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Grevistas dos Correios fizeram passeata pelo centro de Curitiba | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Grevistas dos Correios fizeram passeata pelo centro de Curitiba| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Dois jeitos de ver o ensino

A cultura e o sistema de ensino brasileiro não valorizam o aprendizado poliglota. Nas escolas públicas do Brasil, a maioria dos alunos começa a aprender uma língua estrangeira – inglês ou espanhol – na 5.ª série, como obriga a lei, mas não consegue deixar a escola falando fluentemente o idioma. A situação não é diferente na rede particular.

Para a professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Foz do Iguaçu, e especialista em coordenação escolar com ênfase em idiomas, Isís Ribeiro, o ensino de idiomas no Brasil sofre percalços políticos e ideológicos. As condições oferecidas na rede pública não são boas, como o tamanho das turmas. Ao mesmo tempo, segundo Isís, a escola defende o discurso de que é necessário saber inglês.

Na visão da professora, o ensino simultâneo de vários idiomas para as crianças não é prejudicial. É até recomendado, pois na infância há mais facilidade para aprender línguas porque a criança tem menos automatismos e aceita melhor o idioma estrangeiro. O ideal é a criança aprenda a grafia dos idiomas estrangeiros depois de ter sido alfabetizada na língua materna. Mas isso não impede que ela comece a ter noções e aulas orais aos 3 anos.

Na Tríplice Fronteira, a maioria das crianças poliglotas são filhas de imigrantes árabes e chineses. Os três filhos da dona de casa Elina Chen, 40 anos – Nádia, Robert e Mônica – têm aulas de todas as disciplinas em português, mas eles começaram a estudar sabendo apenas o chinês. "Quando as crianças estão no Brasil o português é importante. Quando saem do Brasil é o inglês, por isso é bom saber vários idiomas", diz Elina. (DP)

Foz do Iguaçu – Em casa, o idioma oficial é o espanhol e o guarani. Na escola, os diálogos também ganham sons de árabe e inglês. Quando ele liga a televisão ou cruza a fronteira com o Brasil, é a vez do português entrar em cena. É assim o dia-a-dia do paraguaio Rubem Agüero, 12 anos. A rotina do pequeno poliglota, que planeja ser embaixador quando crescer, resume o ambiente universal da fronteira de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, Paraguai.

Com 73 etnias e um número expressivo de árabes, chineses, coreanos, brasileiros, paraguaios, argentinos e indígenas circulando de um lado a outro, a região trinacional do Brasil, Paraguai e Argentina tornou-se laboratório a céu aberto para o desenvolvimento do poliglotismo precoce. Crianças de até 10 anos falam fluentemente pelo menos três idiomas – português/árabe/espanhol; português/ chinês/espanhol; português/espanhol/guarani e ainda estudam o inglês. Algumas delas começam a arranhar as primeiras palavras estrangeiras a partir dos 3 anos.

Com o menino Rubem foi assim. O espanhol e o guarani ele aprendeu com os pais. A televisão e a proximidade com o Brasil se encarregaram de ensinar o português. Em Ciudad del Este, a maior parte das crianças paraguaias desenvolve a oralidade no idioma português por ser atraída pelos programas da televisão. O reforço para falar aprimorar o árabe e o inglês ficou a cargo do colégio.

Rubem começou a aprender árabe aos 5 anos, interessado pelo idioma comum nas ruas de Ciudad del Este. Ele é um dos poucos paraguaios que estudam no Centro Educacional Libanês do Paraguai. A escola é reconhecida pelo Ministério da Educação do Paraguai e pelo Ministério da Educação Libanês. A opção dos pais pela escola bilíngüe foi justamente para que o menino pudesse entrar em contato com culturas diferentes.

O colégio prima pela cultura universal: os alunos assistem a aulas de Matemática e Ciências em espanhol, e aprendem os idiomas árabe, inglês, além do guarani, a partir da 4.ª série. São seis horas de árabe, cinco de inglês e uma de guarani por semana."Há alunos que acabam a 9.ª série e começam a ensinar inglês", diz a secretária do colégio Mona Charaf Edine.

Metodologia semelhante é seguida pelo Colégio Monjolo de Foz do Iguaçu. As crianças também começam a ensaiar as primeiras palavras estrangeiras, em inglês e espanhol, a partir dos 3 anos. "A idéia é trabalhar com a inteligência dos alunos e a língua é uma delas. A criança tem de sair do colégio falando, lendo e escrevendo idiomas estrangeiros com facilidade", diz a pedagoga Maria Lygia Poleto.

Nos corredores da escola, é possível viajar pelo mundo em poucos instantes. Pequenos árabes e chineses falando uns com os outros em português, inglês, chinês e espanhol.

Peter Huang, de 5 anos, aprendeu a falar em casa o chinês e o português. No colégio, já tem aulas de espanhol e inglês. Para o menino, conviver em uma babel de idiomas não é problema. "Não é tão difícil assim aprender", diz.

Algumas crianças que moram em Foz do Iguaçu também cruzam a fronteira para estudar no Paraguai. É o caso de Hassan Rida, de 14 anos. O gosto pelas letras é tamanho que ele não consegue ter preferência por um só idioma. "Gosto mais de inglês, espanhol, português também. Gosto de tudo. Quem colocar na cabeça que quer estudar consegue aprender", diz o pequeno árabe.

Zahraa Chihada, 12 anos, fala árabe, espanhol, português e estuda inglês e guarani. Mas ela não quer parar por aí. Futuramente, pensa em estudar mais um idioma. "Gostaria de aprender francês."

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