Disputa por poder e território motivou matança

Diego Ribeiro

Tráfico de drogas, poder e disputa territorial são, em resumo, os motivos da chacina ocorrida no Walmart da Avenida das Torres, dia 31 de dezembro. É também a síntese do que tem acontecido na Vila Torres desde 2013, quando as mortes começaram a aumentar. A disputa acontece entre a "Turma da Chicarada" (mortos no Walmart), a "Turma do Predinho" (os atiradores) e a "Turma de Cima".

Uma fonte da polícia vê semelhança da disputa na Vila Torres, em menor escala, à guerra de facções em alguns morros no Rio de Janeiro. A organização é alta, armamento usado pelos três grupos é de grosso calibre e todos usam o medo para estabelecer o domínio entre os moradores.

A demonstração de força dessas gangues também é caracterizada pelas armas. A polícia apreendeu um fuzil calibre 556, considerado de alta potência, uma pistola 9 milímetros e outra calibre .40. Essa última pode ser da Polícia Militar, o que será confirmado com o laudo da perícia. Há suspeita de que as outras duas tenham vindo do Paraguai.

O resultado da disputa violenta recente entre os grupos pode ir além da chacina. Outras quatro mortes ocorridas depois da matança podem estar relacionadas à guerra entre as gangues da Vila Torres. Esses crimes estão sendo investigados pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa.

Três dias depois da chacina, a DHPP já tinha a identificação de todos, mas ainda não tinha mandados de prisão e nem a localização. Mesmo assim, conseguiu autorização para monitorar os suspeitos. A execução no Bairro Alto acabou frustrando os planos de prendê-los no fim de semana, mas expôs a localização deles.

CARREGANDO :)

Policiais da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) prenderam cinco suspeitos de integrar a "Turma do Predinho", que estiveram envolvidos na chacina do Walmart na virada do ano. Um duplo homicídio, na sexta-feira, no Bairro Alto, acabou ajudando os policiais a localizar o grupo. Os assassinatos ocorreram próximo ao prédio em que a turma estava escondida. Duas mulheres e três homens foram presos quando tentavam fugir para o interior do estado ontem de madrugada.

O delegado titular da DHPP, Miguel Stadler, explica que as duas mulheres estavam no mercado no dia da chacina. Elas avisaram os parceiros da presença da turma rival. Quando os grupos se confrontaram no estacionamento, os cinco integrantes da 'Turma da Chicarada' morreram na hora. O sexto morto na chacina era um dos autores do crime, vítima de fogo amigo.

Publicidade

Durante as investigações, a polícia obteve os mandados de prisão para parte do grupo, mas acabou surpreendida por um duplo assassinato de membros da "Turma do Predinho". O carro onde estavam, no Bairro Alto, foi atingido por inúmeros disparos. Um dos mortos participou da chacina no supermercado. Outro que estava no carro foi levado baleado ao hospital.

"Intensificamos a diligência não só para identificar os autores da segunda execução, mas para complementar a investigação da chacina anterior", explicou Stadler. No mesmo dia, a polícia localizou um fuzil e munição escondidos no sótão de um apartamento a 150 metros do local do duplo homicídio, no Bairro Alto. O local estava sendo usado como esconderijo pelo grupo. No sábado, a polícia encontrou duas pistolas (9 mm e .40), com carregadores e munição, em um matagal ao lado do apartamento.

"Certamente essas armas foram usadas na execução de várias pessoas na região da Vila Torres", afirma. Uma das armas, a pistola ponto 40, estava com o número de identificação lixado. "Acreditamos que seja patrimônio da polícia e foi subtraída." Ainda de acordo com Stadler, o fuzil foi usado em outras práticas criminosas, como cessão ou arrendados para outras facções. Entre os crimes praticados estariam os roubos a caixas eletrônicos.

Ousadia e alegria

A ousadia é tanta que, mesmo com a polícia na cola, o grupo que executou a chacina no Walmart faria um churrasco no último fim de semana, o que acabou não acontecendo porque três deles foram baleados em uma emboscada no Bairro Alto, na sexta-feira. Havia um saco de carvão no porta-malas do Voyage em que eles estavam.

Publicidade