População está à margem das decisões

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Cerca de mil pessoas que terão suas vidas diretamente atingidas pelas desapropriações em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, acompanham o projeto de construção da terceira pista com apreensão. Eles são os moradores da área de 857 mil metros quadrados que deve ser desapropriada para a ampliação do aeroporto Afonso Pena.

"Nós ficamos sabendo de tudo pela tevê, pelo jornal. Ninguém veio conversar com nós, para dizer como vai ser, quanto vão pagar e quando. A única coisa que fizeram foi vir medir a nossa casa", conta a salgadeira e confeiteira Vânia Cecília Gerhard, 38 anos. Vânia e o marido, o vigilante Ervin Gerhard Júnir, 37 anos, moradores da região há oito anos, estão preocupados com o rumo que a situação está tomando. "Quero ver quanto vai dar essa indenização. Nós temos uma casa de 147 metros quadrados, com mais 50 metros quadrados de garagem, num terreno de 400 metros quadrados. Tenho três filhos. Quero ver se, com o dinheiro que vamos receber, vou poder comprar uma casa desse tamanho", diz Ger­hard. "Não quero saber de ir morar numa casa geminada", diz Vânia. "Também não quero saber de ir para favela. Tenho medo que toquem a gente para o mato", complementa Gerhard. Vânia também se preocupa com a sua clientela. "Não é só a nossa casa. Eu tenho o meu ponto comercial junto. As pessoas vão me procurar ali", conta.

Aceitação

Enquanto uns se preocupam, outros se resignam. "O que eu vou dizer? Se vão ocupar o terreno, tenho de gostar. Se puder comprar em outro lugar, está bom", diz a pensionista Cecília Camargo, 66 anos. Outros, ainda, comemoram. "Acho bom que vou embora daqui. Não gosto mesmo deste bairro", afirma a dona de casa Carmen Gomes Camargo, 37 anos. "Estamos preocupados se vai dar para comprar outra casa. Mas, no geral, achei bom, porque esse bairro é muito ruim: só tem um ônibus e não tem mercado", diz a estudante Alessandra Barreto Sobral, 18 anos.