respeitados”. O sindicato informou ainda que a orientação nesses casos é que os profissionais que tenham se sentido agredidos ou com a liberdade profissional cerceada “procurem a Polícia Militar e registrem Boletim de Ocorrência, para que as autoridades possam investigar o caso”.

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou nota nesta quinta-feira condenando a ação do MST. “Essa escalada de agressões e violência contra o trabalho jornalístico é fruto da intolerância, autoritarismo e impunidade”, afirma a associação na nota. “Em mais um episódio criminoso, os integrantes do MST atentaram contra a integridade física dos jornalistas, impediram que eles exercessem sua atividade profissional e, durante cerca de vinte minutos, os mantiveram reféns”, diz o texto.

A Associação Beltronense de Imprensa (ABI) repudiou “veementemente” a atitude dos integrantes do MST e se solidarizou com os profissionais. “É um absurdo privar a imprensa de ir em busca da informação e mais absurdo ainda é que parece que para o MST não existe lei nesse país.” A Associação Comercial e Industrial de Cascavel (Aciv), por meio de nota, classifica os últimos anos do movimento na região como “afrontadas e que o estado de direito não pode suportar”.

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