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A noite da última sexta-feira ficará na memória de pelo menos 10 mil moradores de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Ontem, mais de 48 horas após a chuva que castigou a cidade, a população de 17 bairros ainda contava os prejuízos. A chuva de aproximadamente 30 minutos foi suficiente para atingir cerca de 2,5 mil famílias. Ninguém ficou ferido e não houve desabrigados.

Ontem à tarde, o cenário ainda era desolador nos bairros às margens do Rio Ressaca. Paredes e muros caídos, casas com rachaduras, lixo acumulado nas ruas, roupas e colchões molhados postos para secar. "Em 15 minutos alagou tudo", disse a manicure Rosana Kumiak, 23, que mora ao lado de um córrego no bairro Jardim Aeroporto. "Perdi tudo. Tive que colocar minha filha de 3 anos em cima da mesa para não ser levada pela correnteza."

Na Rua São Luís, por pouco não foram duas tragédias. Assim que a água começou a subir, a dona de casa Alzirene Nanci da Cruz, 64, sofreu um enfarte e teve de ser internada. "Em 2003, quando teve outra enchente, ela denunciou a situação na televisão, mas ninguém fez nada", disse o marido de Alzirene, o segurança Valdemar dos Santos Cruz, 60. Na casa ao lado, foi preciso um barco para salvar Josel Pereira de Oliveira, 42, que depende de uma cadeira de rodas desde que sofreu um acidente. "Saí pela janela e só escapei porque meu sobrinho me tirou daqui com um barco", afirmou. "Foi meia de hora de chuva, mas a água só abaixou lá pelas quatro da madrugada."

Para muitos moradores, a culpa pelos alagamentos é do Aeroporto Afonso Pena. "Eles têm quatro comportas para conter a água. Quando chove muito, eles abrem", comentou um morador que vive na região há 30 anos. Pela assessoria de imprensa, a Infraero, empresa que administra os aeroportos, negou a informação. Segundo a Infraero, não há nenhuma comporta no local e a única obra no Rio Ressaca (na altura em que corta o aeroporto) foi feita em 1997, quando foi construído um canal de drenagem para evitar o assoreamento.

O secretário de Defesa Social de São José dos Pinhais, Ariovaldo de Gouveia, atribuiu os estragos ao volume da chuva. "Em 40 minutos choveu 94,2 mm na região do aeroporto, segundo medição feita pela Aeronáutica. A média de janeiro é de 160 mm", afirmou. Segundo ele, a prioridade ontem era distribuir kits de limpeza para a população. Sábado, as equipes distribuíram alimentos e colchões e fizeram um trabalho de prevenção contra tétano e leptospirose. Ontem, seriam distribuídos mais 400 colchões.

A prefeitura de São José dos Pinhais informou que existe um projeto para retirar 130 famílias das margens do Rio Ressaca, que percorre cinco quilômetros no município. O projeto depende de aprovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que vão liberar R$ 40 milhões para indenizar os moradores. A promessa não parece convencer os moradores. "Pagamos IPTU e cobramos providências, mas ninguém faz nada", disse o eletricista Sidnei José Pinheiro, 47, que teve parte da casa destruída. "A tendência é piorar. Se não fossem os vizinhos, não sei o que faríamos, porque da prefeitura ninguém apareceu por aqui", afirmou o porteiro Gilson Luiz Pinheiro, 30 anos.

Conforme o Instituto Tecnológico Simepar, outras chuvas fortes deverão ser registradas nesta semana. "A princípio o quadro vai se manter, com chuvas não muito significativas. Mas, à medida que o tempo ficar quente, vai voltar a acontecer", afirmou o meteorologista Fernando Mendonça Mendes.

Telefones

Quem precisou entrar em contato com a Guarda Municipal de Curitiba e a Defesa Civil depois das 22 horas de sexta-feira teve de ter paciência. O celular do plantão da Defesa Civil caía na caixa postal. Já no número 156, da prefeitura, ninguém atendia. Ontem, a Defesa Civil informou que o celular, quando ocupado, cai direto na caixa postal. Já a assessoria da Secretaria de Defesa Social de Curitiba informou que o número 156 funcionava normalmente e que foram feitos 17 registros de ruas alagadas na cidade.

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