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Paranaguá – A política internacional de preservação do meio ambiente começa a expulsar os moradores nativos da baía de Paranaguá. Além de disputar espaço com construtores de pousadas, agora eles precisam competir com empreendedores de projetos financiados por multinacionais. A cada nova área que é transformada em reserva ambiental para compensar a poluição das indústrias – o chamado seqüestro do carbono – os nativos são empurrados para fora das ilhas. Na Ilha das Peças, por exemplo, a comunidade que já contou com 109 famílias hoje é formada por 96, segundo a associação de moradores.

Há dez anos, Gilberto Espinosa, radicado na Ilha do Mel e secretário da organização não-governamental (ONG) Amaré, observa as mudanças ocorridas nas ilhas. De acordo com ele, entidades ambientais arrendam terras para multinacionais criarem reservas e investirem na recuperação da Mata Atlântica. O seqüestro de carbono é um mecanismo de compensação da poluição causada nos países industrializados, uma das sugestões do Protocolo de Kyoto, acordo internacional que visa a redução da emissão de poluentes na atmosfera. "Mas essa é uma política que exclui a população nativa", afirma.

Por aqui, o processo não é muito diferente. Segundo Espinosa, para preservar as reservas naturais, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), responsável pelo gerenciamento das ilhas de Guaraqueçaba, deixa de investir em infra-estrutura. "Não há energia, água e acesso fácil à escola", diz. Das 40 famílias que viviam em Barbados, um povoado de Guaraqueçaba, há cinco anos, apenas 12 permanecem hoje. Atividades como agricultura, antes mantidas nas Áreas de Proteção Ambiental (APA), foram proibidas. Com a pesca limitada e ainda concorrendo com grandes barcos pesqueiros, sobra pouca opção para a sobrevivência. "O comum aqui é os mais jovens deixarem a ilha", diz Alcione Valentim, 46 anos.

Há seis anos Leocádio Dias, 23 anos, saiu da Ilha das Peças e foi para Paranaguá. Aos 17 anos ele tentou construir uma pousada para aproveitar o turismo. Comprou um terreno de um pescador e iniciou a construção, que acabou embargada pelo Ibama. "Alegaram que a obra era irregular, em local proibido e me multaram", diz. A multa hoje é uma dívida de R$ 9 mil, praticamente impagável para uma renda mensal de R$ 700.

A conseqüência do êxodo dos povoados de Guaraqueçaba recai sobre a Ilha dos Valadares, distante apenas 400 metros do centro de Paranaguá e ligada à cidade por uma passarela de pedestres. Nos últimos cinco anos, a população de aproximadamente 22 mil pessoas saltou para atuais 33 mil. "Sem condições de pesca e agricultura, eles acabam vendendo seus lotes abaixo do preço para as ONGs e vêm para cá sem nenhuma perspectiva", afirma o padre Adelir Antônio De Carli, pároco da ilha.

Em Valadares, eles se instalam à beira do mangue, lá constróem precariamente suas casas e passam a viver sem energia, esgoto e água encanada. Diariamente, o padre recebe pedidos de comida, remédio e emprego das famílias que deixaram as ilhas. A miséria também empurra para a prostituição as meninas que mal chegaram à puberdade.

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