O bloco Garibaldis e Sacis espera repetir o sucesso dos domingos anteriores e pede que todos os foliões venham vestidos de branco| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Medidas

Reunião entre PM, organizadores, prefeitura e Ministério Público definiu regras para a última apresentação de 2012 do Garibaldis e Sacis:

Data e local

Largo da Ordem, no Centro Histórico de Curitiba, no próximo domingo. O bloco meça às 16h30, mas o policiamento preventivo será realizado desdes as 14 horas.

Segurança

50 policiais militares fardados e dez à paisana.

Restrição

Será proibido portar garrafas de vidro. Não será permitida a permanência de vendedores ambulantes que estejam comercializando bebidas alcoólicas.

Precaução

Em caso de briga ou confusão, ainda que localizada, o bloco vai parar a música. A festa continua apenas após a ação policial.

Campanha

O bloco Garibaldis e Sacis convida os participantes a vestir roupas brancas e levar perfumes e flores para a festa.

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Controle de multidões

Policiais militares estão preparados para conter excessos, diz comandante

A formação da Polícia Militar para controlar multidões inflamadas foi colocada em dúvida no último domingo, quando PMs entraram em confronto com foliões no Largo da Ordem. Especialistas em segurança pública são unânimes em afirmar que a polícia deve ter uma formação especial para não perder o controle em situações como essa.

Para o ex-secretário da Segurança Pública de Minas Gerais Luis Flávio Sapori há duas hipóteses para ações descontroladas de policiais. A primeira razão geradora de excessos, de acordo com ele, é a falta de comando. "Comando frágil não consegue controlar a tropa", afirma.

O segundo motivo é a falta de capacitação. "A lógica do baixar o cacete acaba sendo a técnica preferencialmente utilizada. Se há erros é porque os policiais estão mal capacitados. Tem que ser bem formado para lidar com pressão, ofensa e agressão", explica.

Treinamento

O comandante da Companhia de Choque da PM, capitão André Dorecki, especialista em controle de distúrbio civil, garante que os policiais do Paraná estão bem preparados para ações como a que aconteceu no Largo da Ordem. "Existe uma doutrina de conhecimento da polícia usada no mundo inteiro. Fazemos adequações para a realidade paranaense", conta.

No Paraná, durante o curso de formação com 12 meses de duração, o soldado tem 40 horas da disciplina de operações policiais especiais, onde há a aprendizagem de controle de distúrbio civil.

Além da parte teórica, explica o capitão, há simulações constantes onde treinam formação, técnica e aplicação de armas não letais. "Esse tempo na disciplina é o suficiente. Ela é trabalhada da metade do curso para o fim, porque o policial já terá conhecimento de defesa pessoal, direitos humanos, abordagens", conta.

Efeito surpresa

Na avaliação do comandante geral da PM, coronel Roberson Bondaruk, o principal problema em ações como a do último domingo é o efeito surpresa. "É normal que algumas pessoas se alterem, mas não é comum que se alterem como no domingo. Por isso os policiais se retraíram [diante das pedradas]", explica.

Segundo Bondaruk, durante a abordagem inicial, os policiais recuaram diante da multidão e chamaram reforço. Ele avaliou o recuo como uma ação técnica normal. "O policial mal formado sacaria a arma e atiraria para cima", afirma.

De acordo com o comandante, existem fenômenos de distúrbio civil que acabam enfraquecendo a ação policial. O anonimato entre a multidão facilita o aumento da agressividade contra a polícia. A ação em grupo também encoraja alguns a se unirem contra os policiais.

Segurando faixa com o lema da campanha, o grupo Garibaldis e Sacis quer fazer a última apresentação do ano do bloco em clima de harmonia, sem revanchismos

A semana começou com agressões físicas, iniciou um debate sobre liberdade e espaço público, desafiou intransigências e chega ao último dia útil refrescada por sopros de racionalidade emitidos pelos dois lados da discussão. Ontem, a Polícia Militar deu o aval para a realização do pré-carnaval do bloco Garibaldis e Sacis, no próximo domingo, no Largo da Ordem. A chefia da corporação, que chegou a sugerir a relocação da festa – realizada há 13 anos no Centro Histórico de Curitiba – garantiu a presença de 60 policiais no esquema de segurança, sendo dez agentes à paisana. Enquanto isso, o grupo carnavalesco iniciou uma campanha educativa para conscientizar os foliões a respeito do prejuízo coletivo causado por brigas.

