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Vazamento tirou moradores da rotina

Quem estava na região do vazamento de gás no Juvevê, no sábado passado, presenciou momentos de tensão e de correria. O Corpo de Bombeiros chegou logo depois que o cano da Compagas foi perfurado e logo pediu para que os moradores e trabalhadores deixassem a região. "Pedimos para que as pessoas não ficassem em suas casas e que fechassem as janelas para o gás não entrar", disse o cabo Nelinton Bodziak, que estava na equipe que atendeu a ocorrência.

Uma das moradoras do edifício Saint James, da Rua Manoel Eufrásio, a empresária Dilceia Nunes, estava se preparando para ir ao casamento da filha. "Quando estava saindo com o carro da garagem, o bombeiro pediu para que não ficássemos em casa. Meu marido, que só ia me levar até o hotel onde minha filha estava, tinha de voltar para buscar o terno dele, e não queriam deixá-lo subir e nem sair com o carro", disse. Ela conta que, a muito custo, conseguiu convencer os bombeiros a subir para buscar o resto dos objetos e para fechar as janelas. "Quando nós chegamos em casa, por volta de quatro horas da manhã, o cheiro de gás dentro de casa ainda era muito forte", lembra.

Ocorrências

Segundo a COC, 1,2 mil notifi­­ca­­ções de defeitos em obras em vias públicas foram fei­­tas no ano passado. Ao to­­do, foram realizadas 19 mil intervenções.

A malha subterrânea dos grandes centros concentra cada vez mais tubulações e cabeamentos, formando um rede complexa e de difícil administração. Em Curitiba, a prefeitura ainda não possui um mapa unificado das estruturas de mais de duas dezenas de concessionárias que atuam na cidade. A cada obra de reparo ou ampliação solicitada por uma dessas empresas, a administração municipal tem de recorrer a cada uma das demais concessionárias atuantes no mesmo local em questão e pedir mapas de canos de água, esgoto, drenagem pluvial e gás, além de fios de dados, energia, telefone e televisão. De janeiro a novembro de 2013, a Coordenadoria de Obras de Curitiba (COC), órgão da Secretaria Municipal de Trânsito, atendeu a 19 mil pedidos de obras em geral nas vias públicas da cidade (entre intervenções subterrâneas e na superfície) e registrou 1,2 mil notificações de irregularidades ou problemas que mereceram fiscalização.

O volume é considerado grande pelo próprio COC. O órgão informa não ter tempo hábil para reunir todos os mapas necessários nos casos de obras emergenciais. As intervenções acontecem antes disso, o que aumenta os riscos de acidentes.

Segundo a prefeitura, o Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) começou a desenvolver ainda no ano passado um projeto de georreferenciamento, ou seja, de mapa unificado de toda a rede subterrânea de Curitiba. Não há, contudo, um prazo para a conclusão do trabalho.

Necessidade

O professor Carlos Hardt, coordenador do mestrado e do doutorado em Gestão Urbana da PUCPR, lembra que a ausência de uma mapa unificado das redes subterrâneas é um problema antigo. "Eu me lembro de haver um projeto nos anos 80 de uma unificação de dados cadastrais, onde cada empresa faria a gestão de sua própria rede, mas teríamos a informação centralizada. Lá se vão 30 anos, e isso nunca chegou a ser feito", conta.

Ele aponta que, além da redução de riscos de acidentes, um mapa unificado também geraria um planejamento mais efetivo, sem desperdício de recursos públicos. "Fazendo um planejamento das obras, pode ser que duas prestadoras de serviço não tenham de abrir duas vezes o mesmo lugar para fazer serviços diferentes. Isso gera uma redução de custo e mais eficiência", afirma.

O arquiteto e urbanista e ex-presidente do Ippuc Luís Henrique Fragomeni diz que a rede subterrânea é muito recente no Brasil, mas que a tendência no mundo todo é mesmo passar tudo para baixo da terra. "Hoje, 95% do cabeamento no Brasil é aéreo. A Copel, por exemplo, aluga os postes para as outras empresas e tem uma receita, enquanto a cidade fica com esse ônus do impacto visual, urbanístico e da mobilidade do pedestre. Curitiba tem hoje cabos no subsolo, na Rua Comendador Araújo, em algumas partes do Centro Histórico e na Marechal Deodoro, mas isso é ainda muito pouco", avalia.

Prefeitura diz que Sanepar causou acidente no Juvevê

A Coordenadoria de Obras de Curitiba (COC) informou, via assessoria de imprensa, que o vazamento de gás causado no Juvevê no sábado passado, foi um erro da empresa contratada pela Sanepar para realizar um reparo na região. Segundo o órgão, a Sanepar não comunicou a Compagas, companhia que tem sua tubulação de gás encanado na região, como deveria.

O caso ocorreu entre as ruas Manoel Eufrásio e Barão de Guaraúna. Funcionários da Humberto A Carcereri e Cia, autorizada da Sanepar, foram chamados para realizar uma desobstrução em um cano da rede de esgoto da concessionária. Durante o processo, acabaram perfurando um cano da Compagas. O quarteirão precisou ser isolado pelo corpo de bombeiros e alguns moradores tiveram de ser retirados de suas casas até que o vazamento fosse contido. Técnicos da Compagas compareceram ao local cerca de meia hora depois. Eles contiveram o vazamento e realizaram o reparo no mesmo dia.

De acordo com o gerente-geral da Sanepar para a Região Metropolitana de Curitiba e Litoral, Celso Thomaz, o cano de gás atravessava perpendicularmente a rede de esgoto, o que causava a obstrução. "Provavelmente uma subcontratada deles deve ter usado um método não destrutivo e acabou causando a obstrução, que chegou a ser de 100% naquele dia", afirma. Entretanto, ele admite que a autorizada da Sanepar errou ao não entrar em contato com a Compagas antes de começar a obra, já que a rede de gás é bem sinalizada nas calçadas e qualquer serviço feito na área deve ser acompanhada de um técnico da companhia. "Como a situação era urgente, já que a obstrução poderia fazer com que o esgoto vazasse na casa das pessoas ou no meio da rua, eles acabaram não ligando para a Compagas", supõe Thomaz.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Compagas admitiu que a tubulação de gás estava, de fato, interferindo na rede de esgoto, mas negou que tenha perfurado o cano da Sanepar. Ela afirmou que a rede foi "construída de forma regular seguindo as orientações da Prefeitura de Curitiba, a qual determinou que no traçado em questão fosse utilizado o método não destrutivo de construção". A concessionária reiterou ainda que dispõe de todo o mapa de sua rede e que, caso um técnico fosse chamado, o problema poderia ter sido evitado.

Embora a COC confirme a tese da Compagas, a Sanepar enviou à reportagem fotos de um cavalete que a companhia de gás teria feito para desviar o caminho do cano de esgoto.

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