Jacarezinho Entre oito e 12 policiais militares de Jacarezinho estão sendo acusados de formar uma milícia armada para aterrorizar cerca de 200 famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que estão acampadas próximas às fazendas Itapema e Laranjal, na divisa com o município de Ribeirão Claro, no Norte Pioneiro.
A denúncia foi feita à Ouvidoria Agrária Nacional e à Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp). Segundo os sem-terra, os policiais foram contratados por fazendeiros para fazer a segurança das duas propriedades. Eles estariam intimidando as famílias do acampamento, expondo armas e fazendo disparos, principalmente quando todos estão dormindo. De acordo com um dos coordenadores do acampamento, que pediu anonimato, os policiais se revezam em grupos durante o dia e a noite. No acampamento há cerca de 100 crianças.
Ontem de manhã, a Polícia Civil de Jacarezinho abriu um inquérito para investigar as ameaças que os policiais teriam feito aos sem-terra. Os nomes dos PMs não foram revelados pela delegacia. O advogado Avanilson Araújo, da Coordenação Nacional de Lutas (Coolutas), acompanhou o depoimento de dez acampados e disse que vai denunciar os policiais à Corregedoria da PM, em Curitiba, para que seja investigada a conduta deles. "Somente o fato de estarem trabalhando na fazenda já configura uma ilegalidade. Nenhum policial pode exercer uma função de natureza privada", justifica o advogado.
Os sem-terra estão acampados há cerca de oito meses. De acordo com a assessoria de imprensa do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), não há publicações de laudos sobre as duas áreas, mas isso também não quer dizer que as fazendas ainda não foram vistoriadas. Mesmo assim, o Incra confirmou que existe uma investigação conjunta entre a Ouvidoria Agrária Nacional, a Sesp e o Ministério Público Estadual sobre a possível atuação de milícias armadas no Norte Pioneiro, inclusive com a participação de policiais.
O subcomandante do 2.º Batalhão de PM de Jacarezinho (onde os policiais citados no inquérito estão lotados), capitão Tebas Veiga, disse que não tem conhecimento das denúncias de que policiais militares estariam trabalhando como seguranças em propriedades rurais da região. Porém, ele afirmou que vai se inteirar das acusações e conhecer os detalhes para avaliar o caso e, se for necessário, iniciar uma investigação. "Desconheço esse fato. Mas vamos investigar e se comprovada a culpa dos envolvidos, eles serão punidos."