A ocupação irregular adjacente ao lixão na Cidade Industrial (CIC) se proliferou graças a vinda de famílias de outros bairros da capital e especialmente de pessoas oriundas da Região Norte do estado em busca de emprego, no início da década de 1990, quando Curitiba divulgava suas qualidades ao resto do país por meio de propagandas. "Praticamente todo mundo veio de fora, desde a década de 1970, por causa da geada negra. Mas, quando o lixão foi fechado [em 1988], aí o povo do Norte veio em peso", relata o vice-presidente da Associação de Moradores da Vila Angra, Arnaldo da Silva Estevam. Ouvidos pela reportagem, poucos moradores dizem se incomodar com a proximidade do aterro e a maior parte não vê riscos em potencial.
Maria de Lurdes Almeida Custódio, de 56 anos, vive há 19 anos em uma casa a cerca de 25 metros do antigo lixão. Com a residência localizada em uma descida e quase à frente do morro que sofre a erosão, ela diz não temer viver na região. "A gente vê a água levando a terra quando chove, mas não tenho medo de ficar aqui. Eu sairia daqui se pudesse, mas já faz tanto tempo [que moro aqui]", afirma.
Maria de Lurdes conta que procurou a ocupação para sair da casa de parentes, localizada no Pinheirinho. "Eu não tinha onde morar. Soube que estavam ocupando aqui e vim. Construí uma casa em cima do lixão, mas a prefeitura nos tirou de lá. Acabei ficando aqui com a minha sogra", conta.
José Carlos Ribeiro, de 59 anos, vive há 16 anos a menos de 50 metros do lixão. Motorista por profissão, veio de Ortigueira para Curitiba para encontrar trabalho. No local, criou os dois filhos e duas filhas, que hoje continuam a viver nas residências vizinhas, à exceção de um dos meninos. "Comprei o direito de posse e construí tudo aqui. Não tinha como comprar terreno e acabamos ficando por aqui", diz. "Eu adoro morar aqui. A gente escuta comentários de que o lixão pode causar problemas à saúde, mas tem gente que mora bem do lado e nada aconteceu."
Mesmo desconhecendo os problemas, os moradores dizem que, em 2007, uma escavação foi feita na região e um gás liberado pelo antigo lixão causou mal-estar a alguns moradores. De acordo com Patrícia Sottoriva, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o gás liberado foi clorofórmio, ocasionado por uma reação química entre o metano e uma quantidade considerável de cloro depositada no lixão.