Ciudad del Este O Ministério Público do Paraguai está investigando denúncia de que policiais de Ciudad del Este, fronteira com Foz do Iguaçu, circulam com carros brasileiros roubados. A informação veio à tona a partir de reportagens publicadas na imprensa paraguaia e acabou levando o ministro do Interior, Rogelio Benitez, a afastar quatro chefes da Polícia Nacional do Paraguai.
Os jornais TN Press e ABC Color flagraram policiais circulando com carros Vectra, Astra, Gol, Kadett, Golf, Parati, Celta e caminhonetes de luxo com placas frias ou sem placas nas ruas de Ciudad del Este. Suspeita-se que a maioria dos automóveis tenha sido roubada no Brasil. Alguns veículos tinham vidros escuros e equipamentos de som e vídeo de alto valor. Em 2003, reportagem da Gazeta do Povo havia mostrado o envolvimento de policiais civis brasileiros e de paraguaios na receptação de veículos roubados no Brasil. Na ocasião, os acusados exigiam dinheiro para identificar e devolver os veículos furtados.
O Ministério Público deu prazo até amanhã para o chefe da Polícia Nacional do Paraguai, Fidel Isasa, apresentar todos os veículos suspeitos que estavam em poder dos policiais. Estima-se que sejam pelo menos dez, conforme fotografias feitas por jornais paraguaios. "Vamos ordenar que se faça uma perícia para descobrir os números originais dos chassis", diz o promotor Rafael Ojeda. Após a perícia, o promotor pretende checar a procedência dos carros com as autoridades brasileiras.
Um dos veículos em situação suspeita é um Golf prata, ano 2004, que circulava com o policial Blas Vera, chefe do Grupo Especial de Operações (GEO) da Polícia Nacional. Ele foi afastado do cargo juntamente com o chefe da Polícia Nacional de Alto Paraná, Aníbal Leon, o chefe de Ordem e Segurança, venerando Almirón, e o diretor da 4.ª Zona Policial, Alessandro Duarte.
O caso começou a ser investigado por Ojeda após a sede do jornal TN Press, responsável pelas primeiras denúncias envolvendo os policiais, ter sido atingida por tiros no mês de maio. A partir da reportagem, o promotor pediu explicações para a polícia a respeito da origem do Golf. Segundo o jornal, o carro circulava com placas paraguaias APK 118, a mesma usada em uma Parati, de Assunção, supostamente roubada. Os policiais utilizavam o carro para trabalhar no setor de segurança privada e para fins particulares.
Logo após o afastamento da cúpula policial, o promotor solicitou ao comando da Polícia Nacional que apresentasse o Golf para investigações. Segundo Ojeda, o comando acabou permitindo que o policial Blas levasse o carro para Assunção, onde ele estaria vivendo. Ojeda ainda foi informado pela polícia que no trajeto até a capital teria ocorrido um acidente com o veículo e o carro acabou ficando inutilizado.
Segundo Ojeda, essa não é a primeira denúncia que ele investiga envolvendo o uso de carros roubados por policiais. O promotor já foi comunicado que a polícia paraguaia vinha usando um Vectra apreendido durante um assalto na cidade de Minga Guazú. O carro, utilizado por assaltantes, foi retido e ficou em poder da polícia pelo menos durante dois meses, até ser enviado ao Ministério Público.
Segundo os jornalistas paraguaios, há conivência entre os policiais e os ladrões de carros conhecidos como "cabriteiros". Os policiais acabam acobertando a receptação de carros roubados em Ciudad del Este e por sua vez são presenteados pelos "cabriteiros" com veículos, o que fomenta o roubo de carros no lado brasileiro. Segundo a Polícia Militar de Foz do Iguaçu, de janeiro a maio deste ano foram furtados e roubados 179 veículos na cidade. No ano passado, no mesmo período, o total foi 170.
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