Belo Horizonte No dia em que o Instituto Médico- Legal (IML) de Belo Horizonte identificou 15 dos 25 corpos carbonizados de presos mortos na madrugada de ontem na superlotada carceragem da 12.ª Delegacia Regional da Policia Civil, em Ponte Nova (MG), a cúpula da Polícia Civil determinou que a Corregedoria assuma o comando da investigação após ter sido levantada a suspeita de que policiais podem ter facilitado a entrada de armas e combustível.
Essa suspeita foi apontada por duas mulheres parentes de dois presos mortos, durante depoimento a cinco deputados da CPI do Sistema Carcerário, da Câmara dos Deputados, que chegou ontem a Ponte Nova para ouvir depoimento de 19 testemunhas, o que aconteceu na Câmara Municipal.
Além das duas mulheres, o depoimento de um policial militar que fazia a guarda na carceragem também contribuiu para que se levantasse suspeitas de que houvesse mais armas na carceragem, e não apenas uma. O PM disse ter ouvido cerca de 20 tiros na cadeia. "Se foram 20 tiros, então, pode ter sido uma chacina", disse o presidente da CPI, deputado Neucimar Fraga (PR-ES).
Foi pedida pela CPI a inclusão das mulheres no programa federal de proteção a testemunhas, sob coordenação do governo de Minas. Em nota, o governo de Minas informou que atenderia o pedido da CPI.
O caso
Consta na investigação que 25 presos da cela nove arrombaram o cadeado e, de posse de uma arma, foram até a cela oito, onde estavam mais 25 presos, alguns de um grupo rival. Os presos da cela nove atiraram contra eles, mantendo-os no fundo da cela, enquanto colocavam fogo em um colchão encharcado com líquido inflamável. O fogo atingiu toda a cela.
Com as suspeitas, o chefe da Polícia Civil, Marco Antônio Monteiro, determinou que dois delegados da Corregedoria Geral de Polícia seguissem para Ponte Nova para assumir as investigações, até então a cargo de dois delegados da cidade. A identificação dos outros dez corpos não foi possível pela arcada dentária e por impressão digital. O exame de DNA deverá ser usado.
Durante o tumulto, a carceragem da delegacia tinha 173 presos, sendo que a capacidade era para 83. O secretário de Defesa Social, Maurício Campos Jr., disse que, apesar disso, "essa realidade tem mudado vertiginosamente". O governo afirmou ter criado desde 2003 11.105 vagas no sistema prisional, mas 5.000 presos condenados, que deveriam cumprir pena em presídios, ainda estão sob a custódia da Polícia Civil, espalhados por delegacias do Estado.