Muito antes do horário comercial dar início a um frenético vaivem de gente e veículos, há uma parte de Curitiba que já despertou e aguarda em filas que dobram esquinas do Centro da cidade. É possível encontrar pelo menos quatro delas numa caminhada de poucas quadras, por volta das 7 horas da manhã: Previdência Social, Receita Federal, Delegacia Regional do Trabalho e Polícia Federal. Estão lá (as filas) tão cedo porque só o cidadão que amanhece na frente da porta consegue senha, apenas os primeiros a serem atendidos não perdem o dia todo de trabalho ou, ainda, porque as pessoas estão tão acostumadas que atendimento em serviço público é algo demorado e limitado que preferem não se arriscar a perder a viagem.
"As pessoas vêm aqui para pegar um direito e parece que estão pedindo um favor", resume o oceanógrafo Gildo Bastos, 45 anos, na fila da arrecadação da Previdência Social. Os "enfileirados" reclamam, e muito, de precisar estar às 5h30 na rua, de ficar na fila mais de duas horas só para receber uma informação e pegar um papel, de ter de voltar várias vezes para resolver um problema e de aguardar meses pela entrega de um documento importante ou, pior, por uma consulta médica, como aconteceu com a dona de casa Agnela Fagundes, de 79 anos. A fila dela não foi de horas, mas de sete meses de espera por uma consulta com um cardiologista do SUS (Sistema Único de Saúde). "Se a coisa aperta, o freguês morre esperando", diz.
Parte das queixas da população aparece nos números da procuradoria dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal. Segundo o procurador Sérgio Cruz Arenhart, são cerca de cem reclamações por mês sobre serviços públicos (neste caso, só os federais) na região de Curitiba em torno de 80% questionando a demora, deficiência e insuficiência no atendimento e na resposta do serviço demandado. Assim como são comuns a diferentes órgãos os tipos de reclamação, também são semelhantes as justificativas apresentadas pelas chefias. Faltam funcionários, equipamentos e espaço físico para a demanda que eles atendem. Ou seja, a solução depende de dinheiro.
Em alguns locais, como no INSS, foram feitas alterações internas na organização do atendimento na tentativa de melhorar o serviço. O órgão, por exemplo, trocou a limitação de senhas, que fazia a fila começar no início da madrugada, por um atendimento ilimitado que demora cerca de duas horas para marcar um retorno com hora agendada. "Medidas deste tipo amenizam o problema, mas não duram muito tempo. Amanhã ou depois há troca de chefia e volta tudo à estaca zero. Solução só haverá quando mudar a mentalidade da administração pública e o comando em todas as esferas não for mais baseado em indicações políticas", sentencia o professor de Gestão Pública da UniFae, Rogério Koscianski.
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