Veículos blindados da Marinha com metralhadoras e fuzileiros navais se uniram nesta quinta-feira à polícia do Rio de Janeiro nas operações contra o crime organizado, no quinto dia da onda de violência que já deixou ao menos 23 mortos e assusta a cidade.
O alvo da principal operação das forças de segurança é a favela Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, zona norte, um dos grandes redutos de criminosos da facção criminosa acusada de comandar os ataques a veículos e alvos polícias esta semana em vários pontos da cidade, informou a polícia.
Seis veículos militares blindados da Marinha, que nunca foram usados nos combates em favelas da cidade, vão transportar soldados do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) para o interior da favela. Na quarta-feira, o blindado do Bope, conhecido como "caveirão", teve dificuldades para entrar na favela devido a barricadas construídas pelos criminosos.
Outras barreiras foram erguidas nos caminhos para chegar à favela nesta quinta-feira, e um carro foi incendiado no principal acesso da Avenida Brasil para o Complexo da Penha, impedindo a passagem de carros, mostraram imagens de TV ao vivo. As tropas, no entanto, já tinham passado.
Imagens de TV também mostraram o início da ação com os veículos blindados superando barricadas, ao som de disparos de tiros.
"O objetivo de hoje é assumir o território novamente que foi tomado pelo tráfico. Estamos tomando esse local e retirando da sociedade essa situação de refém do tráfico", afirmou o coronel Álvaro Rodrigues, comandante do Estado-Maior da PM e chefe da operação. Segundo o coronel, a operação não tem prazo para acabar.
Ao menos 55 veículos, entre carros, ônibus e vans, foram incendiados pelos criminosos desde domingo, quando foi deflagrada a onda de ataques a veículos e alvos policiais na cidade e região metropolitana. Só nesta quinta-feira, foram 14 veículos queimados, incluindo um ônibus em que o motorista levou um tiro na cabeça por ter se recusado a parar o coletivo. Ele foi levado para um hospital em estado grave.
De acordo com a PM, morreram 23 pessoas em confrontos com policiais em três dias de operações em favelas, com mais de mil homens envolvidos, em reação aos ataques. Nesta quinta, a polícia permanece com ações em diversas comunidades controladas pelo crime organizado, além da Vila Cruzeiro.
Durante uma incursão do Bope na Vila Cruzeiro na quarta, uma adolescente de 14 anos foi atingida por uma bala perdida dentro de casa e morreu no hospital. Outros moradores também foram feridos por balas e levados para o principal hospital da região, segundo a Secretaria de Saúde do Estado.
Autoridades da área de segurança consideram que essas ações violentas são uma resposta à nova estratégia implementada na capital com as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), que provocaram a saída de chefes do tráfico de favelas onde esse tipo de policiamento foi instaurado. Acuado e forçado a deixar algumas áreas da cidade, o crime organizado estaria reagindo.
EXPLOSIVOS ENCONTRADOS
Na madrugada desta quinta, o esquadrão antibombas da polícia foi acionado após garis terem encontrado explosivos amarrados a um relógio numa rua da zona norte da cidade.
Seis cartuchos de dinamite, amarrados a um relógio, foram encontrados ao lado de uma lata de lixo durante a limpeza de ruas em Madureira. De acordo com um inspetor da polícia, o dispositivo não tinha detonador, mas o material é altamente explosivo.
"Não tinha mecanismo de acionamento, jamais iria explodir, mas é algo que deixa o psicológico bastante abalado, porque são explosivos com poder de destruição", disse por telefone um inspetor do esquadrão, que pediu para não ser identificado.
A implantação das UPPs em 15 das centenas de favelas espalhadas pela cidade é considerada o maior avanço na área de segurança pública da capital fluminense nos últimos anos, e a medida foi inclusive citada pelo Comitê Olímpico Internacional como um exemplo de que a cidade será segura para a Olimpíada de 2016. O Rio também será palco central da Copa do Mundo de 2014.
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