Desde a última semana, quem liga para o 0800 da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Curitiba para repassar alguma informação anônima, não encontra um investigador do outro lado da linha. As ligações são atendidas por um “policial virtual”: uma espécie de disk-denúncia eletrônico (o número é 0800-6431-121), que é operado por meio de um software que grava o áudio da ligação. A DHPP acredita que, sem o contato direto com um agente, o cidadão vai se sentir mais à vontade para contribuir com as investigações.
“Isso deve fazer com que a pessoa que não denunciaria por se sentir constrangida – por ter que conversar com o policial – possa fazer a denúncia. É uma ferramenta ágil de investigação, que pode nos dar um norte, um ponto de partida em muitos casos”, disse o delegado Fábio Amaro, chefe da DHPP.
O disk-denúncia eletrônico funciona como uma espécie de secretária-eletrônica. Após ouvir a gravação de atendimento, o cidadão poderá relatar as informações de que dispõe sobre qualquer caso de violência contra a pessoa – mesmo ocorrências antigas. Salva por um software específico, a gravação será analisada quase que imediatamente por policiais do serviço de inteligência da DHPP. As informações serão “refinadas” e cruzadas com outros dados apurados pela equipe de investigação.
Documentação
As denúncias com procedência comprovada pelas investigações terão os respectivos arquivos de áudio incluídos no inquérito policial e passam a se constituir em indícios documentados. Na prática, o disk-denúncia passa a se tornar mais profissionalizado. Antes do dispositivo eletrônico, o policial que atendia a ligação tomava nota das informações manualmente. Não havia registros.
“Antes, chegava um policial com um pedaço de papel, com uma anotação com a informação. Por exemplo: ‘quem matou fulano foi tal pessoa, por esse motivo’. Agora nós teremos o registro, que pode ser inserido nos autos”, apontou Amaro.
A exemplo do modelo antigo, o “disk-denúncia eletrônico” mantém o anonimato. Ou seja, o cidadão que repassar a informação não precisa se identificar de nenhuma forma, tampouco o software faz qualquer rastreamento de onde partiu a ligação. “É uma via de mão dupla: a sociedade colabora com as informações e nós garantimos o anonimato total”, acrescentou o delegado.
Experiência anterior
A ideia de desenvolver um “disk-denúncia eletrônico” surgiu em 2007. Na ocasião, Amaro era responsável pela Delegacia de Homicídios de Foz do Iguaçu. A cidade tinha um índice de assassinatos de 276 casos por ano e em dois anos conseguiu reduzi-lo a 172 homicídios. “Lá [em Foz] tivemos um aumento vertiginoso do número de denúncias e elas nos ajudaram, sim, a elucidar os homicídios”, avaliou o delegado.