Dos lojistas do Camelódromo de Londrina (Norte do estado), 98% praticaram crimes de contrabando, descaminho ou falsificação e vão responder inquérito junto à Polícia Federal. Além disso, 80% das mercadorias consideradas ilegais foram apreendidas.
O saldo final da operação Capitão Gancho II, que surpreendeu os comerciantes no dia 12 de julho, foi divulgado na terça-feira (11) pela Receita Federal (RF), dois meses depois da ação que resultou em tumulto entre lojistas e a polícia. No total, a RF contabilizou 434.657 itens apreendidos, entre CDs e DVDs gravados (237.406 unidades) e até medicamentos (44 itens). O valor total de mercado estimado das mercadorias apreendidas passa dos R$ 3 milhões.
De acordo com o delegado-chefe da Receita, Sérgio Nunes, dos 320 boxes do Camelódromo, 305 tinham mercadorias com indícios de irregularidades, 12 estavam fechados e sem mercadorias e apenas três não tiveram retenção de produtos por estarem regulares.
"Os 305 boxes fiscalizados representam 234 lojas. Destas, apenas quatro não tiveram autuação e as mercadorias foram totalmente devolvidas. Ou seja, do total geral de lojas instaladas lá, apenas sete são regulares e dentro da lei", explicou. Entre as lojas, 155 têm inscrição cadastral (CNPJ) e as outras 79 estão sem cadastro ou com problemas cadastrais.
"Isto gerou outro problema para a Receita, que teve o trabalho adicional de identificar os proprietários", disse.
Apenas 90 lojistas apresentaram nota fiscal total ou parcial das mercadorias apreendidas, segundo Nunes. Outros 144 lojistas não se apresentaram na RF. "Estas já foram identificadas, mesmo sem a presença do dono, e serão notificadas, até por edital, se for o caso", afirmou.
Apesar do rigor da operação, dois meses depois o comércio informal voltou à normalidade no Camelódromo. CDs e DVDs piratas enchem as bancas. É possível comprar celular, perfumes, bonés, óculos, tênis e até notebookes. E se quiser, o cliente ainda pode parcelar em três vezes dependendo do valor nos cartões de crédito.
Nos dois andares do Camelódromo, a reportagem contou apenas quatro boxes fechados. Todos os outros estão abarrotados de mercadoria e cheio de clientes à procura das últimas novidades. A dona de um boxe de óculos (cópias de grifes famosas) disse que teve um prejuízo de cerca de R$ 5 mil, com a apreensão de sua mercadoria e que teve que pedir dinheiro emprestado a parentes para repor o estoque. "Nem fui atrás daquilo. Não tinha nota, vou justificar como?", argumentou.
Segundo o chefe da fiscalização Aduaneira de Londrina, José Carlos de Souza, apenas cinco camelôs apresentaram defesa depois da autuação. "Agora vamos fazer as diligências para ver se aquilo que foi argumentado tem procedência", explicou.
