Migração
40% dos índios vivem fora de suas terras
O fato de quatro em cada dez índios brasileiros (379 mil) viverem fora das terras indígenas reconhecidas pelo governo indica a necessidade de ampliação e criação de novas terras, mas também aponta para a migração em busca de educação e renda, afirmam especialistas.
Para o professor de Antropologia da Universidade de Campinas (Unicamp) José Maurício Arruti, a migração econômica é uma das explicações para a quantidade de índios fora das aldeias reconhecidas, mas não o único fator. "Tem a ver também com o estabelecimento de núcleos antigos de migração [nas cidades] e com problemas territoriais na origem, que expulsam, principalmente novas gerações", afirma.
Outra possível razão é o fenômeno de reconstrução de comunidades indígenas que acreditava-se não existirem mais. "Observando o aumento de grupos indígenas no Ceará, por exemplo, é de se imaginar que o aumento da autoatribuição tem a ver com a ampliação de grupo indígenas no estado."
Ocas
Em 2010, apenas 12,6% dos domicílios usados por indígenas eram ocas: o tipo mais comum de residência eram casas. De acordo com a pesquisa, dos 505 territórios demarcados no país, apenas 2,9% eram formados apenas por ocas. Já em 58,7% das terras indígenas não havia sequer uma oca.
Os índios no Brasil somam 896,9 mil pessoas, de 305 etnias, que falam 274 línguas indígenas, segundo dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a primeira vez que o órgão coleta informações sobre a etnia dos povos. O levantamento marca também a retomada da investigação sobre as línguas indígenas, parada por 60 anos. O resultado do estudo estatístico supera a literatura antropológica, que estimava em 220 o número de etnias e 180 tipos de línguas indígenas.
Com base nos dados do Censo 2010, o IBGE revela que a população indígena no país cresceu 205% desde 1991, quando foi feito o primeiro levantamento no modelo atual. À época, os índios somavam 294 mil. A pesquisa mostra ainda que, dos 896,9 mil índios do país, mais da metade (63,8%) vivem em área rural. A situação é o inverso da de 2000, quando mais da metade estavam em área urbana (52%).
Um dos fatores que pode explicar o aumento do número de índios é o processo de etnogênese, quando há "reconstrução das comunidades indígenas", que supostamente não existiam mais, explica o professor de Antropologia da Universidade de Campinas (Unicamp) José Maurício Arruti.
Terras originárias
Os dados do IBGE indicam que a maioria dos índios (57,7%) vive em 505 terras indígenas reconhecidas pelo governo até o dia 31 de dezembro de 2010, período de avaliação da pesquisa. Essas áreas equivalem a 12,5% do território nacional, sendo que maior parte fica na Região Norte a mais populosa em indígenas (342 mil). Já na Região Sudeste, 84% dos 99,1 mil índios estão fora das terras originárias.
Para chegar ao número total de índios, o IBGE somou aqueles que se autodeclararam indígenas (817,9 mil) com 78,9 mil que vivem em terras indígenas, mas não tinham optado por essa classificação ao responder à pergunta sobre cor ou raça. Para esse grupo, foi feita uma segunda pergunta, indagando se o entrevistado se considerava índio. O objetivo foi evitar distorções.
A responsável pela pesquisa, Nilza Pereira, explica que a categoria índios foi inventada pela população não índia e, por isso, alguns se confundiram na autodeclaração. "Para o índio, ele é um xavante, um kaiapó, da cor parda, verde e até marrom", justificou.
A etnia Tikúna (AM) é mais numerosa, com 46 mil indivíduos, sendo 39,3 mil na terra indígena e os demais fora. Em seguida, vem a etnia Guarani Kaiowá (MS), com 43 mil índios, dos quais 35 mil estão na terra indígena e 8,1 mil vivem fora dela.
O Censo 2010 também revelou que 37,4% índios com mais de 5 anos de idade falam línguas indígenas, apesar de anos de contato com não índios. Cerca de 120 mil não falam português.
Educação
Nas aldeias, três em cada dez são analfabetos
Embora os índios sejam considerados mais protegidos dentro de suas terras, onde é maior o porcentual daqueles que ainda têm língua própria e são capazes de reconhecer a própria etnia, o analfabetismo é tido como elevado dentro das aldeias.
Dados do Censo de 2010 revelam que a taxa de analfabetismo dos índios com 15 anos ou mais de idade (em português ou no idioma indígena) passou de 26,1% para 23,3%, de 2000 a 2010, acompanhando a redução da taxa entre a população brasileira (de 12,9% para 9,6%). Na área rural, porém, dentro das aldeias, três em cada dez índios são analfabetos (32,4%). Fora delas, o porcentual é 15%.
Na avaliação do estudioso da população indígena e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) João Pacheco Oliveira, os dados revelam a necessidade de mais políticas públicas de educação focadas na diversidade dos povos. Segundo ele, sem escolas indígenas nas aldeias, crianças enfrentam processo "traumático de aprendizado".
Renda
A pesquisa também mostrou que a renda dos indígenas é menor. No total, 52,9% dos índios com dez anos ou mais não têm rendimento, contra 37% dos não indígenas na mesma faixa etária. No entanto, o IBGE destaca que a mensuração da renda é difícil nas comunidades indígenas, já que muitos trabalhos são feitos coletivamente e é comum que a noção de propriedade privada não exista.
Símbolo da autonomia do BC, Campos Neto se despede com expectativa de aceleração nos juros
Após críticas, Randolfe retira projeto para barrar avanço da direita no Senado em 2026
Novo decreto de armas de Lula terá poucas mudanças e frustra setor
Câmara vai votar “pacote” de projetos na área da segurança pública; saiba quais são
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora