Na Cinelândia, no Rio de Janeiro, evento de combate ao preconceito religioso teve tendas de diversas crenças| Foto: Pedro Pantoja/Futurapress

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Vítima e agressor normalmente são próximos

Agência Estado

Rio de Janeiro - Os antropólogos Ana Paula Miranda e Fábio Reis Mota, da Universidade Federal Fluminense (UFF), lançaram ontem um dossiê sobre 17 casos de intolerância religiosa no Rio – 9 em 2008, 8 em 2009. Reis reconheceu que o número, levantado a partir de inquéritos e processos, é pequeno, mas destacou que há um alto grau de subnotificação.

Os episódios foram classificados em cinco tipos: agressão de vizinho, de familiar, no âmbito de culto neopentecostal, discriminação em casa e em espaços públicos. Em geral, há alguma relação de proximidade entre agressor e agredido antes da agressão. Vítimas e autores, em sua maioria, têm de 20 a 40 anos e se declaram brancos. Pretos e pardos são minoria. "As vítimas brancas se queixam mais porque em geral são umbandistas, de classe média, que sabem mais como fazer valer seus direitos", disse Santos.

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Governo

Plano recebe críticas de vários credos

Agência Estado

Rio de Janeiro - O Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa seria lançado ontem pelo governo federal, mas a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, adiou o lançamento para evitar problemas com católicos e evangélicos no ano eleitoral. O texto, no entanto, também não agradou a adeptos das religiões afro-brasileiras, que o consideraram decepcionante. "Você dá concessões de rádio e televisão para os neopentecostais e me dá cesta básica e mapeamento? Eles vão usar o rádio e TV para me atacar, me chamar de demônio. Isso é desigual", reagiu Ivanir dos Santos, integrante da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro. Para ele, o adiamento do anúncio também aconteceu devido à recepção fria que o plano teve dos credos que supostamente seriam beneficiados. "Não queremos um plano que só fale em assistência, queremos um plano que nos dê poder", afirmou. Santos, que teve acesso ao plano e chegou a ser convidado para ir a Brasília participar do seu lançamento, cobrou do presidente Lula a realização de uma reunião da comissão com ministros para discutir a proposta. O encontro, afirmou, foi prometido por Lula aos ativistas em 20 de novembro de 2008, Dia Nacional da Consciência Negra, mas ainda não aconteceu. "Quero contribuir para um plano, mas um plano para valer", afirmou ele.

Rio de Janeiro - Celebrado ontem em todo o Brasil, o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa foi marcado, no Rio de Janeiro, pela inauguração do primeiro Núcleo de Combate à Intolerância Religiosa da Polícia Civil do estado, na Gamboa, zona portuária da capital. As informações são da Agência Brasil.

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O delegado responsável pelo núcleo, Henrique Pessoa, explicou que não se trata de uma delegacia, mas de um espaço da polícia para acompanhar as denúncias de crimes e dar suporte às delegacias. "As ocorrências vão continuar sendo registradas nas respectivas circunscrições. O que faremos é monitorar os casos, fazer as estatísticas e assessorar as delegacias para que prestem o serviço adequado neste caso específico. O que queremos é criar aqui um núcleo para difundir o conhecimento a respeito dessa questão tão sensível e com isso resgatar a liberdade religiosa", afirmou.

Os trabalhos que deram origem ao núcleo começaram há cerca de um ano e meio, com o acompanha­mento da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa. Segundo o delegado, religiosos se queixavam do tratamento que recebiam ao fazer o registro na delegacia. "Num primeiro mo­­mento, procuramos criar uma forma de capacitar o policial para este tipo de registro, que era menosprezado pela falta de conhecimento sobre esse assunto", disse o delegado.

Pessoa celebrou o fato de ter sido criada, dentro da grade curricular da academia de polícia, uma disciplina específica para o estudo do crime de intolerância religiosa. "Já qualificamos 500 inspetores de polícia que estão sendo nomeados agora, especificamente na grade de intolerância religiosa. Aprenderam a capitular devidamente o crime e a trabalhar com o instrumento da Lei Caó [Carlos Alberto de Oliveira, Lei nº 7.437]", acrescentou.

O delegado explicou que até 2008 era muito difícil fazer qualquer estatística desses casos, pois um defeito no sistema não vislumbrava o Artigo 20 da Lei Caó. A capitulação dos crimes era feita de forma indevida, seja pelo artigo 208 (de impedimento ao culto) ou 140 (de injúria qualificada). Após a correção, o número aumentou expressivamente por causa da capitulação adequada. Segundo Pessoa, a comissão registrou, no ano passado, 28 queixas de intolerância religiosa.

Manifestações

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Na praça da Cinelândia, no Cen­tro da cidade, representantes de diferentes religiões armaram suas tendas para divulgar um pouco de suas crenças ao público e defender o direito à diversidade religiosa. Para Pai Renato de Oba­luaê, atos como esses servem para mostrar à população do Rio o empenho e o trabalho conjunto das diferentes religiões na luta contra a intolerância religiosa. "Vemos aqui católicos, muçulmanos, judeus, evangélicos, adeptos da umbanda e do candomblé divulgando o que acreditam e unidos, em harmonia", disse.

A cigana Jaqueline Assumpção acredita que o preconceito ainda é muito grande contra sua etnia e outras minorias. "A gente está tentando desmistificar essa falsa imagem que criaram dos ciganos de que somos filhos do diabo. As agressões são cada vez menos frequentes contra certos religiosos, estamos evoluindo, mas o preconceito persiste", afirmou.

Em Brasília, a Secretaria Es­­pe­­cial dos Direitos Humanos da Pre­­sidência da República promoveu, no Memorial dos Povos Indí­­genas, uma celebração ecumênica com diversos segmentos religiosos.