Policiais militares são acusados de ter assassinado, na noite deste domingo (28), com um tiro de fuzil no pescoço, o adolescente Rafael Costa, de 16 anos, em Cordovil, na zona norte do Rio de Janeiro. Policiais do 16º BPM (Olaria) teriam confundido o jovem e seus dois irmãos, de 17 e 19 anos, com bandidos. Rafael teria pegado o carro da mãe, um Fiat Idea, para dar uma volta com os irmãos no bairro por volta de 19 horas e comer cachorro-quente. Ao passar por um buraco na Estrada Porto Velho, o pneu dianteiro do veículo estourou. Segundo o advogado da família, Marcelo Branco, os policiais teriam confundido o estouro com tiros, atirando quatro vezes contra o veículo.
"Eles dispararam quatro vezes no carro. Por sorte, não mataram os outros ocupantes. Só quando se aproximaram é que perceberam que não se tratava de bandidos", afirmou o advogado.
Segundo ele, os jovens são conhecidos e queridos na região. Moradores cercaram os policiais, que deixaram o local.
"As pessoas ficaram revoltadas, e acho que se juntaram ali uns 400 moradores. Os PMs fugiram", disse Marcelo Branco.
Ainda na madrugada desta segunda-feira (29), a Divisão de Homicídios começou a tomar os depoimentos de duas das vítimas e dos oito policiais militares do 16º BPM envolvidos na morte de Rafael.
Segundo os irmãos de Rafael, que estavam com ele no Fiat Idea, os policiais já chegaram atirando contra o carro. Os jovens disseram que, depois do crime, os agentes mexeram no ferimento no pescoço do adolescente e ainda tentaram remover o corpo do local, alegando que Rafael ainda estaria com vida.
Robson Costa, de 19 anos, contou que no carro havia cinco pessoas. Além de Rafael no volante, estavam ele, o irmão Raoni e os amigos Felipe e Rafael. A ideia do grupo era encontrar algumas amigas em uma praça. Ao passarem em frente ao número 4 da Estrada Porto Velho, o carro bateu em buraco, estourando o pneu dianteiro. Nesse momento, segundo ele, começaram os tiros.
"Nem mesmo o pneu eu ouvi estourar, só escutei mesmo os tiros da polícia. Então meu irmão desfaleceu, e o carro bateu em outro que estava na frente. Quando eles mandaram a gente sair do carro e deitar no chão, eu me identifiquei como militar. Os policiais então disseram para ficarmos em um canto. Vi que eles estavam mexendo no meu irmão, no pescoço dele. Depois ainda tentaram tirar o corpo do carro e jogá-lo na caçamba da viatura, como se meu irmão fosse bandido. Foi quando a população chegou e disse que ninguém ia fazer mais nada com o meu irmão. Eles tiveram que se afastar", afirmou Robson, contando o momento em que centenas de moradores revoltados, obrigaram os policiais a deixar o corpo do rapaz no local.
"Uma vida inocente se foi. Meu irmão estava fazendo curso para ser bombeiro. Como um cara vai dar um tiro para cima de um carro com insufilm, sem saber quem está dentro? A primeira coisa que eles tinham que fazer era abordar e pedir identificação. Era só isto", protestou Robson aos prantos.
O pai dos jovens, Walmir Miguel da Silva, de 53 anos, que chegou ao local logo após o crime, contou que os policiais ainda riram dele. "Eu fui conversar com um deles, dizendo que o que ele tinha feito era muito errado. E eles ficaram rindo de mim, debochando", afirmou.
Segundo o advogado Marcelo Branco, o delegado investiga erro policial. "Foi uma abordagem desastrosa. A polícia já fez a perícia no local e fez fotos até mesmo do buraco. Eram oito policiais, mas só dois assumiram a autoria dos tiros e estão em prisão administrativa", comentou o advogado, que também estuda uma ação civil contra o estado, após o esclarecimento do crime.