Investigações
"Operação padrão vai continuar", dizem policiais
A abordagem da mansão do Parolin fez parte de uma operação padrão deflagrada por policiais civis como forma de pressionar uma revisão no estatuto da categoria e em protesto a uma "crise institucional de moralidade". Ontem, policiais que participam do movimento disseram que outras ações estão previstas. "Estamos recebendo denúncias como nunca. Os cassinos encolheram, os bicheiros estão com medo", disse um dos agentes.
O objetivo dos policiais é aproveitar a operação padrão para checar denúncias, cujas investigações seriam barradas por superiores devido ao relacionamentos de autoridades do alto escalão do governo. "Tem coisas que são imexíveis. Você não pode mexer nisso, porque é negócio de protegido de um; não pode mexer naquilo, porque é de afilhado de outro. É preciso resgatar a moralidade da instituição", afirmou outro policial.
Sindicato
Estratégia foi aprovada em assembleia
Um policial civil que participou da ação no cassino no Parolin emitiu nota em defesa do grupo. Afirmou que a ação faz parte de uma operação padrão aprovada em assembleia do Sindicato das Classes Policiais Civis do Paraná (Sinclapol), dia 18. O movimento reuniria pelo menos 400 policiais civis. O objetivo da operação padrão é tentar acelerar a negociação salarial. A primeira ação, dia 25, no centro de Curitiba, com apreensão de pirataria, resultou em punições a dois policiais.
O presidente do Sinclapol, André Gutierrez, confirmou que a operação padrão foi aprovada em assembleia. Mas ressalta que seria coordenada pelo Sinclapol e não ocorreria de forma isolada como foi. "No dia 23, tivemos uma reunião para planejar a operação, mas esse grupo (de investigadores) não compareceu. No dia 25 também", explica. Segundo ele, a ação ocorreu sem o aval do Sinclapol.
A polícia sabia que a mansão do bairro Parolin, em Curitiba, funcionava como um cassino clandestino. Em 25 de novembro de 2011, o programa do governo Narcodenúncia havia recebido uma informação anônima detalhando não só contravenções como a exploração de jogos de azar, mas também crimes graves, como prostituição e tráfico de drogas. A casa de luxo foi "estourada" na quinta-feira à noite por policiais civis que agiram "por conta própria", sem comunicar aos superiores, acentuando uma crise na instituição.
O documento obtido pela reportagem contradiz o delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Marcus Vinícius Michelotto, que, em entrevista à Gazeta do Povo na semana passada, garantiu que as autoridades não sabiam das atividades ilícitas na casa. A reportagem tentou falar à noite com Michelotto, mas não conseguiu contato.
De acordo com denúncia, a mansão funcionava todos os dias da semana, do início da noite ao amanhecer, com "movimentações de carros, motos e pedestres". O registro descreve tráfico de drogas, exploração sexual de adolescentes, jogos de cartas e exploração de caça-níqueis. O documento menciona que a denúncia foi levada adiante: repassada ao coordenador regional do Narcodenúncia.
Ontem, a mansão permanecia fechada. Nos arredores, os vizinhos ainda estavam assustados por causa da movimentação policial, mas disseram que o cassino estaria funcionando há pelo menos um ano e meio. Eles estranhavam o fato de, ao cair da noite, se intensificar o fluxo de carros chegando no imóvel, mas disseram não se incomodar porque os frequentadores eram discretos.
"A casa era democrática. Vinha desde carros de luxo até modelos menos caros. Tinha muito jovem, mas também senhores de terno", definiu um vizinho. Outra moradora disse que a movimentação inicial na mansão se deu em torno de "meninas muito bonitas", que chegavam a ser fotografadas em roupas íntimas nos jardins da residência. "Eu não sei se tinha prostituição. Acho que elas eram acompanhantes de executivos."
Gerente
A operação na mansão terminou com a apreensão de 40 máquinas caça-níqueis, dois gabinetes de computador e uma máquina de cartão de crédito. Três homens foram levados ao 2.º Distrito Policial (DP), onde assinaram um Termos Circunstanciado pela contravenção e foram liberados. As investigações não passaram disso.
Um deles prestou depoimento como "viciado em jogos de azar". Mas, segundo policiais civis que fizeram a abordagem à mansão, ele era o gerente do esquema. "Tanto que foi ele quem deu instruções sobre como desligar as máquinas, para que se fizesse a apreensão", disse um policial que participou da operação. "O que é preciso apurar é porque estão protegendo essa pessoa."
Outro indício reforça a tese de que esse homem poderia ser o "gerente da casa": R$ 3.350 que estavam nas máquinas foram depositados em uma conta judicial em nome dele. Outros dois homens encaminhados à delegacia seriam funcionários da casa.
Polícia Militar
O comando da Polícia Militar está checando sobre o "eventual" conhecimento prévio da denúncia. Informou que tomará as medidas necessárias, sem citar detalhes, caso seja confirmado que a coordenação regional do Narcodenúncia tinha conhecimento do caso.
Ameaçado de morte
Enquanto a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) dedicava o dia de ontem a questionar a ação dos policiais civis que estouraram o cassino clandestino no Parolin, um dos integrantes da operação registrou Boletim de Ocorrência por ameaça de morte, no 2.º Distrito Policial. Segundo ele, 20 minutos depois de a mansão ter sido abordada, recebeu uma ligação pelo celular. Do outro lado da linha, um homem teria advertido por duas vezes: "Para com isso, que você vai morrer".
O policial afirma ter rastreado a origem da ligação: de um telefone público próximo ao cruzamento das avenidas Getúlio Vargas e República Argentina. "Eu tenho consciência de que estou em uma guerra. Mas nunca tive uma mácula em meu currículo. Eu não fiz nada errado. Então, vou para a luta", disse.
Em coletiva realizada pela manhã, o secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, evitou falar das contravenções e crimes envolvendo a mansão do Parolin, voltando a discussão à atuação dos agentes que participaram da operação. Alegou que a ação foi "uma ação isolada de um grupo de policiais" e que há informações de que policiais aposentados e novatos (que não poderiam ir para as ruas) estiveram na abordagem.
"Eu nunca vi policiais agindo encapuzados (...). Isso é mais próprio de uma organização paralimitar do que de polícia", disse o secretário. Apesar da declaração de Almeida César, agentes de forças de elite da polícia, como o Cope e o Grupo Tigre, costumam participar de operações com o rosto encoberto.
Policiais que articularam a operação negaram a participação de novatos na ação. De acordo com eles, a partir da metade da operação um agente aposentado passou a dar apoio logístico aos trabalhos. "Não tinha novatos, apesar de a Sesp ter criado essa situação, porque hoje há policiais que não passaram pela Escola de Polícia e que já andam com armas. No caso do Tigre em Gravataí (RS), um dos agentes era novato", disse.
O caso a que ele se referiu ocorreu no fim do ano passado, quando policiais do Grupo Tigre investigavam um sequestro e acabaram matando um sargento da Brigada Militar num confronto. Na sequência da operação, um delegado gaúcho atingiu um dos reféns, que morreu.
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