A jornalista Marleth Silva chegou a pedir licença do trabalho para escrever o livro| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

A última etapa jurídica do caso Zanella começa a ser travada no próximo dia 3, quando os quatro policiais (dois deles delegados) acusados de ocultar provas do homicídio e forjar a acusação de tráfico irão a júri na 1.ª Vara do Tribunal do Júri em Curitiba. No dia 28 de maio de 1997, o universitário Rafael Rodrigo Zanella, então com 20 anos, foi morto próximo de casa, em Curitiba, com um tiro disparado por Almiro Deni Schmidt, informante da polícia que participou da abordagem.

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Além do informante, interceptaram o carro de Zanella, que estava com mais três amigos indo jogar futebol, os investigadores Aírton Adonski e Reinaldo Siduovski, do 12.° Distrito Policial (DP). Eles confundiram o estudante com um traficante. Dos três, apenas Schmidt foi condenado pelo homicídio e segue preso.

Conforme a acusação da família Zanella, o delegado Maurício Bittencourt Fowler, o superintendente Daniel Luís Santiago Cortes e o escrivão Carlos Henrique Dias teriam forjado provas para incriminar o rapaz como traficante. Além deles, o atual delegado-geral-adjunto da Polícia Civil, Francisco Batista Costa, à época delegado-titular do 12.° DP, é acusado de falsidade ideológica, por ter trocado os nomes da escala do dia do crime, quatro dias após o homicídio.

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O advogado de Costa, Beno Brandão, discorda da acusação. "O Judiciário decidiu levar os acusados a júri por atacado, mas o doutor Costa não tem por que estar lá", considera. A própria família do rapaz o isenta. "Ao que tudo indica, ele não participou dos fatos, até porque estava viajando na época", diz Elizabetha Zanella, mãe do rapaz.

De acordo com Elizabetha, a idéia de forjar provas que incriminassem seu filho partiu do delegado Fowler. "Ele tentou um acordo com os rapazes que estavam com o Rafael para que eles dissessem que meu filho era traficante. Além disso, ele pôs a arma no colo do Rafael já morto", afirma Elizabetha. Por estar sem advogado, a reportagem procurou o próprio Fowler na Divisão de Infra-Estrutura da Polícia Civil, onde o delegado presta serviços, mas não o encontrou. Foi deixado recado para que ele retornasse, mas até o fechamento da edição isto não ocorreu.

Já Cortes é acusado de disparar contra a viatura com a qual foi feita a abordagem. A intenção seria de criar uma situação de troca de tiros entre Zanella e os policiais. O advogado dele, Osman de Santa Cruz Arruda, discorda. Ele afirma que seu cliente estava jogando futebol com amigos no momento do homicídio e só passou no local. "Quando ele chegou, havia uma multidão em volta. Não teria como ele ter dado este tiro. E como estava com o filho, que deixou no carro, logo foi para casa", argumenta.

O escrivão Dias, por sua vez, teria registrado os fatos de forma distorcida. Segundo a acusação, outro escrivão que estava na delegacia teria se negado a registrar o Boletim de Ocorrência da forma como foi narrado pelos policiais. Dessa forma, Dias foi chamado para fazer o registro. O advogado do escrivão, Antônio Amaral Rabello de Mello, diz que seu cliente não esteve na delegacia antes da meia-noite e meia e que não havia outro escrivão na delegacia. "O plantão era do Dias, que foi contactado somente neste horário", afirma. Mello diz ainda que, ao chegar na delegacia, Dias não teria como saber que os relatos dos companheiros eram falsos. "Ele não sabia que o caso estava sendo maquiado", reforça.