A Polícia Militar liberou ao menos seis dos nove detidos nesta quinta-feira (14) durante os dois protestos realizados em São Paulo contra o aumento da tarifa do transporte público na cidade.
Dos nove manifestantes detidos, oito -seis homens e duas mulheres- foram levados para 78° DP (Jardins) por terem atirado bombas caseiras e entrar em confronto com os funcionários do Metrô na estação Consolação.
A Secretaria da Segurança Pública informou que cinco manifestantes foram qualificados e liberados ainda na noite desta quinta. Dois foram presos em flagrantes e vão responder por dano qualificado ao patrimônio, por resistência e porte de entorpecente, e um terceiro responderá por resistência.
Os dois presos em flagrante terão que ser apresentados a um juiz em até 24 horas depois da detenção;as chamadas audiências de custódia, que têm por objetivo tutelar adequadamente a liberdade.
Um homem que puxou um freio de emergência de um dos trens na estação Butantã, na linha 4-amarela do metrô, interrompendo a circulação foi preso. A polícia, contudo, não soube informar nesta sexta (15) se ele já havia sido liberado.
Protesto desta quinta
Depois da tensão provocada pelo endurecimento dos discursos da polícia e do MPL (Movimento Passe Livre), a terceira manifestação expressiva contra o reajuste nas tarifas do transportes, para R$ 3,80, foi menos turbulenta nesta quinta-feira (14). O movimento já anunciou uma nova manifestação na terça-feira (19), na esquina das avenidas Rebouças e Faria Lima.
Após a cobrança do governo estadual, manifestantes aceitaram divulgar o trajeto das duas passeatas, e não houve repressão policial. Os grupos partiram nesta quinta do Theatro Municipal (centro) e do largo da Batata (zona oeste).
O protesto que seguiu pelo centro foi encerrado sem confusões até a chegada no Masp (Museu de Arte de São Paulo), na Paulista, região central da cidade. O outro também, até a chegada no Butantã. No fim do ato, “black blocs” (que prega destruição de patrimônio público e privado) vandalizaram a estação de metrô Consolação.
Tanto os organizadores quanto a Polícia Militar recuaram de posições mais extremas que marcaram protestos anteriores, permitindo que a passeata ocorresse em dois pontos da cidade, por quatro horas, sem confronto.
Pela manhã, representantes do Passe Livre se negaram a participar de reunião com a Promotoria e a Secretaria da Segurança Pública, mas, duas horas e meia antes dos atos marcados para as 17h, cederam e aceitaram, pela primeira vez, revelar os trajetos que iriam percorrer.
Essa era uma das principais cobranças do governo estadual, com base no artigo 5º da Constituição, que determina aviso prévio às autoridades sobre os protestos.
A PM, por sua vez, também desistiu de encurralar os manifestantes e liberou a passagem, sem repetir a repressão adotada no ato de terça (12) -quando, após impasse sobre a rota a ser seguida, foram lançadas bombas antes mesmo de haver confronto.
Depredação
Na dispersão, “black blocs” quebraram vidros e provocaram correria na estação Consolação do metrô. Ela estava fechada e, quando a entrada foi liberada, manifestantes tentaram pular as catracas. Depois de serem contidos por seguranças, eles atiraram bombas caseiras e entraram em confronto com os funcionários do Metrô.
A polícia fechou novamente a estação, e seis homens e duas mulheres foram levados ao 78º DP (Jardins). Do lado de fora, a PM atirou bombas de gás na Paulista, causando pânico entre manifestantes e pedestres. A reportagem presenciou duas mulheres idosas, que não faziam parte do protesto, caírem na rua Augusta, ao fugir das explosões.
A jornalista Cinthia Gomes, da rádio CBN, foi atingida por um disparo de bala de borracha. O tiro acertou a repórter enquanto ela fazia a transmissão ao vivo da cobertura, na esquina da rua Haddock Lobo com a avenida Paulista. Ela recebeu atendimento em um hospital da região.
A PM estimou cerca de 2.000 participantes no protesto. O MPL falava em 6.000. O primeiro protesto do MPL, na sexta (8), foi marcado por atos de vandalismo de “black blocs”, com depredação de agências bancárias, ônibus e veículos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
Já a manifestação de terça-feira (12) havia sido marcada pela nova estratégia mais repressiva da PM, que sufocou a manifestação ao atirar bombas contra manifestantes e jornalistas. Houve 28 feridos, segundo a organização. Nos dois casos, houve confusão e cenas de violência logo no começo do protesto.
O reajuste das passagens unitárias de ônibus, metrô e trens foi anunciado pelas gestões Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) no final do ano passado -e passou a valer no último dia 9. A alta de 8,6% ficou um pouco abaixo da inflação acumulada -superior a 10%.
O secretário Alexandre de Moraes (Segurança) chegou a acusar na quarta (13) líderes do MPL de encobrir as ações dos “black blocs”. Ele afirmou que a polícia continuará a tipificar as prisões de manifestantes como dano ao patrimônio público e agressões, mas, em se tratando de “black blocs”, serão enquadrados como “organização criminosa” -conforme também foi cogitado em 2013. A pena, nesse caso, é mais dura, de até 8 anos de prisão. No caso de dano, varia de um mês a três anos de detenção.