A cada hora, seis novos casos de câncer de mama são diagnosticados no mundo. Em 2015, espera-se que 57 mil novos casos sejam identificados no Brasil e cerca de metade daqueles detectados no SUS estarão em estágio metastático avançado, ou seja, espalhado por um ou mais órgãos do corpo e sem chances de cura. Combinados, esses três dados, vindos do Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Susan G. Komen for the Cure e de um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre radioterapia, podem parecer o retrato da desesperança, mas não são. Um conjunto de medicamentos e terapias recentes são a chave para dar mais anos de vida para essas mulheres. O problema é que para pelo menos 20% dos casos de câncer metastático o tratamento mais adequado não está disponível via Sistema Único de Saúde (SUS).
“Entendemos que o SUS tenha as suas deficiências orçamentárias, mas neste caso estamos lidando com uma diferença brutal [de tratamento] entre a mulher que é tratada no sistema público e aquela que tem plano de saúde”, afirma o oncologista Rafael Kaliks, do Hospital Albert Einstein de São Paulo.
Entenda
O especialista explica que cerca de 70% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama metastático têm tumores com receptores hormonais, ou seja, que reagem a terapias hormonais. “A descoberta da hormônio-terapia é algo de três, quatro décadas [atrás]. Mas, ao longo do tempo, novos medicamentos surgiram, permitindo que a paciente seja tratada por mais tempo”. Segundo Kaliks, atualmente, com uma oferta maior de tratamentos hormonais, é possível intercalá-los, tornando o tumor novamente sensível aos hormônios e aumentando o tempo de vida das pacientes.
De acordo com o especialista, a hormônio-terapia é oferecida pelo SUS. O problema está nos 20% de pacientes cujos tumores possuem o gene específico HER 2 +. “São casos mais agressivos, porém tratáveis, a partir de terapia anti-HER”, diz Kaliks.
Entre os medicamentos anti-HER – ou seja, que conseguem inibir o gene HER 2+ – está o trastuzumabe. Ele foi incorporado ao SUS em julho de 2012, mas não está disponível para mulheres com câncer de mama metastático avançado, apenas para pacientes cuja doença está em fase inicial ou avançada localmente. Outros dois medicamentos estão fora do alcance das pacientes do SUS: o pertuzumabe e o T-DM1. São medicamentos que, administrados junto com a hormônio-terapia e a quimioterapia, podem mais que dobrar o tempo de vida da paciente. “São tratamentos que fazem com que uma mulher que há dez anos viveria apenas dois anos passe a viver 5 anos”, ressalta o oncologista. De modo particular, um tratamento como esse é quase impossível, beira os R$ 20 mil mensais.
Os outros 10% das pacientes com câncer de mama, estima-se, têm apenas a quimioterapia como alternativa para ganhar tempo.
Campanha
Com a intenção de sensibilizar a sociedade quanto à necessidade de se tratar o câncer metastático e quanto à necessidade de o SUS incorporar os novos medicamentos para este tipo da doença, é que a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), o Instituto Oncoguia e o laboratório Roche lançaram, em junho último, a campanha “Por mais tempo”.
No site da campanha é possível acessar uma série depoimentos de mulheres diagnosticadas com o câncer de mama de metastático e assinar uma petição para a inclusão de mais tratamentos pelo SUS para esses casos. Até quarta-feira (30), o documento digital tinha o apoio de mais de 128 mil pessoas.