Adriano Zaranski, 26 anos, figura entre os 110 alunos da safra 2009 do Studium. Ele é um retrato da nova geração: está antenado com os atuais grandes temas da Teologia como a bioética e a secularização e sente uma pontinha de saudades dos tempos em que os seminaristas passaram a trocar a novena por um comício.
"Gostaria que a faculdade fosse agitada como antigamente, é claro. Mas acho que amadurecemos. Temos novas discussões, como as ligadas à moral", admite o jovem vinculado à diocese de São José dos Pinhais e que desenvolve trabalho pastoral numa rádio da Lapa. Ele se afina à turma dos sacerdotes bons de mídia. "Mas tem quem discorde dessa ala", diverte-se, dando a entender que da porta da faculdade para dentro, como dantes, ninguém diz amém.
Professores do Studium afirmam que o compromisso da Igreja com os pobres continua levando muitos a adotar chinelas à franciscana. Mas a era dos padres de passeata parece descansar em alguma crônica de Nelson Rodrigues. A Teologia da Libertação saiu da adolescência. E os estudantes muitos usando seus clergymen, sem medo da patrulha ideológica andam em tranças com questões mais difíceis do que a mais-valia ou a decisão de morar ou não na favela. Além da bioética, é preciso estudar a cruzada evangélica e equacionar a rigidez católica aos desafios da moral sexual e matrimonial.
"O saldo é positivo. Em outros tempos, em vez de adotar a Teologia da Libertação, o Studium refletiu sobre ela. E assim deve continuar frente às atuais discussões", pondera o padre Marcos Loro, 44 anos, que divide a direção do Studium com o biblista Jaime Sánchez. O bispo emérito de Curitiba, dom Pedro Fedalto, 83 anos e presença constante na casa nos tempos de episcopado, abençoa a tese. "Houve tentativas de criar outra faculdade. Mas a postura crítica dos claretianos me parecia garantia de uma boa formação para o clero", afirma.
Recém-aposentado do Studium, o frei dominicano Eduardo Quirino de Oliveira, 74 anos, professor de História de Israel, enxerga a formação dos padres em perspectiva. Que não se esperem palavras mansas. Brilhante, irônico e sem paciência com quem entendeu engajamento como abandono dos livros, frei Eduardo faz um balanço algo melancólico dos seminários católicos. "Ainda carregamos o peso da expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, no século 18", argumenta, para falar da fragilidade do pensamento teológico no Brasil. E as novas levas de padres trazem uma formação básica ainda pior. "O secularismo invadiu. Estamos perdendo o horizonte sobrenatural do cristianismo e a cultura filosófica do clero é cada vez mais baixa", lamenta.
Então, a "turma da libertação" era mais preparada do que "a turma da mídia"? Frei Eduardo permanece em forma: "Era. Mas a Teologia da Libertação avacalhou demais. Era chinelo de dedo e periferia. Virou uma fórmula, tirando da rota do estudo", alfineta. A aula ainda não acabou.