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Dez matemáticos de oito universidades publicaram uma carta aberta à Sociedade Americana de Matemática, organização norte-americana que reúne pesquisadores da disciplina, pedindo que os profissionais da área deixem de colaborar com as investigações dos departamentos de polícia dos Estados Unidos. Segundo eles, seus estudos estariam sendo utilizados para justificar assassinatos e a “brutalidade dos agentes policiais”.
“Dado o racismo estrutural e a brutalidade no policiamento dos Estados Unidos, não acreditamos que os matemáticos devam colaborar com os departamentos de polícia dessa maneira. É simplesmente muito fácil criar um verniz ‘científico’ para o racismo”, escreveram no documento online que, segundo eles, já recebeu o apoio de 1.500 assinaturas.
No texto, os subscritores criticaram os trabalhos do PredPol, sistema de policiamento preditivo da polícia norte-americana que analisa dados de crimes nos Estados Unidos para tentar prever a probabilidade e o local das próximas ocorrências, monitorar suspeitos e distribuir os recursos da polícia de acordo com esses resultados.
Ao Inside Higher Ed, um dos responsáveis pela carta, Tarik Aougab, professor de matemática do Haverford College, admitiu que não tem comprovação empírica de que os dados oferecidos à polícia causem injustiças.
"É uma crença política que colaborar com a polícia de qualquer maneira contribui para a violência e opressão da supremacia branca", disse Aougab.
No fim da carta, eles recomendam que os matemáticos, ao invés de ajudar a polícia, passem a trabalhar em organizações não governamentais antirracismo, vinculadas ao movimento Black Lives Matter, uma das principais entidades responsáveis pela onda de protestos após a morte de George Floyd. Cathy O'Neil, que também assina a carta, é dona da ORCAA, uma empresa que ajuda a avaliar, entre outros dados, os “riscos dos algoritmos criados no policiamento preditivo”.
“Exigimos que qualquer algoritmo com alto potencial de impacto enfrente uma auditoria pública”, afirmam os matemáticos na carta. Essa auditoria poderia ser feita, por exemplo, pela Data 4 Black Lives, uma coalizão de ativistas antirracistas e cientistas de dados, críticos ao trabalho da polícia, mas que também tem sido acusada de apresentar dados enviesados sobre a ação policial.
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