| Foto: Reprodução/Facebook

A Polícia Civil de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, abriu inquérito para tentar descobrir quem é o autor de mensagens racistas que têm sido enviadas a uma confeiteira da cidade. O caso ganhou repercussão na quarta-feira (8), quando Janete Martins, de 44 anos, compartilhou em sua rede social a foto de um embrulho que continha um rolo de papel higiênico, duas bananas e uma carta com a seguinte mensagem formada por recortes de revista: “Será que devo chamar vocês de fada dos doces ou dos macacos mulheres preta o lixo que virou lucro [sic]”. Foi o terceiro ataque contra a mulher em um mês.

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“Por ser negra, sempre percebi o racismo, mas, até então, eram ações mais veladas. Agora não. E por isso digo que é primeira vez na vida que sofro algo tão forte assim”, relatou a confeiteira, que mora com o marido e os dois filhos. Ela conta que foi avisada por uma vizinha sobre um embrulho deixado em frente a sua casa logo no início da manhã e, como era Dia da Mulher, achou que poderia ser alguma surpresa do marido, que estava viajando. “Não consegui acreditar que alguém tenha feito isso. É demais pra imaginar quem foi”, desabafou.

Segundo Janete, essa foi a terceira vez em um mês que ela sofreu ataques racistas. A primeira vez, no dia 8 de fevereiro, a confeiteira afirma ter sido rejeitada por uma cliente por ser negra. “Eu fui atender uma cliente que tocou a campainha. Quando ela chegou ao portão, pediu para falar com a proprietária e eu disse que era eu. Ela não acreditou, disse que tinha sido indicada por uma amiga, mas que essa amiga não tinha dito que eu era uma “pessoa de cor”. Eu disse que não “era de cor”, que era negra, e ela entrou no carro e saiu”.

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A confeiteira relatou que, desde então, já recebeu duas cartas com conteúdo de ódio. Além da que foi recebida nesta quarta-feira, outro bilhete foi deixado em sua casa no dia 17 de fevereiro em forma de “recado” para a “fada dos doces”: a maioria das pessoas branca, não gostam de gente de cor como você. Pena que poucas têm a coragem que tenho [sic]”, traz um dos trechos da carta.

“Fada dos Doces” é como Janete passou a ser chamada ironicamente pelo autor das cartas após o termo ter sido usado em uma postagem para defender a confeiteira no blog Palpite de Alice, da Gazeta do Povo, no dia 12 de fevereiro. O texto foi criado em cima da rejeição sofrida por Janete pela cliente que a dispensou por ser negra. “Tem sido um dos piores dias da minha vida. A garganta aperta, as lágrimas descem, mas a gente não pode parar até que a justiça seja feita”, comenta Janete.

Crime de racismo ou injúria racial?

A Delegacia de Araucária disse que deve tomar ainda nessa semana um novo depoimento da confeiteira. Também deve haver um encontro com a promotoria de Justiça da cidade para que o tipo de crime cometido pelo autor das mensagens seja definido em comum acordo.

Registrado inicialmente em Boletim de Ocorrência como injúria racial, os ataques recebidos pela confeiteira foram analisados também pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR). O órgão pediu à polícia a correção da tipificação do crime e quer que o documento aponte, em vez de injúria racial, crime de racismo.

“É muito importante ter a notificação certa no boletim, se não dá a impressão de que a coisa não acontece tanto, mas está acontecendo”, afirmou o promotor de Justiça Josilmar de Souza Oliveira.

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Quando a ofensa se dirige a todo um grupo étnico-racial e não a uma pessoa em particular, fica caracterizado o crime de racismo, que tem pena de um a cinco anos de prisão. Já a injúria racial estabelece prisão de um a três anos e multa para quem ofender a dignidade utilizando elementos de raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.