A notícia de que 15 dos 17 acusados das mortes de 23 mulheres em Almirante Tamandaré, na região metropolitana de Curitiba, vão responder aos processos em liberdade, levou medo à população da cidade. Moradores preferem não comentar o caso e, segundo o Movimento dos Familiares e Amigos de Mulheres Mortas da Região de Almirante Tamandaré, criado para cobrar uma solução para as mortes, as famílias das vítimas deixaram a cidade depois de receberem ameaças.
O habeas-corpus que garantiu a liberdade dos 15 acusados foi concedido, na terça-feira, pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STJ). Outros dois réus, Jean Grott e Juliano Vidal de Oliveira, continuarão presos no Batalhão de Guarda da Polícia Militar, em Curitiba eles também são acusados de participação em um homicídio cometido na cidade vizinha de Rio Branco do Sul.
Em Almirante Tamandaré, a notícia da libertação não só assustou, como revoltou moradores. "Logo, estarão todos aqui de volta. E já tem muito bandido por aqui", disse um taxista que pediu para não ter o nome revelado. "Estão esperando a poeira baixar para voltar a agir." A reportagem esteve ontem à tarde no município e foi informada de que famílias de desaparecidas continuavam na cidade. Nos locais indicados, porém, ninguém sabia do paradeiro dos familiares.
"De uns tempos para cá, o pessoal foi ficando com medo", disse o ex-vereador Luiz Piva, um dos coordenadores do movimento que cobra soluções para os crimes. Para ele, o caso não foi resolvido com a prisão dos acusados. "Várias pessoas foram presas por diversas acusações, mas não havia uma acusação direta contra ninguém", comentou Piva.
Outra integrante do movimento, a auxiliar-administrativa Jussara Alves, lembrou que apenas um caso foi resolvido até hoje. Luciano Reis dos Santos foi condenado a 21 anos de prisão pela morte de Terezinha Elizabete Kepp, então com 38 anos, em 26 de fevereiro de 2000. "Queremos que tirem os inquéritos da gaveta", afirmou Jussara. Segundo o movimento, 35 mulheres foram mortas ou desapareceram no município entre 12 de setembro de 1994 e 5 de maio de 2002.
No mês passado, os casos foram encaminhados para o delegado-titular da Delegacia de Homicídios de Curitiba, Adonai Armstrong. Ele não acredita que haja relação entre todas as mortes. "Não havia um objetivo dirigido e não foi um serial killer", afirmou. "Recebi 15 inquéritos e tem mais um para ser instalado, mas o tempo trabalha contra a investigação. Posso levantar tudo, a autoria e a materialidade, mas em razão do tempo as pessoas podem não se lembrar mais dos fatos ou têm medo de prestar depoimento."