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Violência

Por que pais matam os filhos? Filicídio: um crime, um tabu

Marco Antônio Vieira Leal matou a filha de 2 anos para se vingar da ex-mulher | Marco Antonio/ Gazeta do Povo
Marco Antônio Vieira Leal matou a filha de 2 anos para se vingar da ex-mulher (Foto: Marco Antonio/ Gazeta do Povo)

"Não sei o que aconteceu. Eu tive um surto por causa dos remédios. Não tinha planejado matar minha filha. Agora espero que a Justiça seja feita comigo." Essa foi a declaração dada ontem por Marco Antônio Vieira Leal, 36 anos, autuado em flagrante pelo homicídio qualificado por motivo torpe da filha mais nova, Vitoria, de 2 anos. Na terça-feira, Leal levou os três filhos para passear na zona rural de Roça Nova, em Piraquara, quando, por volta das 17 horas, disparou contra a menina na frente dos outros dois filhos, de 5 e 7 anos.

Em seu depoimento, ele alegou ter cometido o crime para se vingar da ex-mulher, mãe das crianças. Depois, afirmou ter sofrido um surto psicótico por causa dos remédios de uso controlado que consome. Conforme o delegado Guilherme Fagundes, responsável pelo caso, Leal permanecerá detido na delegacia de Piraquara enquanto aguarda o fim do inquérito policial, cujo prazo é de 10 dias, para então ser encaminhado ao Complexo Penitenciário.

O assassinato da menina pelo próprio pai causou comoção e revolta entre a população local, que tentou incendiar a residência de Leal. O episódio traz à tona uma questão pouco discutida e de difícil compreensão: o filicídio, ou o assassinato de filhos.

Absurdo

Contrariando a ideia de que o amor paterno e materno é incondicional e inquestionável, o filicídio viola leis e normas estabelecidas moral e socialmente, tornando-se um tabu. No entanto, é um crime bastante antigo, aparecendo já na mitologia grega através de Medéia, mãe que, conforme o dramaturgo Eurípedes (século 5 a.C.), mata seus dois filhos para se vingar de Jasão, o marido traidor.

Doutora em Psicologia e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lídia Weber explica que a maioria dos casos de filicídio ocorre em cinco situações específicas: em episódios de surtos psicóticos; quando os pais não desejam a criança; quando a motivação do crime é vingança contra o cônjuge ou ex-cônjuge; por negligência ou descuido; e quando o filicida acredita estar fazendo algo benéfico para o filho, nesses casos, geralmente o pai ou a mãe comete suicídio na sequência.

Em 2009, o Centro de Prevenção contra o Suicídio, da Universidade de Manchester, na Inglaterra, mapeou os estudos sobre filicídio dos últimos 20 anos e, a partir dos resultados, elaborou estatísticas mundiais. Descobriu-se que os homens respondem pela maioria dos filicídios.

Pesquisa realizada nos Estados Unidos com base em assassinatos de filhos entre 1958 e 2002 revelou que os pais respondem por 67% das mortes e as mães, por 33%. Outro levantamento, nos Países Baixos, também verificou a predominância de 55% dos homens enquanto autores de filicídios entre 1953 e 2004. Enquanto 50% dos pais tiram a própria vida após assassinarem um filho, entre as mulheres o suicídio ocorre em 22% dos casos.

Verificou-se, também, que os pais tendem a matar crianças mais velhas, com 8 anos de idade em média, enquanto as mães filicidas costumam matar bebês mais novos, com até 4 anos em média – em muitos casos em decorrência da depressão pós-parto.

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