A incoerência de se investir grandes volumes de recursos públicos na construção de estádios, enquanto milhares de brasileiros sofrem à espera de um tratamento de saúde, parece resumir bem a avaliação da população sobre a realização da Copa no Brasil.
Uma pesquisa inédita do Instituto Paraná Pesquisas, encomendada pela Gazeta do Povo, cinco meses depois da Copa, aponta que oito entre dez curitibanos desaprovam a aplicação de verbas estaduais e municipais na viabilização do Mundial na capital.
Para 41,5% dos entrevistados, o dinheiro gasto pela prefeitura na desapropriação de terrenos nos arredores da Arena da Baixada deveria ter sido aplicado na área da saúde. Outros quase 20% acreditam que a educação era prioridade, enquanto 8,7% priorizariam a segurança.
"O dinheiro foi investido no ramo privado, não é algo que a população tem usufruído. Se considerarmos, de maneira geral, 30% das pessoas da cidade torcem pelo Atlético e 70% não utilizam o estádio", ressalta Murilo Hidalgo, diretor do Paraná Pesquisas. Para ele, a baixa atratividade das partidas realizadas em Curitiba e a maneira como o Mundial terminou também contribuíram para a avaliação negativa da população. "Ficou a frustração da Copa pelos 7 a 1 (sofridos pela Seleção diante da Alemanha)."
Hidalgo recorda que a necessidade de investimentos na saúde é a principal demanda nacional. "Não é que a segurança melhorou muito, foi a saúde que piorou. As pessoas têm medo de ficar doentes, porque a saúde pública é muito ruim. Esse é, disparado, o principal problema do país." A pesquisa também mostra que educação gratuita de qualidade é um anseio. "Grande parte está na educação privada e isso começa a pesar no orçamento", afirma.
Desapropriações
No final de novembro, a prefeitura de Curitiba entregou ao Atlético Paranaense uma lista de imóveis que devem ser adquiridos pelo clube para pagar a dívida de aproximadamente R$ 16 milhões com o município. O valor é relativo às desapropriações para reforma da Arena da Baixada. Na lista municipal, estão cinco terrenos e conjuntos comerciais. O Furacão pode indicar outros imóveis, desde que interessem à prefeitura e totalizem o valor da devido. Segundo o secretário municipal de Urbanismo, Reginaldo Cordeiro, as alternativas apresentadas pelo clube devem servir para construir creches, escolas e postos de saúde.