Gravações feitas por câmeras de segurança de estabelecimentos do Centro do Rio, exibidas no "Jornal da Globo" desta quarta-feira (21), mostram o assalto que terminou com a morte de Evandro João da Silva, de 42 anos, coordenador do grupo AfroReggae, na madrugada de domingo (18).
As imagens revelam a omissão da polícia no socorro à vítima e indicam que policiais podem ter liberado os suspeitos e ficado com os objetos roubados. A polícia agora investiga os policiais que participaram da ação, que não resultou em nenhum preso.
Evandro João da Silva era coordenador de projetos sociais do AfroReggae, um grupo cultural do Rio de Janeiro.
O corpo dele foi encontrado por policiais militares na Rua do Carmo, na esquina com a Rua do Ouvidor.
Imagens em 3 câmeras
Investigadores da polícia foram atrás de imagens de câmeras de segurança que existem na rua onde o ataque aconteceu. O objetivo era descobrir os autores do crime. Mas, em vez de esclarecer a história, o vídeo levantou suspeita.
Tudo ficou registrado em três câmeras. Uma delas, instalada em um prédio, mostra a chegada de dois criminosos, à 1h20 da madrugada. Outra câmera, posicionada dentro de uma agência bancária, registra o ataque.
Segundo o registro, os criminosos aparecem lutando com a vítima. Em seguida, eles jogam Evandro, que está de camisa branca, no chão e atiram contra ele. Os assaltantes tiram os tênis e a jaqueta dele e fogem.
Cerca de 30 segundos depois, uma patrulha da Polícia Militar passa direto por Evandro, que agoniza na calçada. A câmera anterior mostra por outro ângulo a fuga dos criminosos, com os pertences do coordenador na mão, e a chegada da polícia.
Um dos policiais aparece com a arma em punho. A impressão que dá é a de que os policiais vão prender os assaltantes. Duas pessoas aparecem pela metade em imagens de um outra câmera. O PM surge com o tênis e a jaqueta vermelha da vítima, e leva tudo para dentro do carro da polícia.
Ainda de acordo com as imagens do circuito de segurança, à 1h26m53s, quatro minutos depois da abordagem, um dos suspeitos aparece indo embora.
Os investigadores agora querem saber porque os policiais não socorreram Evandro imediatamente e também porque um dos homens que, pelas imagens, parece ter participado do assassinato, foi liberado minutos depois.
Além disso, a polícia investiga porque os pertences de Evandro não foram entregues em uma delegacia e, ainda, porque nada do que foi mostrado pelas câmeras está no relatório dos policiais.
Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento na noite desta quarta-feira na Polícia Militar Judiciária. O comandante-geral da PM do Rio, Mário Sérgio Duarte, determinou a prisão administrativa dos dois policiais.
Homenagem
Evandro foi homenageado durante um evento do AfroReggae na noite desta quarta-feira em um teatro no Centro do Rio. O coordenador executivo e um dos fundadores do grupo, José Junior, comentou a morte do colega e a ação dos policiais.
"Choca ver uma pessoa que era um mediador de conflitos, um cara que morou na favela, um cara que só fazia o bem ser assaltado, roubado e morto da maneira que foi. Me choca a polícia não ter prestado serviço, socorro. Me choca a polícia não ter prestado socorro. Isso me chocou muito", declarou José Junior.
Numa cerimônia emocionada, Evandro foi homenageado pelos companheiros do grupo que luta para levar cultura e cidadania a jovens carentes. "O fato de Evandro ter partido não significa sua derrota. Ele foi fazer companhia a outros que antes de nós dedicaram sua vida a construir a paz e a justiça [...] Se um pouco de nós se foi com você, um pouco de você também ficou em nós", disse um colega.
'Agora é ir atrás dos bandidos', diz amigo da vítima
Em entrevista ao G1 na noite desta quarta-feira (21), José Junior disse que está confiante de que o caso será resolvido em breve. Na terça-feira (20), ele assistiu às imagens das câmeras de segurança na sede da delegacia responsável pelo caso.
"Os PMs já estão presos, mas a gente não pode perder o foco que é prender os bandidos, porque não foram os policiais que mataram. Agora é ir atrás dos bandidos. Ele reagiu, mas ação dos bandidos foi covarde. A Polícia Civil tem se empenhado no caso, e estou totalmente confiante que o caso será resolvido em breve", declarou José Junior.