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Um suspeito morreu e cinco foram presos por tráfico de drogas durante operação da Polícia Civil, nessa terça, 29, em conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida, em Barros Filho, na zona norte. A ação foi a primeira de combate ao controle, por traficantes e milicianos, de oito condomínios do programa federal de habitação construído na região metropolitana do Rio. No Residencial Haroldo de Andrade, agentes invadiram 60 apartamentos, um deles ocupado pela mulher de um traficante. O imóvel foi reformado e decorado com luxo. As paredes são revestidas por placas de mármore, decoradas com tinturas douradas. Havia móveis e equipamentos eletrônicos modernos, que destoam do padrão social dos moradores.

Os apartamentos estavam ocupados de modo irregular por famílias que habitavam favelas dominadas pela facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA). Com a chegada da polícia, houve fuga em massa. Em apenas seis apartamentos havia ocupantes, que não tiveram tempo de correr. Os demais 53 foram abandonados às pressas por moradores desesperados com a investida dos 350 policiais. O condomínio tem 1.260 unidades residenciais, todas ocupadas. A polícia ainda investiga quantas famílias são invasoras. No local, o programa é chamado de “Minha Casa Meu Inferno”.

Em um dos apartamentos vasculhados, policiais apreenderam um curió, pássaro silvestre, batizado de Playboy, apelido de Celso Pinheiro Pimenta, chefe do tráfico no vizinho Morro da Pedreira. Morto em agosto em ação da Polícia Federal (PF), Playboy ordenara, em março de 2014, a invasão ao condomínio. A ave foi enviada ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O traficante dono do apartamento luxuoso não foi identificado pela polícia.

Antes da expulsão comandada por Playboy, nas 60 unidades de 45 metros quadrados, com dois quartos e sala, viviam famílias pobres de Manguinhos, favela na zona norte dominada pelo Comando Vermelho (CV), facção inimiga da ADA. Esses moradores foram obrigados a deixar os apartamentos, com todos os pertences. De imediato, outras famílias, autorizadas pelo tráfico, assumiram os imóveis.

Como nos outros apartamentos foram alojadas pessoas de comunidades vinculadas à ADA, o bando de Playboy não as teria importunado. Mesmo assim, a Polícia Civil apura se há invasores ainda não identificados.

Para todas as 1.260 unidades, a quadrilha de traficantes estabeleceu taxas de limpeza (R$ 25 mensais) e de condomínio (R$ 350). Em um dos imóveis onde a polícia entrou, foram encontrados dois cadernos de contabilidade e 5 mil contratos falsos e em branco da Caixa Econômica Federal (CEF). Os papéis eram entregues pelos traficantes aos moradores irregulares, para que cada um os preenchesse da maneira que considerassem mais conveniente.

A Polícia Civil anunciou que haverá novas incursões ao Haroldo de Andrade. Quinze traficantes que atuam no local já foram identificados, mas a polícia só prendeu cinco deles. O delegado titular da 40ª Delegacia de Polícia (DP), Wellington Vieira, disse que 50 criminosos costumam circular armados pelo conjunto habitacional. Durante a operação, os bandidos escaparam por trilhas pela mata, que ligam os prédios ao Morro da Pedreira.

“Essas pessoas sofriam todo tipo de ameaças. Eles (os expulsos) recebiam prazo de cinco dias para deixarem a casa, só com a roupa do corpo. É o ‘Minha Casa, Meu Inferno’“, disse o delegado. Dois assassinatos ocorridos nas dependências do Haroldo de Andrade são investigados pela Divisão de Homicídios. A existência de um cemitério clandestino, ainda não identificado, é alvo de inquérito da Delegacia de Descoberta de Paradeiros.

A equipe policial chegou ao condomínio ao amanhecer. Segundo a versão da Polícia Civil, traficantes dispararam contra os agentes, que revidaram. O homem morto, cuja identidade não foi revelada, teria resistido à prisão e entrado em confronto com os agentes. Ele estaria com uma pistola, apreendida. A polícia conseguiu recuperar 30 carros e 15 motos roubados que estavam nas dependências do condomínio.

São oito os condomínios do Minha Casa Minha Vida na mira da polícia. Seis deles são dominados por facções criminosas (CV e ADA). Os outros dois, na zona oeste, estão sob o controle da milícia Liga da Justiça, formada, inicialmente, por policiais, ex-policiais, bombeiros, militares e profissionais da área de segurança. Hoje, a Liga abriga até ex-traficantes.

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