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manifestação popular

Polícia e foliões selam acordo pelo bem do carnaval curitibano

O bloco Garibaldis e Sacis espera repetir o sucesso dos domingos anteriores e pede que todos os foliões venham vestidos de branco | Antônio More/ Gazeta do Povo
O bloco Garibaldis e Sacis espera repetir o sucesso dos domingos anteriores e pede que todos os foliões venham vestidos de branco (Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo)
Segurando faixa com o lema da campanha, o grupo Garibaldis e Sacis quer fazer a última apresentação do ano do bloco em clima de harmonia, sem revanchismos |

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Segurando faixa com o lema da campanha, o grupo Garibaldis e Sacis quer fazer a última apresentação do ano do bloco em clima de harmonia, sem revanchismos

A semana começou com agressões físicas, iniciou um debate sobre liberdade e espaço público, desafiou intransigências e chega ao último dia útil refrescada por sopros de racionalidade emitidos pelos dois lados da discussão. Ontem, a Polícia Militar deu o aval para a realização do pré-carnaval do bloco Garibaldis e Sacis, no próximo domingo, no Largo da Ordem. A chefia da corporação, que chegou a sugerir a relocação da festa – realizada há 13 anos no Centro Histórico de Curitiba – garantiu a presença de 60 policiais no esquema de segurança, sendo dez agentes à paisana. Enquanto isso, o grupo carnavalesco iniciou uma campanha educativa para conscientizar os foliões a respeito do prejuízo coletivo causado por brigas.

Outras ações conjuntas também foram definidas. Bebidas em garrafas de vidro e vendedores ambulantes oferecendo álcool serão reprimidos pela polícia. Os organizadores, em contrapartida, prometem interromper a música caso surja algum foco de tumulto. Ontem, durante coletiva de imprensa, o clima era de harmonia entre as partes.

"Pedimos aos foliões que recebam bem os policiais, que estarão lá com o propósito de ajudar", recomendou Luiz No­­bre, um dos organizadores do Garibaldis e Sacis. "Não existe problema nenhum com o pré-carnaval. Nosso objetivo é ga­­rantir que todos possam se di­­vertir com segurança", redarguiu o coronel da PM Ademar da Cunha Sobrinho.

Direitos

O impasse, que durou quatro dias, ultrapassou a discussão imediata sobre o direito de se realizar a festa. A ação da PM no fim da edição do domingo passado, com evidências de abuso de autoridade e excesso de força física, levou a questionamentos sobre a capacidade do Estado de garantir que a cidade seja um es­­paço de confraternização entre os cidadãos.

"A pluralidade e a diversidade são bonitas no discurso, mas difíceis de implantar na vida prática", argumenta o presidente da Comissão de Liberdade de Ex­­pressão da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná, Rodrigo Xavier Leo­nar­­do. "A festa do bloco é algo fora da normalidade de Curi­tiba, um evento que nasceu pe­­queno e se tornou grande, e por isso merece o absoluto respeito. É o momento de a cidade e o Estado se mostrarem democráticos", argumenta.

O ineditismo da festa carnavalesca, que atraiu um público recorde de 7 mil pessoas no domingo passado, catalisou a falta de experiência da cidade em lidar com eventos desse porte que, além da concentração de pessoas, estimula um comportamento pouco usual dos participantes. "A brincadeira é sadia e fundamental", avalia Pedro Bodê, coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da Univer­sidade Federal do Paraná (UFPR).

"O conflito do domingo passado já criou uma espécie de animosidade para essa próxima edição. Mas, pelo próprio espírito do bloco, é possível que tudo ocorra bem se a polícia chegar tranquila e agir moderadamente se ocorrer qualquer conflito", prevê.

Foliões

O comportamento dos participantes, que igualmente rendeu críticas tanto da polícia quanto de cidadãos preocupados com o espaço e o patrimônio público, também demanda amadurecimento. "Não se ensina isso – ter uma cultura da brincadeira. É preciso prática", pondera a professora Selma Baptista, membro do Departa­mento de Antropologia da UFPR e pesquisadora de carnaval.

Devido à falta de costume com manifestações lúdicas, a diversão ultrapassou o limite, rumo à libertinagem e ao desrespeito. A única forma de combater o problema, defende ela, é possibilitar que uma cultura lúdica saudável se cristalize no inconsciente coletivo de Curitiba.

"É importante se sentir parte de um todo, se sentir diferente, sem saber o porquê. A cidade de Curitiba se tornou sem alegria, que morreu por falta de política de cultura popular. É preciso reinventar os blocos em moldes contemporâneos, e o Garibaldis e Sacis é uma excelente pedagogia dessa alegria".

Agremiação lança campanha "Eu peço paz"

Rodrigo Batista, especial para a Gazeta do Povo

O bloco Garibaldis e Sacis lançou uma campanha educativa para promover a paz durante a festa de domingo. Com o título "Vem meu amor, bandeira branca, eu peço paz", trecho de uma das músicas executadas pelos integrantes do bloco, o grupo pretende evitar que os foliões se envolvam em brigas e que garantam a festa com alegria.

Itaércio Lopes Rocha, presidente da Associação Recreativa e Cultural Amigos do Garibaldis e Sacis, disse que o número de foliões tem crescido nos últimos anos, o que exige um movimento para promover a paz e educar o folião. "Todos nós de Curitiba estamos ainda aprendendo a pular carnaval, inclusive o Garibaldis e Sacis."

O grupo reforçará a campanha até domingo nas redes sociais para que os foliões vistam roupas brancas e levem perfumes e flores para promover a alegria e a paz. Rocha também reforçou que o folião não deve usar bebidas em garrafas de vidro para evitar problemas maiores em caso de brigas. "Peço que os foliões recebam bem os policiais que vão estar lá para nos ajudar", disse Luiz Nobre, integrante do bloco. "Vingança é arma e escudo de ignorante e não queremos isso durante a festa" disse o presidente.

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