Ministério
Até o fim do ano, mais 80 municípios devem aderir ao programa
O coordenador da Saúde do Homem do Ministério da Saúde, Eduardo Chakora, afirma que a Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem deve atingir mais 80 municípios ainda neste ano. Mas ele ressalta que existem outras cidades desenvolvendo ações voltadas para a população masculina entre 20 a 59 anos com o apoio direto do poder público. "Isso acontece independentemente de recurso destinado para essa finalidade por parte do Ministério da Saúde", diz.
No Paraná, o programa está sendo implantado em Curitiba, Apucarana, Arapongas, Maringá, Ponta Grossa e Foz do Iguaçu. De acordo com o coordenador estadual, Rubens Bendlim, todas as 399 cidades do estado já receberam algum tipo de orientação para priorizar o atendimento à saúde do homem. "Para isso não é necessário uma unidade de saúde específica. Temos que trabalhar a conscientização", diz. Curitiba estuda a construção de uma estrutura própria para atender exclusivamente aos homens. "Mas antes nosso desafio é descobrir como fazer com que o homem participe das ações de prevenção", conta a diretora de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Karin Luhm.
Recursos
Cada estado que adere ao programa nacional recebe por ano R$ 75 mil, e cada município, R$ 55 mil. Esses recursos são utilizados para monitoramento das ações em desenvolvimento, sensibilização do público masculino, material de conscientização sobre agravos e riscos à saúde do homem, capacitação de profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) e implantação do pré-natal masculino.
Violência
As chamadas causas externas foram responsáveis por 118 mil das quase 649 mil mortes de homens em 2010, segundo os últimos dados do Ministério da Saúde. O Mapa da Violência 2012 aponta que, em 2010, dos 49.932 homicídios registrados, 45.617 pertenciam ao sexo masculino (91,4%) e 4.273 ao feminino (8,6%).
"A ideia de que ser homem é ser forte e que doença é sinal de fragilidade faz com que eles não considerem os serviços de saúde como espaços masculinos."
Eduardo Chakora, coordenador da Saúde do Homem do Ministério da Saúde.
Mais resistentes a enfrentar os consultórios médicos e expostos a mais riscos, os homens ainda não contam com uma política pública eficiente para tratar de sua saúde. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, lançada pelo Ministério da Saúde em 2009, está presente em apenas 132 dos 5.665 municípios o que representa 2,37% das cidades do país. No Paraná, seis municípios estão aderindo ao programa.
Dados mais recentes apontam a necessidade de um programa capaz de conscientizar o público masculino a cuidar mais da sua saúde. Segundo o Censo 2010, a expectativa de vida dos homens no Brasil é sete anos menor que a das mulheres (69,7 contra 77,3). A pesquisa, do Ministério da Saúde, aponta que os homens fumam mais, são mais sedentários e se alimentam pior. Além disso, um estudo do Centre for Environment and Health revela que o Índice de Massa Corporal (IMC) do homem brasileiro aumentou quase 14% de 1980 a 2008, enquanto o das mulheres teve um acréscimo menor, quase 8%, no mesmo período.
O resultado dessas constatações é que os homens são vulneráveis a contrair mais doenças e a morrerem mais cedo. Males cardiovasculares, por exemplo, são responsáveis por 29,4% de todas as mortes registradas no país em um ano. Isso significa que 308 mil pessoas falecem de enfarte e acidente vascular cerebral. Destas, 60% são homens, segundo o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
O câncer de próstata também está entre as causas mais frequentes de mortes. O número de óbitos por esse tipo de câncer cresceu 120%, entre 1979 e 2006, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A entidade estima que 60 mil novos casos da doença serão diagnosticados em 2012 no Brasil. "Não há ainda a consciência do homem em fazer exames preventivos periódicos", afirma o presidente da seccional Paraná da Sociedade Brasileira de Urologia, Luiz Sérgio Santos.
Fortaleza
O preconceito da população masculina em procurar um médico é apontado como um fator preponderante nesse cenário. O coordenador da Saúde do Homem do Ministério da Saúde, Eduardo Chakora, diz que os homens em geral apresentam uma maior resistência em buscar os serviços de saúde com regularidade. "Situamos essas dificuldades em barreiras socioculturais e institucionais. A ideia de que ser homem é ser forte e que doença é sinal de fragilidade gera uma compreensão de que os serviços são exclusivamente para os supostos mais fracos, crianças, mulheres e idosos. Consequentemente, os homens não consideram os serviços de saúde como espaços masculinos", ressalta.
O médico João Carlos Simões, chefe do Setor de Oncologia do Hospital Evangélico de Curitiba, constata no dia a dia que o homem se preocupa menos com sua saúde que a mulher. "Enquanto a mulher vai todo ano ao médico, o homem só vai quando sente alguma dor. Para mudar isso deve-se ensinar à população desde criança a importância de fazer exames de rotina", diz.
Justamente pelo fato de o homem demorar mais para se consultar é mais propenso a apresentar problemas de saúde, o coordenador da Saúde do Homem no Paraná, Rubens Bendlim, acredita na importância de um trabalho de conscientização para o público masculino se preocupar mais com seu corpo. "O objetivo é trabalhar principalmente a conscientização do homem para procurar um médico de forma preventiva e para que ele se cuide de forma permanente."
Em geral, só susto muda maus hábitos
Há seis anos, Maurílio Francisco Bastos descobriu da pior maneira possível como é importante cuidar da saúde. Em 2006, a diabete o fez entrar em coma por três dias e passar 12 dias em uma unidade de terapia intensiva (UTI). "Até então eu não sabia que era doente", conta. Hoje, com 52 anos, mudou completamente seus hábitos.
Se antes não praticava atividade física, fumava um maço de cigarro por dia e comia doces e alimentos gordurosos em excesso, hoje essa realidade ficou no passado. Desde que descobriu a doença, Maurílio caminha uma hora diariamente, se alimenta melhor e pratica atividades em uma academia ao ar livre no bairro Xaxim, onde mora. "Cortei frituras e a gordura do cardápio. Como mais frutas e verduras e também parei de fumar há um ano", relata.
Urgência
Maurílio é um dos diversos exemplos de homens que só começam a se preocupar com a saúde após sofrer um susto. Segundo a Secretaria de Saúde de Curitiba, 60% dos atendimentos aos homens acontecem em regime de urgência. Em média são realizadas 903 mil consultas em mulheres por ano e apenas 439 mil em homens. "Isso mostra que o homem não está preocupado com sua saúde e só procura um médico quando sente uma patologia ou dor crônica", afirma a diretora de Epidemiologia da secretaria, Karin Luhm.
Maurílio revela que, se soubesse do drama que ia viver, teria cuidado de sua saúde antes. "Hoje me arrependo de não ter cuidado da minha saúde. Os homens não podem achar que nunca vão ficar doentes." Atualmente, ele faz exames médicos periódicos, a cada quatro meses.
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