Veja a seguir a transcrição de uma entrevista com o delegado Cartaxo, feita ontem à tarde:
Repórter O senhor pode conversar comigo sobre a matéria que saiu na agência (Agência Estadual de Notícias, do governo do estado)?
Cartaxo Não. É aquilo lá. Sem comentários.
Repórter Só uma pergunta, por gentileza. O senhor me disse na sexta-feira (13) que não havia sido roubado nada do casal. E hoje veio a informação do indiciamento por latrocínio (roubo seguido de morte);
Cartaxo Eu não lembro de ter dito isso para você.
Repórter Está gravado aqui.
Cartaxo Ah, você gravou? Então eu devo ter me enganado.
Repórter O que mudou nesses (sete) dias?
Cartaxo O depoimento dela. Foi feito na quinta-feira.
Repórter Pois é, mas a gente conversou na sexta-feira.
Cartaxo Não, o depoimento dela foi na segunda-feira.
Repórter Na segunda-feira agora?
Cartaxo É.
Repórter E roubaram o que deles?
Cartaxo Dinheiro.
Repórter Quanto?
Cartaxo Ah, vai. Tá na matéria? Você quer me derrubar de novo?
Repórter Não.
Cartaxo Então não me pergunte isso. Se não tá na matéria não é para noticiar.
Repórter Roubaram dinheiro deles então?
Cartaxo Acho que sim.
Repórter Algum outro objeto de valor? Máquina, alguma coisa.
Cartaxo Eu não vou te esclarecer isso, Karlos. P..., mas que coisa!
Repórter Mas, doutor...
Cartaxo Ah, pô. Ah, para de me encher o saco, c...
Repórter Mas não elucidou o caso?
Delegado desliga o telefone.
A nova linha de investigação adotada pela polícia sobre o crime do Morro do Boi, em Caiobá, é de que o criminoso teria assaltado os jovens e depois atirado. Por isso o suspeito vai responder pelo crime de latrocínio (roubo seguido de morte). Um outro ponto importante do caso também ganhou uma outra versão: o homem não teria estuprado a universitária, e sim cometido atentado violento ao pudor, ou seja, tocado nas partes íntimas da vítima sem chegar ao ato sexual.
A partir dessas informações, o suspeito preso na terça-feira deve ser indiciado. A polícia tem dez dias para concluir o inquérito após a prisão. E o Ministério Público, depois disso, tem cinco dias para oferecer ou não a denúncia. Só assim o processo judicial será aberto e o homem passará a responder a processo.
Por meio de um texto divulgado ontem no site da Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR), a polícia afirmou ainda que a camiseta polo encontrada no local foi descartada como prova criminal: o exame de DNA feito pelo Instituto de Criminalística comparando o material genético do homem preso e o de uma mancha de sangue na camiseta deu negativo.
O delegado coordenador das investigações, Luiz Alberto Cartaxo, falou à Sesp que o homem vai responder por atentado violento ao pudor, e não por estupro, porque a jovem não teria declarado ter sido estuprada.
Uma declaração do secretário de Segurança, Luiz Fernando Delazari, dá a entender que as investigações foram resolvidas. "Este era mais um caso que desafiava a polícia do Paraná, mas o fato de a jovem ter sobrevivido, ser vítima e testemunha ocular do crime foi decisivo para elucidarmos o caso. Desde que tudo aconteceu, a polícia não descansou um minuto sequer para identificar e prender este criminoso, que agora será colocado à disposição da Justiça", disse.
A polícia, pelo menos até o momento, não apresentou provas materiais à imprensa ou ao advogado de defesa do suspeito que possam incriminá-lo. A secretaria diz apenas que a jovem carregava R$ 90 no bolso e que o dinheiro sumiu. A principal prova é testemunhal: a jovem reconheceu o suspeito como sendo o autor do crime. Há ainda outras duas testemunhas: uma que viu o mesmo homem descendo do Morro do Boi por volta das 21 horas do dia 31 de janeiro e outra que afirmou ter enxergado um homem com as características do suspeito na Praia Mansa, no dia seguinte ao crime, acompanhando o resgate da vítima. Ainda não se sabe as motivações do crime e onde está o revólver calibre 38 usado no atentado.
Colegas de trabalho do suspeito teriam dito à polícia que ele não foi visto no dia e horário do crime na empresa. Uma funcionária, que terá o nome preservado por medo de represálias, disse ontem à reportagem que esteve com o suspeito entre 20 e 21 horas do dia 31 de janeiro. Ela contou que não prestou depoimento ainda porque não foi procurada para depor. É exatamente nesse horário que a polícia acredita que o homem voltou ao morro para molestar a jovem.
O advogado de defesa do suspeito, Nilton Ribeiro, está indignado com a mudança na tipificação do crime, o que, segundo ele, foi uma manobra da polícia para que o caso não fosse a júri popular. "Se hoje ele fosse julgado em júri, seria absolvido. Disseram que foi latrocínio, e não homicídio, para que o processo corra normalmente e seja julgado por apenas um juiz e um promotor e não por um júri de sete pessoas", disse. Ribeiro disse ainda que não há provas de roubo, que as testemunhas ouvidas foram coagidas e que o cliente nega veemente ter cometido o crime.
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