Por que o Rodrigo e não eu?

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"O Papa Bento XVI já está no Pacaembu." Com a frase, todos os jovens no estádio gritaram como puderam. Era o início do momento mais esperado do dia. Ao meu lado, pessoas dos mais diferentes estilos. Era o "vale tudo": perucas, bandeiras, faixas, lenços. Brasileiros tiravam fotos com argentinos, paraguaios e venezuelanos. Uma amiga, entre uma ola e outra disse divertida: "a última vez que estive aqui foi para o show do Iron Maiden e do Helloween (banda de rock alemã)". A afirmação demonstra bem o colorido de tribos entre padres e freiras. Aliás, a concentração de sacerdotes por metro quadrado era enorme, até na fila do banheiro.

A chegada do Papa foi barulhenta. Graças a um binóculo pude ver que a comoção dos jovens contrastava com a serenidade de Bento XVI, do alto dos seus 80 anos. Quando se anunciou que um tal de "Rodrigo" iria recepcionar o Papa em nome dos jovens um grito bem-humorado saiu da multidão, "por que o Rodrigo e não eu?".

Junto do lúdico, o sério. Os jovens falaram ao Papa sobre os problemas brasileiros, o desejo que a vida seja respeitada desde a fecundação. Fizeram um pedido de ajuda para viver o amor verdadeiro e agradeceram a encíclica "Deus é amor".

O Papa correspondeu ao carinho com expressões como "desejei ardentemente encontrar-me com vocês" e "um abraço bem brasileiro a todos", fluentemente. Exceto Jesus, que para ele, era "Jêsus". E passou a sua mensagem, interrompido inúmeras vezes com aplausos e gritos. Quando falou da vida, não citou o aborto como se esperava, mas a importância dos jovens não "perderem o tempo da sua liberdade" com mediocridades. Quer que os jovens estudem, entendam de filosofia, para "não serem presas fáceis do materialismo e do laicismo". Citou a coerência na vida profissional – yes! – e a importância da honestidade – será que os políticos brasileiros escutaram isso?

No fim, todos saíram entre cantos e danças, alguns direto para passar a noite do Campo de Marte. Eu interrompi meu trajeto para escrever este depoimento. Como os outros, ávida de uma excelente pizza paulista e de curtir o Papa um pouco mais amanhã.