MP e delegados defendem ação policial
O Ministério Público (MP), a Associação dos Delegados de Polícia (Adepol) e o Sindicato dos Delegados de Polícia (Sidepol) do Paraná saíram em defesa ontem da delegada Paula Brisola, que conduz as investigações sobre supostos homicídios na UTI do Hospital Evangélico. O ato de desagravo ocorreu um dia após a instituição de saúde reclamar em público da atuação policial no caso. "Os áudios são as principais provas do inquérito, e os áudios são estarrecedores", disse o presidente da Adepol, Kiyoshi Hattanda (foto). O presidente do Sindepol, Jairo Estorilho, reforçou a tese de que não houve abuso de autoridade em nenhuma etapa da investigação. Ele também classificou como inadequado o posicionamento do hospital, que titulou a operação como policialesca e midiática. "A classe médica presta um enorme serviço à sociedade. Mas os médicos não estão acima da lei e serão investigados caso seja necessário", disse Estorilho.
Sem titulação
Uma entidade nacional de médicos intensivistas desmentiu a afirmação do Hospital Evangélico de Curitiba sobre a titulação da médica que está sendo investigada pelas mortes na UTI geral. "A Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), única entidade reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB) como representante dos profissionais que atuam nas unidades de terapia intensiva, comunica que a médica Virgínia Helena Soares de Souza não é titulada em Medicina Intensiva, pois não consta seu registro como especialista titulada no CFM, tampouco na Amib." Segundo a associação, é necessário fazer dois anos em residência intensiva e uma prova para obter o título. "Se o mesmo não for certificado pelo CFM, não tem validade legal", diz a nota.
Erramos
A foto publicada na reportagem "Derrubado sigilo no inquérito que apura mortes em hospital", na edição de ontem, não era do advogado Gláucio Antônio Pereira, mas sim do advogado Hélio Gomes Coelho Júnior, conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Ambos estavam presentes na entrevista coletiva da direção do Hospital Evangélico. Aos leitores, nossas desculpas pelo equívoco.
Exames de necropsia feitos em pacientes que morreram no Hospital Evangélico entre o fim de dezembro de 2011 e março de 2012 apontaram para a existência de pulmões congestionados e com secreção, o que deu força à denúncia anônima sobre uso de medicamentos com a intenção deliberada de matar pacientes na UTI geral da instituição. Entretanto, a investigação da Polícia Civil e do Ministério Público sobre o caso também revelou que remédios desse tipo não deixariam vestígio no corpo, e que para comprovação dos fatos seria necessário colocar um agente infiltrado, com autorização para registrar áudios e vídeos dentro do hospital.
A ideia, no entanto não chegou a ser levada a cabo. Nesta quarta-feira (27), a Polícia Civil divulgou uma nota esclarescente que "a execução da medida [infiltração de um agente na UTI] se tornou inviável do ponto de vista operacional, optando-se pela interceptação telefônica autorizada judicialmente".
De qualquer forma, os detalhes da investigação vieram à tona ontem, após a Justiça determinar o fim do sigilo do inquérito que apura seis mortes na UTI do Evangélico, as quais teriam tido participação de Virgínia Helena Soares de Souza, chefe da unidade, e de outros quatro profissionais que atuavam no local, todos presos atualmente. Entre os documentos a que a Gazeta do Povo teve acesso, não constam gravações nem relatórios sobre os fatos.
Em um dos trechos do pedido de prisão temporária feito à Justiça, há partes de conversas que podem ter sido gravadas pela polícia. Em uma delas, a médica afirma que há doentes que "já estão mortos", em uma constatação de que alguns pacientes não podem mais se recuperar. Em outro momento, ela fala que não adianta "entulhar a UTI" e que é preciso "girar". Inicialmente, o juiz não permitiu a interceptação telefônica, mas depois deu a permissão.
A denúncia original, feita de forma anônima, usou o termo "a prática de homicídios em pacientes da UTI", que tinha a intenção de liberar leitos na unidade. As vítimas seriam pacientes que estavam em coma, com risco de ter sequelas ou de demorar para sair da situação. Segundo a denúncia, o primeiro passo era diminuir a frequência do respirador e, em seguida, ministrar um sedativo "geralmente Pavulon ou Proposol" , o que causava a diminuição da atividade respiratória e o possível óbito do paciente.
A polícia verificou os laudos de cinco homens um de 24 anos, morto em dezembro de 2011; outro de 45 anos, morto em 8 de março de 2012; o terceiro em 24 de fevereiro; o quarto, em 2 de março; e, por fim, outro homem morto em 3 de março; há ainda outra pessoa, não identificada no inquérito. Os familiares dessas pessoas estão sendo comunicadas pela polícia e, enquanto isso, a Gazeta do Povo preservará o nome das vítimas.
Defesa
"Primeiro prenderam para depois investigar", criticou o advogado de Virgínia, Elias Mattar Assad. De acordo com ele, a polícia não conhece medicina legal. "Vou provar isso no curso do caso."
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