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A Delegacia de Homicídios (DH) retomou as investigações de uma série de assassinatos atribuídos ao ex-comandante do Corpo de Bombeiros, o coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins. Os inquéritos (referentes a nove assassinatos e quatro tentativas de homicídios) haviam sido concluídos pela polícia em outubro do ano passado, com o indiciamento de Martins. O b>Ministério Público do Paraná (MP-PR) , no entanto, solicitou que novas diligências fossem realizadas. Os assassinatos ocorreram entre agosto de 2010 e janeiro do ano passado, na chamada Favela da Rocinha, no bairro Boqueirão, em Curitiba.
De acordo com o pedido do MP-PR, a polícia deve refazer o reconhecimento fotográfico de dois policiais militares que atuaram na área em que os crimes ocorreram. Isso porque, ao longo das investigações, a defesa de Martins sugeriu que os assassinatos teriam sido cometidos por um PM. O procedimento já havia sido realizado, mas os moradores da Favela da Rocinha não reconheceram os policiais apontados. As armas dos policiais também devem ser periciadas.
O MP-PR também quer que a polícia elucide em que momento das investigações as suspeitas começaram a recair sobre o ex-comandante dos Bombeiros. Para isso, nesta semana, a DH está localizando as testemunhas e pessoas que foram ouvidas no ano passado, para reconvocá-las. Tanto o interrogatório dos PMs, quando a tomada de depoimento das testemunhas devem ocorrer a partir da próxima semana.
"Queremos agilizar a realização desses procedimentos, para que o caso possa ser encerrado", disse o delegado Cristiano Augusto Quintas dos Santos, responsável pelas investigações.
Gaeco
Quando solicitou as novas diligências, o MP-PR pediu que os procedimentos fossem realizados pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) . A Polícia Civil, no entanto, não abriu mão das investigações e o caso continua com a DH. Segundo Quintas dos Santos, ainda assim, a realização das etapas pedidas pelo MP-PR deve ser acompanhada de perto pelo Gaeco.
"Considerando que o MP-PR foi quem requisitou essas diligências, vamos notificar oficialmente o Gaeco, para que acompanhe cada uma das etapas das investigações", adiantou o delegado.
O caso
Os cinco inquéritos foram concluídos em outubro e o coronel Jorge Luiz Thais Martins foi indiciado por nove homicídios e quatro tentativas. Os crimes ocorreram entre 8 de agosto de 2010 a 14 de janeiro de 2011. Foram cinco ataques (quatro duplos homicídios e um homicídio simples) que, segundo a polícia, obedeceram à mesma dinâmica: foram cometidos na madrugada, muito próximos um do outro (na chamada "Favela da Rocinha"), e as vítimas eram usuários de entorpecentes ou estavam em pontos de consumo.
Os ataques ocorreram próximo do ponto onde o filho de Martins foi morto em uma tentativa de assalto, em outubro de 2009. Os crimes começaram semanas depois que dois suspeitos pelo assassinato do filho do coronel e que seriam usuários de drogas foram postos em liberdade.
O ex-comandante dos Bombeiros responde pelos crimes em liberdade. Ele chegou a ficar preso por 19 dias, entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, mas foi posto em liberdade graças a um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). No dia 14 de outubro, Martins concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, em que deu sua versão sobre o caso e afirmou nunca ter usado arma.
Relatórios da DH explicam indicamento
A Gazeta do Povo teve acesso, com exclusividade, aos relatórios de conclusão dos inquéritos policiais. Neles, o delegado Cristiano Augusto Quintas dos Santos diz estar demonstrado que "o suspeito cometera tais homicídios, consumados ou tentados, ora sozinho, ora na companhia de uma segunda pessoa, que não foi identificada até o momento".
A conclusão está embasada em depoimentos de testemunhas e em reconhecimentos fotográficos realizados ao longo das investigações. "As inferências de que tais pessoas estariam drogadas ou alcoolizadas quando dos crimes (...) não servem para afastar os indícios (...). Admitir-se-ia eventual equívoco ou incerteza caso fosse um único reconhecedor. Mas, conforme se verifica, foram vários os reconhecedores, em vários crimes", assina o delegado. "Não se concebe que tais reconhecimentos tenham sido meras coincidências, muito menos que se tratasse de um "complô" para envolver um suspeito", complementa.
Em relação às testemunhas de defesa apresentadas pela defesa, o delegado avalia que "há de se ter certa cautela". De acordo com o relatório, as pessoas não souberam precisar o horário em que estiveram com o ex-comandante no dia dos crimes. "E, também porque são pessoas do relacionamento muito próximo do suspeito e/ou de seus familiares, a ponto de frequentarem a residência em horários diversos, sendo que deverão ser tidas apenas como meros declarantes", avalia.
Perícias
O relatório menciona que a arma apresentada pelo coronel não é a mesma usada nos crimes, mas ressalta que isso "não exclui sua suposta autoria". "Se é verdade que os projéteis retirados dos corpos das vítimas, assim como as cápsulas apreendidas no local, não conferem com a arma que foi apresentada pelo suspeito, também não é menos verdade que o suspeito possa ter se utilizado de uma outra arma", argumenta.
O delegado ressalta que a perícia comprovou que os dois últimos crimes, ocorrido no dia 1º e 14 de janeiro deste ano, foram cometidos com a mesma arma. "Isso demonstra, ao menos indiciariamente, e quanto a estes dois locais, que os crimes vinham sendo praticados pela mesma pessoa", conclui.
Vida e Cidadania | 14:52
Em entrevista exclusiva, concedida à Gazeta do Povo, o ex-comandante Corpo de Bombeiros, Jorge Luiz Thaís Martins, se defende das acusações e nega envolvimento com assassinatos ocorridos no bairro Boqueirão, em Curitiba.