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Outras ações conjuntas também foram definidas. Bebidas em garrafas de vidro e vendedores ambulantes oferecendo álcool serão reprimidos pela polícia. Os organizadores, em contrapartida, prometem interromper a música caso surja algum foco de tumulto. Ontem, durante coletiva de imprensa, o clima era de harmonia entre as partes.

"Pedimos aos foliões que recebam bem os policiais, que estarão lá com o propósito de ajudar", recomendou Luiz No­­bre, um dos organizadores do Garibaldis e Sacis. "Não existe problema nenhum com o pré-carnaval. Nosso objetivo é ga­­rantir que todos possam se di­­vertir com segurança", redarguiu o coronel da PM Ademar da Cunha Sobrinho.

Direitos

O impasse, que durou quatro dias, ultrapassou a discussão imediata sobre o direito de se realizar a festa. A ação da PM no fim da edição do domingo passado, com evidências de abuso de autoridade e excesso de força física, levou a questionamentos sobre a capacidade do Estado de garantir que a cidade seja um es­­paço de confraternização entre os cidadãos.

"A pluralidade e a diversidade são bonitas no discurso, mas difíceis de implantar na vida prática", argumenta o presidente da Comissão de Liberdade de Ex­­pressão da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná, Rodrigo Xavier Leo­nar­­do. "A festa do bloco é algo fora da normalidade de Curi­tiba, um evento que nasceu pe­­queno e se tornou grande, e por isso merece o absoluto respeito. É o momento de a cidade e o Estado se mostrarem democráticos", argumenta.

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O ineditismo da festa carnavalesca, que atraiu um público recorde de 7 mil pessoas no domingo passado, catalisou a falta de experiência da cidade em lidar com eventos desse porte que, além da concentração de pessoas, estimula um comportamento pouco usual dos participantes. "A brincadeira é sadia e fundamental", avalia Pedro Bodê, coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da Univer­sidade Federal do Paraná (UFPR).

"O conflito do domingo passado já criou uma espécie de animosidade para essa próxima edição. Mas, pelo próprio espírito do bloco, é possível que tudo ocorra bem se a polícia chegar tranquila e agir moderadamente se ocorrer qualquer conflito", prevê.

Foliões

O comportamento dos participantes, que igualmente rendeu críticas tanto da polícia quanto de cidadãos preocupados com o espaço e o patrimônio público, também demanda amadurecimento. "Não se ensina isso – ter uma cultura da brincadeira. É preciso prática", pondera a professora Selma Baptista, membro do Departa­mento de Antropologia da UFPR e pesquisadora de carnaval.

Devido à falta de costume com manifestações lúdicas, a diversão ultrapassou o limite, rumo à libertinagem e ao desrespeito. A única forma de combater o problema, defende ela, é possibilitar que uma cultura lúdica saudável se cristalize no inconsciente coletivo de Curitiba.

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"É importante se sentir parte de um todo, se sentir diferente, sem saber o porquê. A cidade de Curitiba se tornou sem alegria, que morreu por falta de política de cultura popular. É preciso reinventar os blocos em moldes contemporâneos, e o Garibaldis e Sacis é uma excelente pedagogia dessa alegria".

Agremiação lança campanha "Eu peço paz"

Rodrigo Batista, especial para a Gazeta do Povo

O bloco Garibaldis e Sacis lançou uma campanha educativa para promover a paz durante a festa de domingo. Com o título "Vem meu amor, bandeira branca, eu peço paz", trecho de uma das músicas executadas pelos integrantes do bloco, o grupo pretende evitar que os foliões se envolvam em brigas e que garantam a festa com alegria.

Itaércio Lopes Rocha, presidente da Associação Recreativa e Cultural Amigos do Garibaldis e Sacis, disse que o número de foliões tem crescido nos últimos anos, o que exige um movimento para promover a paz e educar o folião. "Todos nós de Curitiba estamos ainda aprendendo a pular carnaval, inclusive o Garibaldis e Sacis."

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O grupo reforçará a campanha até domingo nas redes sociais para que os foliões vistam roupas brancas e levem perfumes e flores para promover a alegria e a paz. Rocha também reforçou que o folião não deve usar bebidas em garrafas de vidro para evitar problemas maiores em caso de brigas. "Peço que os foliões recebam bem os policiais que vão estar lá para nos ajudar", disse Luiz Nobre, integrante do bloco. "Vingança é arma e escudo de ignorante e não queremos isso durante a festa" disse o presidente.