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STF pode julgar sobre o tema

Por que as crianças não devem ir a paradas LGBTQIA+

Independentemente do caráter homossexual do evento, as crianças não devem ser expostas a ambientes com conteúdo adulto. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

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Com o argumento de “ideologia homotransfóbica”, o PDT e ONGs LGBTQIA+ entraram com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar derrubar uma lei do Amazonas que proíbe a participação de crianças em paradas gays. Apesar da norma ser vista como homofóbica por grupos da causa, a exposição de menores a ambientes com teor erótico pode colocá-los em risco. As crianças expostas a conteúdos sexuais (homossexuais ou não) se tornam mais suscetíveis a abusos sexuais, acesso imoderado a pornografia e tantos outros problemas psicológicos como dificuldades de aceitação do próprio corpo e em estabelecer relações afetivas no futuro.

A repercussão de um bloco com o tema “Crianças Trans Existem”, na última edição da Parada LGBT de São Paulo, pode ter inspirado a criação da lei amazonense que impede a participação dos menores em eventos semelhantes. Para o PDT, a Aliança Nacional LGBTI+ e a Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas, que contestam a norma em duas Ações Direta de Inconstitucionalidade (ADI), a diretriz criada no Amazonas atacaria “infâncias e juventudes que destoam do padrão hegemônico da sociedade cisheteronormativa”.

Músicas, coreografias e fantasias de cunho sexual 

Independentemente do caráter de orientação sexual do evento, as crianças não devem ser expostas a ambientes com conteúdo adulto. Os eventos de orgulho gay são espaços onde há grandes chances de os menores terem acesso a músicas, coreografias e fantasias de cunho sexual. “É um evento, como outros eventos adultos, que pode conter cenas, situações e comportamentos adultos que não seriam adequados para uma criança”, afirma Fábio Caló, psicólogo especialista em vício em pornografia.

A própria Unicef orienta que os pais não devem expor seus filhos a conteúdos pornográficos nocivos, sejam online ou offline. “O que é conteúdo nocivo? É algo muito amplo e vago. Uma micareta, por exemplo, é um lugar adequado para uma criança estar? Penso eu que não. Pelo volume de pessoas e situações complexas que acontecem ali, seria, em tese, um ambiente nocivo”, explica. Em relação à parada LGBTQIA+, Caló completa que “um contexto que trata sobre algo tão sensível, que seria a luta pelo exercício pleno da sexualidade, é algo comum a adultos, não a crianças”.

Aumento do risco de abusos sexuais 

Leiliane Rocha, psicóloga pós-graduada em sexualidade infantil, ressalta que os pequenos expostos a ambiente erotizado estão mais suscetíveis a situações de abuso sexual. “A criança tende achar que se o adulto faz, ela também pode fazer. Elas perdem a noção do que é permitido ou não fazer. Elas ficam mais vulneráveis justamente porque tendem a repetir aquele comportamento e ter mais curiosidade às sensações do corpo. E, muitas vezes, os abusadores se aproveitam disso”, alerta.

Depois que a curiosidade é despertada, a tendência é que os pequenos queiram saber mais sobre o assunto, seja por meio de pesquisas ou conversas com adulto. Isso pode acabar com que a própria criança instigue um adulto sobre o tema. “E se o adulto é um abusador, ela vai ficar mais vulnerável”, reforça.

A psicóloga também explica que o abuso não está restrito ao contato físico. A criança que já teve contato com conteúdo erotizado também fica desprotegida em relação a conversas sobre o assunto, especialmente em redes sociais. Além da tendência em dar mais atenção a anúncios e materiais sexuais com o objetivo de saciar a curiosidade despertada pelos ambientes eróticos.

Acesso a erotização afeta a formação afetiva infantil 

“Os conteúdos sexualizados suscitam na criança sensações, pensamentos que ela não dá conta de absorver, compreender e traduzir. Como ela não consegue entender aquela situação, ela introjeta, muitas vezes de maneira distorcida. Isso pode acionar na criança impulsos e até comportamentos sexuais que não condizem com a sua idade”, explica Leiliane Rocha.

De acordo com ela, é na infância que acontece a formação da afetividade. Quando bem formada essa afetividade vai ajudá-la a viver a sexualidade de maneira mais saudável. É só na fase da adolescência em que há condições físicas (relacionadas a liberação de hormônios), psicológicas e cognitivas necessárias para a melhor a compreensão dessas questões. Ainda assim, Rocha ressalta que também é preciso ter atenção para identificar quais conteúdos são compatíveis com os adolescentes.

Uso problemático de pornografia 

“É provável que a exposição a esse conteúdo leve ao uso problemático de pornografia no futuro? Sim, é provável que isso aconteça. Porque quando a criança vê, por exemplo, beijos acalorados ou contatos entre os corpos, ela é estimulada de alguma forma e o produto desse estímulo no imaginário infantil não recebe o direcionamento adequado”, esclarece Fábio Caló. Contudo, ele relata que há uma dificuldade, especialmente por questões éticas, para embasar estudos robustos cientificamente que relacionem claramente a exposição de crianças à erotização e ao uso problemático de pornografia.

Segundo a Unicef, problemas de saúde mental, sexismo e objetificação e violência sexual são causados pelo acesso à pornografia por crianças. Em 2020, o relatório da rede EU Kids Online revelou que um quarto dos entrevistados de 9 a 16 anos afirmou ter tido experiências negativas online no último ano – não necessariamente relacionados à pornografia. Segundo a mesma pesquisa, 21% dos participantes da França e 50% da Sérvia relataram ter visto algum tipo de imagem sexual no último ano, como a Gazeta do Povo já mostrou.

“As nossas primeiras experiências, em qualquer área da vida, nos marcam e não seria diferente com a experiência sexual. A maneira como uma pessoa aprende sobre o sexo e como se lança na vida sexual vai dizer, inclusive, o quanto ela é ou não saudável no ponto de vista psíquico”, reforça Caló.

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